Giovana era uma garota de dezesseis anos. Era muito bonita, chamava a atenção de todos no colégio onde cursava o terceiro ano do segundo grau. Tinha um corpo de mulher. Mulher nova, é claro, mas era um corpo de mulher.
Seus pais a enchiam de mimos. Filha única era tratada como uma princesa.Quase nunca ouvia um não.
Era ardilosa, envolvente e costumava dizer que conseguia tudo que queria.
Naquele ano, Giovana começou a faltar às aulas.
Saía no intervalo e sempre ia com algum “amigo” para um parque perto dali, para namorar. Não tinha namorado fixo, mas gostava de beijar vários garotos.
Todos apaixonados por ela. Ela não. Podia ser o garoto mais bonito da escola. Não adianta, ela não se apaixonava.
De tanto faltar às aulas, começou a tirar nota baixa, principalmente em Biologia.
O professor, um homem de aproximadamente 50 anos, gordo, careca e com uma aparência nada agradável, começou a cobrar a presença de Giovana em suas aulas.
Giovana, não acostumada a cobranças, tentou entrar em acordo com o professor.
Pediu-lhe que não contasse nada a seus pais.
Ele, irredutível, apresentou uma única saída para ficar quieto:
– Saia comigo Giovana!! E eu juro que não conto nada a ninguém!
Como Giovana estava concluindo o segundo grau, e no próximo ano queria prestar vestibular, resolveu aceitar. Afinal, não era moça dada a pudores mesmo. O que seria mais um? Principalmente se este um havia lhe prometido notas altas em seu boletim?
O caso começou.
Giovana dizia aos pais que sairia com as amigas, mas ia com o professor ao motel.
No começo achava aquele homem nojento, sem atrativo nenhum.
Com o tempo foi se acostumando. Uma vez por semana os dois se encontravam.
Em casa, o professor dava uma desculpa qualquer para a esposa. Ora era reunião de professores, ora era algum problema que tinha que sair para resolver. A esposa fazia vista grossa, mas já desconfiava que o marido estivesse de caso com alguma sirigaita.
No motel, ele não dava folga para Giovana. Era como se quisesse castigá-la por ser tão bonita, tão desejável. Ela mal conseguia tirar a roupa e ele avançava sobre ela. Sobre aquela carne macia, tão jovem. Como há muito tempo ele não experimentava.
As notas, no final do bimestre, deixavam os pais dela orgulhosos do empenho da filha. Contavam para todo mundo como Giovana era estudiosa.
– Ela mal sai de casa. Só uma vez por semana pra ir ao cinema com as amigas!
Era o que seu pai dizia.
Com o passar dos meses, o professor foi se envolvendo cada vez mais. Estava terrivelmente apaixonado. Era como uma sentença de morte. Sabia que não conseguiria mais viver sem Giovana. E não queria que ela fosse de mais ninguém.
O ciúme começou a tomar conta do homem. Mal podia controlar.
Quando avistava Giovana conversando com algum amigo ou colega da escola, ficava louco. Se enfurecia.
Nos encontros semanais, o sexo deu lugar às brigas. Eram muitas cobranças, Giovana não agüentava mais. Não queria que ninguém a vigiasse.
Em alguns encontros, ele chegou a se tornar agressivo. Nunca bateu nela. Mas gritava muito. Depois ela dava um jeito de acalmá-lo e eles terminavam fazendo as pazes, na cama.
Chegou o final do ano. Giovana estava aprovada em todas as matérias. As notas mais altas eram em Biologia.
Como não precisava mais do professor, acabou lhe dispensando. Isto mesmo. Como uma roupa que havia saído de moda.
Este por sua vez, foi abatido por uma terrível depressão. Não comia mais, não dormia direito. Deixou a esposa desesperada, sem saber como ajudá-lo.
Só pensava em Giovana. Nada mais importava.
Um dia resolveu dar um basta.
Ligou para ela e disse que gostaria de encontrá-la uma última vez.
Depois de ameaçar contar tudo para seus pais, no auge do desespero, conseguiu convencê-la a ir ao motel mais uma vez.
No motel, ela transou com ele pela última vez e deixou claro que não cederia mais a chantagens. Quando terminou de se vestir para ir embora, ouviu uma última frase:
– Giovana! Eu te amo!
Quando se virou, pode ver que ele segurava uma arma, apontada para a própria cabeça. Não conseguiu nem gritar, e ele apertou o gatilho.
Giovana saiu correndo do quarto antes que alguém da administração ou até mesmo a polícia chegasse.
No dia seguinte a notícia se espalhou:
– Homem encontrado em motel, com uma bala na cabeça.
Todos na cidade comentavam o caso.
As colegas ligavam para contar o que acontecera. Todos sabiam que alguém estivera naquele quarto com o professor, mas ninguém imaginava que pudesse ser Giovana.
Dissimulada como era, fingia surpresa.
Dois dias depois, foi o enterro.
A turma do último ano do colégio compareceu em peso, inclusive Giovana.
Ninguém jamais imaginara que ele estava no caixão por sua causa.
No final do enterro, quando todos iam embora, somente a esposa permaneceu junto ao túmulo, chorando.
Ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Morrer daquela forma, num motel? Quem será a sirigaita que estava com ele?
Apesar de toda revolta pela traição, chorava por amor, por saber que não teria mais o seu companheiro.
Quando saía do enterro, Giovana, que era amparada por um de seus amigos, olhou para trás e deu um discreto sorriso. Pensou consigo mesma:
– Vai, velho nojento! Ainda bem que você morreu!
De lá seguiu para um parque, para passear e namorar, com o seu novo amigo. |