logotipo
COLUNA DE DOUGLAS MONDO correspondência
Douglas Mondo é poeta, advogado civilista e empresarial, Acadêmico fundador e presidente da Academia Jundiaiense de Letras Jurídicas,  fundador, ex-presidente e atual vice-presidente do Conselho de Segurança de Jundiaí/SP.

Crônica da 2ª quinzena de julho

Homenagem a Henfil

Ao escritor cabe tirar das palavras seus sentidos mais escondidos. Ao homem do traço, cabe abrir a seriedade e tirar o escuro das coisas.

Coube a Henfil nos mostrar, com seus traços e linhas, o risco sem riso da hipocrisia que marca a vida humana, com seus personagens atirados, belos e fortes.

Coube à fragilidade do nosso sistema de saúde, levá-lo aos braços de seus personagens, mais que vivos, retratos das nossas inseguranças, anseios e idealismos.

Cabe à memória salvar o humor daquele homem que na TV Mulher nos mostrava a beleza de ser macho, em hora feminina, e que através das cartas da mãe, em revista periódica, cutucava com vara curta as relações entre cassados e seus algozes.

Nos mostrava a ironia da honestidade quando o homem público portava em seu currículo o atestado de político cassado pelo regime militar, como se isso fosse a consagração do estudante que acabara de passar no vestibular.

Ubaldo, o paranóico, sentia a santificação de tais políticos, e aos que sobreviveram, passados vinte e cinco anos do fim daquele regime, mostram-se tão iguais em suas desigualdades ideológicas.

Atestam a mesmice política: pensam primeiro em seus interesses pessoais e politiqueiros, para depois – se tempo sobrar – nos interesses da população que os elegeu.

Se estivesse vivo, morreria de rir das declarações de Maluf que nega ser possuidor dos 200 milhões de dólares que transitam em seu nome pelos paraísos fiscais do planeta.

Ah, Maluf, a Graúna atacaria, ao sabor de beijos e o estupraria, mas certamente não mataria!

Cuidado, quem tem mãe tem medo!

Ou das declarações de FHC que disse que alertar contra a fome é bom, mas falar e não resolver é gravíssimo. Como se ele não tivesse ficado oito anos cuidando da fome dos brasileiros que o alimentaram. E não foi com buchada de bode!

De uma coisa tenho certeza, seus traços cruéis não perdoariam todos aqueles empresários, políticos de carreira e traficantes públicos que desviaram 30 bilhões de dólares através das contas CC-5 da agência Banestado, e que perigosamente podem ser inocentados por uma CPI que teima em trabalhar em segredo, como se fosse crime de Estado.

Em homenagem ao grande cartunista, deixo pequena lembrança, como se fosse sua charge, retrato de uma alma, linda e pura:

A caatinga se indignou. A morte mais uma vez da vida se afeiçoou, e o barbudo teimoso ao lado do criador se sentou. O poeta encarna o bode Francisco Orelana e escreve essas linhas pensando: ___Tudo seria diferente se a pesquisa tivesse grana!

Zeferino, cabra macho, êta homem bacana, estarrecido - na caatinga também se estarrece - olhando para a linha do sol exclama: ___No sul maravilha a morte a pagou a última chama!

A Graúna, linda mulher, mais sensual que Iracema, se inflama e com os peitim pra cima tasca: ___Ó senhor como pode deixar a morte vencer e levar nosso pai que tanto amou e de amor se feriu? ___Puta sacanagem ô meu! Vá pra ponte que partiu!

E lá no fundo do céu, do alto da sabedoria, falou o mestre Henfil sobre a dor da morte:___Fala Fradim, meu lindo poeta baixim. E um eco se ouviu: ___Pra todos os safados ó... top... top... top!!!