Crônica da 1ª quinzena de abril
Crer ou não em Deus. Deus nasceu com o homem ou o homem nasceu de Deus?
Essa questão sempre intrigou os pensadores. Normalmente um intelectual se diz ateu, isto é, aquele que não crê em Deus.
Se partirmos do pressuposto que Deus criou o homem, não há como nele não acreditar, já que somos produtos de sua criação.
Se partirmos do pressuposto que o homem criou Deus, na verdade veio dar forma, ainda que abstrata, a uma necessidade humana de credo num ser superior.
Desde o surgimento do homem primitivo, provavelmente ao olhar para as estrelas e para si próprio, deu-se conta de sua insignificância perante o universo e nessa hora surgiu a necessidade de posicionar-se em relação à imensidão dos céus.
Alguém teria criado tudo aquilo que observava além de seu próprio olhar.
Durante a história da humanidade, muitos nomes foram dados à figura de um criador do universo, quer seja pelas religiões monoteístas, como pelas politeístas.
Todas trouxeram em seu âmago o homem como produto de um criador e a interminável busca humana no aperfeiçoamento do espírito até elevar-se ao plano divino, como paradigma universal.
Nesta ou noutra vida.
A teoria mais aceita, cientificamente para a criação do universo, é a que o mesmo encontrava-se em forma bastante condensada e teria sido originado após violenta explosão, com sua conseqüente expansão.
Alguns cientistas defendem que esta expansão chegará ao fim e haverá o retorno à sua forma condensada inicial. Já há os que defendem sucessivas explosões universais.
Uma das grandes dificuldades do intelecto foi aceitar a conjugação de dois verbos ao mesmo tempo e que não trouxessem a incoerência dessa aceitação: Crer e saber.
Assim surgiu a grande indagação: crer apenas no saber como racionalização do credo, ou saber que o credo a um ser superior é característica fundamental da espécie humana?
A racionalização do credo torna insatisfatória a relação homem-universo, já que o coloca como observador, havendo o perigo da não interação com as coisas que são inerentes ao próprio homem.
Por outro lado, o credo apenas como característica fundamental do homem pode colocar em risco seu espírito investigativo, sempre em busca de uma verdade universal e absoluta.
De maneira ou outra, crer em Deus ou o ateísmo como forma antagônica ao credo, acaba por colocá-lo no centro de referência para uns e para outros.
A existência do universo é inquestionável e sua criação sempre aguçará a mente humana, já que antes do surgimento do homem primitivo ele já existia e assim continuará após a extinção da espécie humana.
A questão fundamental para o homem é sua finita vivência perante a eternidade do universo e sua pouca capacidade de compreensão quanto sua própria existência.
Volta-se ao princípio: Deus nasceu com o homem ou o homem nasceu de Deus?
Outra questão a ser verificada, diz respeito a que Deus nos referimos. Ao Deus dos homens ou ao Deus universal. O Deus dos homens chega a ter identidade humana, na necessidade de identificação com a figura de um criador. O Deus universal, por outro lado, identifica-se com o mistério e a incompreensão quanto à imensidão do Cosmos Universal.
Talvez a melhor definição tenha sido dada pelo físico Stephen Hawking em seu livro O Universo numa Casca de Noz ao responder pergunta de um aluno sobre onde estaria o universo antes da explosão do Big-Bang, ao que ele respondeu: — Por falta de compreensão melhor, prefiro acreditar que estivesse no bolso de Deus.
Novamente a indagação: Quem é o criador, quem é a criatura?