Crônica da 1ª quinzena de abril
Autofagia
Parte da humanidade, na qual me incluo, ficou revoltada com a determinação com que o presidente Bush atacou o Iraque, a despeito das manifestações em contrário pedindo paz.
Há a impressão que o ato foi de insanidade e na razão inversa das características da espécie humana.
Na verdade, presenciamos diariamente atos de exercício de exacerbação de poder humano, sem que nos espantemos com isso. O trânsito violento nas grandes cidades é a mais pura demonstração deste exemplo. Na mão do fraco, o veículo é a arma que o transforma, supostamente, em forte e ele ataca outras vidas com seu brinquedo.
Raramente é punido por tal ato, já que a maioria das pessoas o cometem.
A conquista de um povo por outro, motivada por expansão territorial, necessidade de utilização de bem natural, ou qualquer outro motivo teoricamente plausível, não deixa de trazer em seu bojo o componente infantil de exercício de poder do fraco sobre outro de sua espécie, na mesma proporção.
Compensa-se a fragilidade que se sente com demonstração de poder e conquista, usurpando direitos, ou mesmo no mero exercício, legal ou não, de aquisição de bens acima das necessidades mínimas de sobrevivência.
Esta é a base da sociedade capitalista, onde ter é mais importante que tudo. É o sentido autofágico de viver!
Ao longo da história, tivemos inúmeros exemplos de atos de conquista e que mantiveram as relações humanas dentro da base de exploração do homem pelo próprio homem, não importando o tipo de sociedade existente, já que a característica da espécie é o que importa.
Gêngis Khan, o terrível mongol, levou sua conquista, com toda barbárie possível, de Khanbaligh, atualmente Pequim, até as margens do rio Tigre, na cidade hoje conhecida como Bagdá, no Iraque.
Alexandre, O Grande, um dos mais célebres conquistadores do mundo antigo, nasceu na Macedônia e levou suas conquistas desde Pella até próximo à Índia, passando pelo mesmo rio Tigre. Conquistando, também, o Iraque.
Com isso se constata que o presidente americano não foi o primeiro a conquistar aquele país.
Por mais evoluídos que pensamos ser, somos a única espécie que aprisiona seu semelhante e que pratica infanticídio, no exercício da afetação de um sentimento louvável que jamais tivemos. Hipocrisia e dissimulação são nossas características básicas.
Talvez, por ser, também, a única espécie que sabe que vai morrer. Em razão disso, valoriza-se a fantasia em detrimento da realidade.
A grande questão no sentido da evolução humana, é a sobrevivência da espécie dentro de parâmetros de ética e respeito aos semelhantes e às outras espécies que habitam o mesmo planeta, sem necessidade de utilização de penalidades por descumprimento às regras de convivência, tais como cerceamento da liberdade, ou outra qualquer.
A grande utopia, talvez seja não macular o respeito à convivência pacífica. Mas sim, viver em paz, pela simples razão de viver!
Até o momento, a espécie humana ainda não provou
que deu certo no planeta em que vive, a despeito de todas as explicações
e credos existentes.