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COLUNA DE THATY  MARCONDES correspondência
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR.

2ª quinzena de dezembro

 
Idéia angelical
 
O anjo olhou para a terra e viu as diferenças. Lojas repletas de pessoas bem vestidas, saindo com lindos pacotes de presentes. Em sua maioria, brinquedos. Mas viu, também, crianças tristes, mães lacrimosas à beira do fogão, cozinhando apenas uma espécie de angu ou mingau, tentando inventar uma cor para aquela coisa grudenta que seria a ceia de Natal. A única alegria era saber que ia ter sobremesa: a patroa havia dado um panettone e uma lata de goiabada, que ela já aumentara com água, fazendo um doce mais cremoso –  rendia mais! Presentes? Este ano o lixo estava ruim –  as pessoas não jogavam mais brinquedos –  nem ao menos uma bola velha! Ou fora ela que, chegando tarde, nada aproveitável encontrara para alegrar aqueles olhinhos tristes e esperançosos, à volta da velha mesa.
 
"Sozinho não consigo resolver tantos problemas, de tanta gente!" –  pensou o anjo. Então, resolvido a fazer algo, pediu autorização ao anjo-mor da repartição, que gostou muito de sua idéia. Vários anjos aderiram ao pequeno sacrifício e ao trabalho extra, naquela véspera de Natal.
 
– O tempo urge, temos que correr, anjaiada! – dizia o anjo-mor aos voluntários.
 
Então, o anjo autor da idéia explicou direitinho o que tinham que fazer. Muitos "ais" e "uis" foram ouvidos. Algumas lágrimas derramadas. Mais "uis" e "ais". As vestes, antes branquinhas, agora manchadas.


Terminada a primeira etapa, o anjo corneteiro deu o sinal aos querubins que, prontamente, se apresentaram para a importante tarefa. E partiram em direção à região mais fria daqueles confins celestes.

O velho, sentado à cadeira de balanço, abriu um sorriso quando viu aquele monte de cartas, com carimbos do correio angelical!

–  Até que enfim alguém me escreve! Será que voltaram a acreditar em mim? Duendes, corram para o estoque e comecem a separar os presentes! Para cada pedido, um presente correspondente. Estamos de volta à ativa! – disse o velhinho, abrindo as cartas.

Um corre-corre danado! O velhinho sorrindo, os olhos cheios d’água.

–  Como recusar o pedido de anjos que, num ato de sacrifício e dor, deram uma pena de cada asa e, com sangue e lágrimas, escreveram cartas em nome das crianças desamparadas da terra? – disse baixinho para si mesmo.

Nisso, entrou um duende apavorado:

–  Solicito instruções, mestre! Nesta carta, a criança de 4 anos, pede apenas alimentos para que a mãe pare de chorar por não ter o que dar aos filhos! E nós não fabricamos nada disso! – disse o duende, apavorado.

O velhinho coçou a longa barba, então respondeu:

–  Hoje iremos nos fartar é de alegria: ela alimentará nossos corpos e nossas almas! Pegue o que o menino pediu, na nossa cozinha; torne tudo novo e limpo e embrulhe para presente! Não se esqueça de colocar uns brinquedinhos: ao menos uma bola!

Nesse Natal, aquela mãe que chorava à beira do fogão, sorriu de felicidade ao ver os filhos alimentados e alegres jogando bola.

A estrela brilhou, mais uma vez, mostrando o sorriso da Terra.