ONG CIBERNÉTICA

Desde quando comecei a me debruçar sobre esta "janela para o mundo" que é a web, nunca injuriei ninguém, pelo contrário, sempre procurei destacar o valor de quem o possui. Obviamente, não há nenhum mérito nisto; é apenas o meu dever e minha obrigação. Contudo, infelizmente não se pode negar ser uma atitude rara. Pois o que se observa são pessoas de excepcionais qualidades vegetando no ostracismo, quando não são vítimas de injustiças clamorosas enquanto ficam entregues à própria sorte. Por outro lado, a grande mídia monopolizadora se contenta apenas em destacar a mesmice, evidenciar a mediocridade, divulgar a fatuidade, enfim em inverter qualidades, porque isto lhe traz maiores lucros. Gostaria de nunca deixar de agir assim e que outros me acompanhassem, pois lutar para reparar iniqüidades faz bem à alma e ao coração. Mas por outro lado, a população menos instruída, constituindo maioria, cerceia a demanda por produtos de boa qualidade cultural que, por sua vez estimula o surgimento de mais mediocridade, mais ignorância maior fatuidade. Fecha-se assim um terrível círculo vicioso. Além de tudo, como a sede de auto-afirmação não tem limites, resta apenas, aos inescrupulosos, fartar-se à custa do talento alheio - fato que vem acontecendo na internet, em progressão exponencial -, através de cópias descaradas do trabalho intelectual que não lhes pertence, e que nem o nome de plágio mereceriam ter, tão cínico tem sido este banditismo. Quando nos subtraem bens materiais nos revoltamos com justa razão e para isto é que existem as delegacias de furtos e roubos. Todavia, quando nos retiram algo que contém a nossa própria essência anímica; aquilo que foi elaborado com a ferramenta mais pessoal, poderosa e
exclusiva que é a nossa mente; uma coisa tão nossa que ninguém jamais e em nenhum lugar criará outra igual, torna-se uma atitude simplesmente intolerável. O sentimento de perda é infinito porque é definitivo. Nunca mais aquele "bem" poderá ser reposto. O carro roubado, a casa incendiada, o cofre arrombado, os cristais partidos, mais cedo ou mais tarde serão reavidos. Nunca, porém, o objeto da nossa CRIAÇÃO intelectual. Criação! Se algum poeta refletisse acerca do valor intrínseco desta palavra, jamais escreveria um poema iconoclasta contra a vida. Para mim, é ela a única justificativa para alguém estar hospedado neste planeta. Contudo, quantos palermas bem postos na vida e que se dizem "bem nascidos", nunca mostraram a que vieram! Preferem o meio odioso de se autoafirmarem à custa do trabalho intelectual do outro. Como definir alguém portador de tão abjeto defeito? Cleptomaníaco do talento, punguista da inteligência, vigarista do intelecto, estelionatário do sucesso? Dentre os desvios do caráter é possível conviver com o tíbio, com o inepto, com o indolente, com o estúpido, com o invejoso e até com o hipócrita, mas é impossível tolerar o PLAGIÁRIO, pois este, além reunir todas as "qualidades" supracitadas, comete um ato irreparável. Talvez somente comparável ao comportamento do caluniador. Para estes ladrões da CRIAÇÃO e da HONRA alheias não deveria haver perdão!

Desde que me entendo por gente, os fatos me acontecem como numa gangorra. É uma espécie de biorritmo. Quando menos espero surge um fato novo. Uma surpresa. Agradável ou não. Sobre isto, em contraposição ao "Poema Em Linha Reta" de Fernando Pessoa, escrevi a minha versão que julguei mais adequada, o "Poema Em Ziguezague", o qual é uma demonstração em forma de versos deste sobe e desce que tem sido a minha vida. Hoje de amanhã, ao despertar, surgiu-me subitamente uma idéia. Por que os escritores, poetas, formatadores, enfim todos aqueles que criam na web não se organizam a fim de combater a pilhagem? Penso que a maneira aleatória como isto vem sendo praticado só causa confusão, dispersão, desorientação, conflitos e até ansiedade nas vítimas e nos falsos acusados. Enquanto isto os verdadeiros meliantes deitam e rolam. E auferem os seus lucros vultosos. Se nos organizássemos, ainda que extra-oficialmente, teríamos mais chances, não de destruir, pois isto é impossível, mas de desmoralizar e, quem sabe, punir, estes Ladrões do Talento. Obviamente isto não viria solucionar o problema, mas certamente diminuiria a sua incidência. E assim deteria milhares de vezes mais chances de resultar eficaz pois se trata de uma alternativa racional a fim de se combater com método e organização toda pessoa, site, ou seja lá o que for, que esteja a subtrair a criação intelectual alheia. Os lunfardos pensariam mais de uma vez antes de cometer o delito que hoje perpetram tão descaradamente. Reitero que da forma como se está a praticar atualmente, tudo fica desorganizado, disperso e, algumas vezes, arrisca-se a confundir o que é DENÚNCIA SÉRIA com aquilo que é mera especulação, comportamento obsessivo e, até mesmo, difamação e calúnia. Porque isto infelizmente também existe. Então por que não criarmos uma espécie de ONG - Organização Não Governamental – a fim de denunciar, divulgar, desmascarar e, se for o caso, processar os plagiadores?

Raymundo Silveira 

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