Urhacy Faustino

Brasileiro, nasceu em Cândido Mota, interior de SP e vive no RJ. Estuda Interpretação teatral na Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio). Tem onze livros editados: em poesia, Os Lírios negros (96), Nus anos 80 (88), Laços e embaraços, com Mário Matos (89), Só se for a 2, com Leila Míccolis (90), Olhos rasgados (94); Estalos, também com Leila (97), Sonhos e Confiscos (97), Gênese revisitada (99); em literatura infantil,  Bom dia sol, boa noite lua, com Sandra Mara Amaral (89) e O pulo do sapo, com Cláudia Pacce (91),  já em 7ª edição, Ed. Moderna. Em romance, Colibri deflora os chats — Sexo, Amizade e Amor pela Internet (97), Gênese Revisitada (99). Com Leila Míccolis edita Blocos - jornal cultural alternativo, em dois formatos: impresso e revista eletrônica.

Páginas na Livraria Virtual: http://www.blocosonline.com.br/editora/blli0054.htm
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Crítica do romance : "colibri deflora os chats - sexo, amor e amizade pela Internet", editado pela Blocos em 1997,
publicada no Jornal O Globo, Caderno "Informática, etc.", fls, 7, em 14/04/97:




"UM ROMANCE PARA QUEM GOSTA DE SEXO VIRTUAL / A Linguagem Típica dos Chats Conquista Espaço Na Literatura

Sabe quando seu computador está preso na assistência técnica e você  está com saudades de um bom chat ? Pois o livro "Colibri deflora os chats", do poeta e artista plástico Urhacy Faustino, é  uma boa alternativa para esses momentos de desespero.

Trata-se de um romance escrito na linguagem característica dos chateiros. Ou seja : jogo rápido, com comentários breves, abreviações, gracinhas, emoticons. Como também é  comum nas salas virtuais, não há preocupação com as normas do idioma, e muito menos com a digitação. Na agilidade dos diálogos curtos, Urhacy Faustino apresenta seus personagens e consegue criar tramas com poucas trocas de mensagens. Não é  tarefa fácil, mas ele se defende bem. A história corre basicamente por conta de Colibri e seus namoros virtuais. Não por acaso, o subtítulo é  "Sexo, amizade e amor pela Internet".  E é  justamente disso que trata o romance, ancorado pelas cerca de 1200 horas que Faustino diz ter passado em salas de chat nos últimos oito meses. "Colibri deflora os chats" é  um lançamento da Editora Blocos. O livro tem 216 paginas. Longo, talvez. Mas por que ter pressa?"


Você pode ler este livro de diversas maneiras:

— como um bem humorado estudo de comportamento, com leituras psicológicas, sociológicas e antropológicas profundas, para além do aparente superficialismo das abordagens;

— como uma forma de conhecer a carpintaria dramatúrgia e fotonovelesca (estrutura de diálogos, de cortes, de mistério, de reversão de expectativa, etc.), através desta cena coletiva ininterrupta, funcionando os "nicks" como "rol de personagem", "galeria de tipos", "cartão de visita" acentuando a característica que cada um julga principal: "quero mais", "gorda alegre", "sórdido", gatão", "gostoso", "membrudo", "nunca dei", etc.;

— como uma espécie de 1001 noites pós-modernas, em que cada história nos lembra outra. Só que, desta vez, não temos um quarto de palácio oriental, nem apenas uma mulher enamorada e um homem vingativo; agora, as noites passam-se em uma sala de chat, com vinte ou mais pessoas ao mesmo tempo;

— como um hipertexto que, pontuado de referências e referenciais, com todos interferindo na conversa da tela, inova na narrativa, também por ser usada uma linguagem interativa especifica da Internet, caracterizada pela desestruturação da pontuação convencional, pela falta de cedilhas, til, acentos (pois muitos programas não os aceitam), e pelo uso de símbolos gráficos — os smylers, os emoticons, as caracteretas — que expressam ações, feições fisionômicas, frases, estados de espírito;

— como uma obra de ficção, que também questiona, através da realidade virtual (também ficcional), os sutis limites da realidade vivencial;

— como um livro de "sacanagem", que aborda sexo, de diversos tipos, o tempo todo.

Seja qual for a interpretação, é um livro que reflete a afetividade de hoje em dia, após as marcas da repressão política e da (pseudo) desrepressão sexual, bem como a libido das pessoas, em tempos de "sexo seguro". Colibri, junto com virgem e hhhhh, viverão as aventuras e peripécias desta viagem rumo ao desconhecido. Naufragarão? Sobreviverão? Encontrarão alguma porto, mesmo inseguro? Pelo menos provarão que "navegar é preciso", quando se trata de aprofundar-se nas águas profundas das próprias emoções.

Leila Míccolis