Crônica da 1ª quinzena de março
A deputada federal e ex-juíza Denise Frossard mandou-me um e-mail onde defende a instalação de uma CPI para investigação do caso Waldomiro Diniz.
Diz na mensagem: “Estimado Douglas, por que insisto com a idéia de constituir uma CPI. A sociedade corre sérios riscos quando as instituições desconhecem ou fingem desconhecer a ousadia, inteligência e capacidade de sobrevivência do crime organizado e suas intenções de capturar o Estado como maneira de lhe facilitar a vida e aumentar os lucros.”
Alega ainda, “será prova de ingenuidade acreditar que as fitas e reportagens que vieram à público sobre o comportamento do senhor Waldomiro Diniz, são só demonstração de atitudes de corrupção passiva, de tráfico de influência ou de financiamento espúrio de campanhas eleitorais. As fitas falam bem mais do que isto e demonstram métodos de atuação do crime organizado. As fitas comprovam a explícita maneira como age o crime para capturar o Estado, quer através da compra de seus agentes ou de suas decisões.”
A proposta de uma CPI baseia-se no fato de que “se o senhor Waldomiro Diniz recebeu ou deixou de receber dinheiro do crime organizado para si e para financiar campanhas eleitorais, disso devem cuidar a Polícia e o Ministério Público. A CPI que proponho tem como objetivo investigar a vulnerabilidade do Estado Brasileiro, comprovada agora pelo fato determinado do caso Diniz. Tem como foco investigar os métodos de ligação entre o crime organizado e as estruturas públicas.”
Termina o e-mail indagando: “Douglas, será que o crime abandonou o Planalto quando o senhor Waldomiro saiu?”
Concordando com seus argumentos e ao mesmo tempo sabendo que o governo federal já mobilizou toda sua tropa de choque para neutralizar a constituição de qualquer CPI para investigar o caso, respondi à querida deputada:
Estimada Denise, concordo com todos os seus argumentos. Defendo também que uma CPI deveria ser instalada.
Vou além, será que todos nós, culturalmente, não fazemos parte do crime organizado?
Não é segredo para ninguém que as campanhas políticas custam uma fábula e o dinheiro nelas aplicado – recebido às vezes de fonte imorais ou mesmo ilegais – vai muito além do retorno financeiro pelo mandato exercido.
Os interesses acabam sendo muito diferentes da busca do bem comum.
A própria estrutura de poder vive em torno do crime organizado, fazendo parte dele ao receber dinheiro espúrio para defesa de interesses particulares, e tendo toda consciência disso.
De gente boa o inferno também está cheio.
Cá entre nós, qual o político que nunca fez uma favorzinho para seu financiador de campanha? Ausentando-se de votação da Lei do Desarmamento, por exemplo!
Qual o político, de qualquer partido, que nunca recebeu um dinheirinho extra para alterar o plano diretor de uma cidade e permitir que algum empreendedor inescrupuloso loteasse área protegida pelo meio ambiente?
Qual o político que nunca buzinou para seu amigo íntimo um segredo governamental que permitisse tirar uma vantagenzinha imoral?
Dizem que o pecado é o sabor da vida!
Quando o político se utiliza de uma carreira de coca numa festinha de embalo, nas hostess do poder e longe de sua família, para satisfação de suas necessidades de vida, está alimentando toda uma corrente de exploração humana e de menores excluídos socialmente, sem que tenha a menor importância o bem estar do restante da população brasileira.
E isso passa pelos jornalistas que também cheiram, pela polícia corrupta que nada vê, etc, etc, etc...
Chego à conclusão que é necessário repensar todo o modelo de estrutura político-social, atacando todas as causas e não só suas conseqüências.
Mas, face a impossibilidade da medida, acredito que a senhora está no caminho correto e estimo muito seus ideais.
Boa sorte aí no Congresso!