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COLUNA DE THATY  MARCONDES correspondência
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR.

Crônica da 2ª quinzena de agosto

 
INSÔNIA

Não foi a primeira vez que ele fez isso. Das outras vezes o fez depois de alguma discussão ou por estarmos em estado de tensão.

Era para eu ter ido junto, mas não tive vontade. Ele queria comemorar a conquista do campeonato gaúcho, pelo Inter – e eu sou Grêmio por herança de meu pai.

Mas não foi essa a causa da minha falta de vontade, pois, afinal, ninguém aqui é fanático por futebol, com exceção de meu filho – corinthiano de nascimento e de fé.

Voltou depois de uma hora mas não guardou o carro. Saiu novamente e só retornou às 5 da manhã.

O engraçado, ou melhor, estranho, é que eu não estou preocupada com o que ele fez, se esteve na paquera, o que aconteceu. Espero que ele tenha se distraído, ao menos.

Há alguns dias eu despertei de uma temporada de 3 anos de entorpecimento de amor. Normalmente eu sou impulsiva, mas, acho que por conta da idade, hoje em dia estou mais reflexiva.

Acordei hoje pela manhã e comecei a me questionar – "o que estará acontecendo comigo?" – e ainda estou tentando descobrir.

Tenho a leve desconfiança de que o amor acabou e eu não tenho a mínima vontade de viver aquela fase "Amélia" que sempre vem quando acaba o amor -  a mulher se anula, não liga para o que o homem faz, entra em depressão, se questiona se ela é que é fria, se é por que ela está velha, por que está feia, por que engordou..... e por aí vai! Saímos, normalmente, puxadas pelas mãos de algum terapeuta, pois não temos vontade de nada – absolutamente NADA.

Ficamos nos culpando, pois, afinal, não houve motivo óbvio.

E vem a fase da mudez, da solidão, da falta de objetivo e de expectativa.

Ficamos rezando para que um dia, sem mais nem menos, a gente acorde e ele tenha ido embora durante a madrugada – sem, ao menos, fazer barulho. Não levou nada, apenas seus pertences pessoais e uma história de amor que se findou – mas teve a dignidade de fazer tudo com a maior hombridade possível.

Aí a gente se lamenta algumas vezes: – poxa, até que ele era legal – será que fiz certo deixando tudo acabar definitivamente?

Não existem chances de arrependimento - não no momento, pois a gente fica pensando que ele deve estar muito magoado, e pensando assim, evitamos telefonar para os parentes, para a família dele para saber notícias – ele pode ter falsas esperanças. Então o melhor é deixar quieto, deixar a vida rolar, deixar que o amor, quem sabe, possa novamente acontecer – sempre há tempo!