CÍRIO DE NAZARÉ, BELÉM
O rio passando... o rio parado.
Estático, às margens, olhando passar...
A fé flutuando; descalço ou calçado
O crente avançando, caminho a forçar.
Misticismo estranho permanece no ar.
As cordas humanas de braço enlaçado
Balões nas janelas, as tiras a voar,
E o rio descendo, multicolorado.
Agora uma corda, de fato uma corda,
Com mãos segurando esse cânhamo
grosso
No ondeio barrento que as margens aborda.
Um tersa embiara de humanos e dores
A corda emultura — serpente colosso —
A imagem da Santa coberta de flores.
THE
Um dia Selenh Medeiros
(poetisa de muito valor)
dedicando à minha Thereza
um livro de sua autoria
(dela, Seleneh Medeiros)
escreveu na dedicatória,
em vez de Thereza, The,
assim como abreviatura,
apelido carinhoso
aliás, bastante original.
Acontece que eu comprei em Manaus
Uma lata de chá de jasmim
Em que me nutro, para doçura
(da alma) e para emagrecer,
e lá eu deparei, em inglês,
nesse produto chinês
da Societé Nationale Chinoise
Pour l'Importation et l'Exportation
De Thé et de Produits Indigènes
(sucursal de The a Faukien),
com o mesmo nome de The,
significando chá, justo chá de
jasmim.
Acontece que a minha Thereza
(a quem chamo também de Birizinha),
mulher santa e pura como um chá de jasmim,
me lembra justamente isso,
até porque amarela é,
mas não desse amarelo doentio
das pessoas enfermiças ou enfermas,
mas daqueles chás rosas-chá,
justo como sempre a chamei;
e é calmante e meiga nas minhas horas
aflitas
e me sabe bem, me sabe bem
quando a tomo com amor e ternura
o coração cheio de pureza e confiança
reconciliando-me com as mulheres e com a terra
onde a candura existe — tem de existir, senhores,
estou cansado de lutar — tem de existir, mulheres.
Desde então eu tomo The das três,
ou das cinco, ou da noite,
porque a Birizinha é muito meiga
perfuma e enfumaça minhas chávenas
de porcelana,
que nada mais que isso são as minhas crenças,
a fé que eu possuo no ser humano,
e a razão de ser eu tão alegre
por fora,
correndo agitado sobre o barro vermelho
com os olhos cheios do verde no planalto
e do céu nuveado, cortado por aviões
a jato,
e das casas branquinhas, e do mundo brilhante,
bonito, bonito onde a beleza
está em tudo, até no fedor.
— Boa tarde, amigos, eu tomarei um The
na taça dos lábios da minha mulherzinha
que fará decerto uma careta
e perguntará que bicho te atacou, menino?
E, correndo, irá contar mais essa proeza,
Do seu assunto predileto — (ao lado de repartição).
Tranco-me em arte. Enfrento as tempestades
Que desabam dos céus por sobre mim.
Ando correndo em busca de bondades,
Apavorado com tudo que é ruim.
A minha vida é eternamente assim
Desde a mais tenra às próximas
idades.
Encontrar a alegria: este é meu fim,
E que a sombra não turve amenidades.
Quero os clarões da calma e da alegria,
A coragem como asa em manhã fria,
E um gongo de ouro soando aos meus ouvidos.
E não quero saudade na minha alma
De tamareiras verdejantes palmas
Que abrigam doces frutos dos meus idos.
O mar! O mar! O mar! O mar está cansado...
— Como sabes? — A espuma... A espuma amarronzada.
É como a de um cavalo exaurido, estrompado,
Que correu sem parar ao longo de uma estrada!
Assim podemos ver o seu dorso azulado
Como uma cobra enorme e desenovelada.
— O mar é como um céu liquefeito
e pesado,
E às vezes é mulher a imprecar,
desvairada...
É verdade. De noite ele rolou milhares
De quilômetros e tangido pelos ares
Às praias veio dar, nessa jornada infrene.
É como o nosso andar ao longo de uma vida...
Naufrágios, tanta coisa estranha acontecida...
Por quê? Para quê? — Nosso
destino é um N...
Descendo nágua verde
Desse braço de mar
Um corpo misterioso
De bruços a flutuar.
Tinha passado a noite
Decerto a navegar.
Era agourento e fofo
Do dia ao dealbar.
A sirene na lancha
Que o foi dágua tirar
Lembrava o desespero
De alguém, louco, a gritar.
O vento enregelado
Pelotões a passar
Fazia, sobre as águas,
Em chicotadas de ar.
Castanhos eram os olhos.
O rosto tinha o esgar
De quem previra a morte
— Quem sabe em que lugar.
A polícia de Greenwich
Passara a investigar
Aquele caso estranho
Que a vinha desafiar.
Jo-Jo, o detetive,
Já fizera esvaziar
Os bolsos, e notara
Detalhe singular.
O rosto era tristonho,
Parecia sonhar.
Isso transparecia
Mesmo através do esgar.
O comissário Bob
Entrou a meditar
Se era acidente ou crime
O caso a investigar.
Chamaram Mr. Marcos
ara testemunhar;
Ficou embatucado,
Nervoso, a gaguejar.
Mas disse que o sujeito
Não lhe era de estranhar
E com toda a certeza
Já o vira em algum lugar.
Como hóspede do hotel
Mandaram me chamar,
E à bela americana,
A de recepcionar.
Olhei e logo soube
Quem era de ali estar.
Mas nada tinha ao Bob
E ao Jo a relatar.
Sabia quem matara,
O tipo singular:
Fora essa americana
com o seu celeste olhar.
Voltamos. Insolúvel
O caso foi ficar.
mas eu sabia ao certo
Quem morrera no mar.
Aquele corpo fofo
Que estivera a flutuar
Era eu, era a minha alma
Que ali fora ficar.
Em Greenwich ficara
Connecticut a amar.
Jamais esqueceria
Aquele belo mar.
E ao vento frio e leve
Naquele ideal lugar
Fiquei, naquele corpo
Que acharam a flutuar.
Tá feia! Saia curta, barriguda,
Blusa curta, de vassoura na mão,
Suada, olhos brilhantes, bem parruda,
É linda, minha gente, é linda,
não?
Como né linda? É linda e muito!
São
Dela um sorrir maroto e uma unha aguda,
Dessas de beliscar — ai!, quem me ajuda?
Agora está com ar de dar beijão.
Tá feia! E por que fico corridente
Se a vejo junto a mim? Serei demente?
Calipígia dos úberes vacuns.
Não entendo mais nada. Me aposento
De decifar-me, pois nisso eu sou lento,
Não me entendem também dezenas
de uns.
A vida é como um trem que vai passando;
Cada vagão é um ano transcorrido,
Puxado por um coração sofrido,
Aos poucos da estação se distanciando.
Esses tablóides cheios vão rodando
Nos trilhos do mistério indefinido,
Levando histórias do que foi vivido,
Do infante ao vento que já vai findando.
Às vezes passam mais de oitenta ou cem
Vagões repletos de produtos vários
(O conteúdo vivencial do trem)
E sempre apita um derradeiro adeus
Como se fosse um som de Stradivarius
Se despedindo dos amores seus...
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Atuação no Senado e na Câmera |