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COLUNA DE DOUGLAS MONDO correspondência
Douglas Mondo é poeta, advogado civilista e empresarial, Acadêmico fundador e presidente da Academia Jundiaiense de Letras Jurídicas,  fundador, ex-presidente e atual vice-presidente do Conselho de Segurança de Jundiaí/SP.

Crônica da 1ª quinzena de julho

SER VELHO: UM PRIVILÉGIO

O filósofo Sócrates, que nasceu em Atenas em 469 a.C. e morreu na mesma cidade em 399 a.C., se apresentava em debates como um verdadeiro ignorante, usando o conhecimento que o homem tem do próprio homem, partindo da premissa que sabia que nada sabia.

Na verdade isso era apenas uma armadilha, pois Sócrates era um mestre na utilização da ironia e se o debatedor se conscientizasse e superasse a raiva da exposição ao ridículo, conseguia apresentar soluções lógicas para problemas apresentados, experimentando sensação de glória intelectual pela experiência vivida.

Talvez o filósofo tivesse consciência que perante o conhecimento universal, por mais que soubesse, jamais saberia o suficiente, por isso sabia que nada sabia.

Em que pese, a expressão "saber o suficiente" só deverá ser usada em relação a algum problema apresentado, pois a solução se dará no momento da aplicação do conhecimento específico.

Problema resolvido, utilizado conhecimento suficiente.

A grande questão é: quanto de conhecimento é suficiente, ao ser velho, morrer sabendo-se feliz?

Se partirmos do conhecimento enquanto herança da própria vivência da humanidade, como bem definiu Jung, quanto ao inconsciente coletivo, temos a abstração do próprio conhecimento até o momento de sua afloração para o consciente como verdade apresentada.

Chegamos ao mesmo ponto: problema apresentado, solução encontrada através de conhecimento específico.

Donde se conclui que conhecimento só serve para resolver problemas apresentados. Ou, para que serve o conhecimento se não for utilizado para resolver problemas expostos?

Talvez a verdade seja outra: Ser velho e morrer feliz, independe de ter mais ou menos conhecimento.

O poeta Manuel Bandeira expressou toda sua angústia num poema tão singelo e tão universal: "Andorinha lá fora está dizendo: Passei o dia à toa, à toa. Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste, passei a vida à toa...à toa."

Aqui temos a vivência humana não na solução de problemas apresentados, mas na riqueza das experiências vividas, que deixando de tê-las, ensejou o passar a vida à toa, à toa, por isso a angústia do poeta.

A contrário-senso, uma vida rica em experiências vividas traz conhecimentos tantos, na mesma proporção.

Isso impõe outra indagação: Um homem ignorante, com pouco conhecimento universal, mas o suficiente para ter resolvido de forma satisfatória todos os problemas que surgiram ao longo de sua vida, foi ou não feliz?

Partindo agora das mesmas questões e juntando-as, podemos concluir que ao morrer sabendo-se feliz é diferente de morrer sentindo-se feliz.

O conhecimento mais sábio talvez seja saber, ao fim de uma vida, que sentir e saber é mais importante que só sentir, ou só saber.

O pensador só pensa. O emotivo, só sente. O velho sábio pensa e sente. Um privilegiado!

Ao final da vida, mesmo tendo grande conhecimento e sabendo solucionar inúmeros problemas, mas tendo humildade o suficiente para saber que nada sabe, não como ironia, mas como insignificância perante o universo, o velho sabe, sente e morre feliz.