COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Conselheira Municipal da Cultura.

2ª quinzena de janeiro - Coluna 59
(Próxima coluna: 3/2)

O HOMEM DO SACO

A língua rançosa se cala no marasmo de sábado. Os restos das velas de sexta ainda queimam na encruzilhada; a farofa levada pelo exú do vento; o perfume barato exala no ar e sobe até o 8º andar, misturando-se à fumaça de peixe frito; a fita vermelha adorna a cinta liga da rainha dragão, que acende um cigarro do maço da entrega; um freguês se transforma em cliente assíduo. Na rua alguém troca um pneu; na loja em frente alguém pede desconto.

O homem do saco tudo vê. A criança no saco nada sente.

— Mãos pra trás, larga o saco, encosta na parede, pernas abertas!

Ele se assusta e derruba o saco. Dentro o ruído de choro. O homem tira as mãos de trás, tapa os ouvidos, grita pedindo clemência pra filha.

O novato atira.

O homem do saco tomba ao lado da boneca. Só ela chora agora por seu pai.

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