Jantar
à luz de velas
Fiz
a janta apenas pra ele...... A raiva era tanta que até quebrei o
vidro de pimenta do reino - eu era a própria. Disfarcei, colocando
o pó aproveitável da iguaria num pratinho de aço inox
(dos que me sobraram, da aniquilação maternal, dias antes).
Cozinhei
com tanta raiva, com tanto ódio, que creio - e torço - pra
que ele passe mal. Percebi, ao cozinhar hoje, que veneno não é
aquele retirado dos vidrinhos contendo caveirinhas, mas, sim, o conteúdo
retirado do nosso âmago. Desejo, sinceramente, que ele arda em azias,
se desidrate em diarréias, se contorça de dores físicas,
como as que ele me causa, diariamente, na alma. Quero que ele sofra. Não
como eu sofro, pois não acredito que ele tenha tantos sentimentos
ou interior superior ao meu. Mas desejo, do fundo de minha alma, que ele
sofra dores irreparáveis, infecções indetectáveis,
males superiores ao que pode, em vão, tentar curar a medicina.
No
fundo, no fundo, hoje, desejo que ele morra. Lentamente... Minguando, dia
após dia, ante meu olhos sorridentes e minha vontade satisfeita.
O amor que eu senti, um dia, transformou-se em ódio. Daqueles capazes
de matar, numa simples receita culinária!
As
velas do jantar? Acenderei, com imenso prazer, em seu velório!