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COLUNA DE DOUGLAS MONDO correspondência
Douglas Mondo é poeta, advogado civilista e empresarial, Acadêmico fundador e presidente da Academia Jundiaiense de Letras Jurídicas,  fundador, ex-presidente e atual vice-presidente do Conselho de Segurança de Jundiaí/SP.

Crônica da 1ª quinzena de março

A Morte Política do Velho Coronel

Um dia um poema saltou para dentro da cova rasa e bradou aos céus: A única certeza é a morte!

Para que não fuja seu feliz consorte, dedico-o ao penúltimo dos coronéis, ao homem que apegado ao poder, jamais pensou em largá-lo ou dele abrir mão.

Salve Painho! Coronel baiano da redenção!

Mesmo a clareira aberta na mata vazia, pela mata, não pelo homem, de medo mata. Mesmo o lobo que se esconde na gruta vazia de luz, na noite silencia. O ar é apenas cortado pelo vôo do vampiro com cheiro de amônia. Bebeu Sônia!

Mesmo a morte no som da noite, lúgubre, no eco vaporiza. Não há ferocidade, não há atrocidade, apenas morte. Morte! O predador caça. Não há vítima. Há sono sem sonho. Não há justiça. Nada há, lá! Apenas a ausência de cores e sons.

O homem não interfere. A mata fechada fere. Tudo é natural. Quando a coruja teima em quebrar o silêncio na vitória sobre o rato, a noite a censura. Nada quebra o poder da noite. Apenas a velha árvore acima das copas observa a ausência da lua. Não há brilho!

O falcão anuncia sua sabedoria no prazer de comer o pardal alimento. Por instantes.Apenas! O frenesi da carne não quebra a harmonia da noite. Ou quebra. Nunca! O pardal foge. Mesmo a noite se esconde em seu alpendre. Não há noite! Não há nada! Não há vida!

Este poema sobre a morte, decreta o fim do poder político do velho homem. Teria sido, talvez, um excelente médico. Se médico quisesse ser. Salvaria vidas. Preferiu ser político. Preferiu ser dono da Bahia. Preferiu ser coronel.

Um pai que um dia arrancou lágrimas da nação ao chorar a morte de seu filho querido. Um filho que a morte levou precocemente. O velho coronel nada pode fazer contra a morte. Estava acima de seu poder.

Um filho que foi seu orgulho maior. O filho que teria sido presidente do Brasil! Por ordem do velho coronel, a lembrança virou nome de aeroporto,  virou monumento, virou estátua, virou saudade que teima em abraçar a alma do velho político.

E a ética abandonou o juízo do velho homem. Sentiu-se só e infeliz. Precisou aplacar sua dor. Precisou ser dono de outras vidas, de outras histórias. Precisou vencer a morte!

Por instantes, sentiu que estava acima do bem e do mal. Por instantes, o amor das vidas que o exaltavam em terras de todos os santos não foi suficiente para acarinhar seu ego. Perseguiu e grampeou vidas humanas. Grampeou um amor de mulher. Um amor que nem era mais seu!

Nesse instante a confiança o traiu. Suas pernas bambearam, e o velho coronel está a despencar do fio de aço que reina acima das cabeças dos pobres mortais.

E nessa hora não haverá rede entre o fino fio de aço e o sujo chão. Não haverá jogos políticos de renúncias. Não haverá salvação! A morte política aplacará o desejo de justiça que beija semblantes brasileiros que sonham com transparências públicas.

Sonhos de justiça que espelham representatividades sem máculas, sem desvios, sem apropriações nem roubos. Sem dólares no exterior!

Sonhos de saber que políticos que representam a vontade de cada brasileiro, da pequena cidade ao cume da nação, não tenham patrimônio advindo de malandragem nem corrupção.

Sonhos de querer políticos sérios e honestos, como merecemos ver, como merecemos ter.

Ao poder que nos foi dado de votar em quem não devia ser votado, viramos nosso polegar para baixo e decretamos: Morte política a todo político safado!

Que vá trabalhar como todo mundo que ganha salário minguado, fruto de  labor honesto e suado!