Uma vida, várias histórias
Fabiana de Castilho
2º capítulo
Não tinha muitos amigos e dava pra imaginar o porque. Nenhuma garota de família gostaria de ser vista ao meu lado. E não as culpava por isto. As pessoas com quem mantinha uma ligação não eram, com certeza, as mais queridas na cidade. Na verdade eram pessoas como eu, que não tinham seu lugar, que não pertenciam a grupo nenhum, mas que precisavam encontrar sua identidade, seu espaço. E apesar do que todos pensavam, eu não era, assim, tão porra-loca. Digamos que eu sempre sabia ate onde podia avançar. Ou não...
Só que, magicamente, tudo começou a mudar quando encontrei meu primeiro namorado. Algo que parecia ser impossível de acontecer. Ele era um rapaz lindo e muito cobiçado pelas moçoilas de família ou não, como eu. Fomos apresentados por uma amiga em comum. Da pra acreditar? No começo achei estranho que alguém como ele, pudesse nutrir qualquer interesse pela minha pessoa. Mas com a convivência, a desconfiança foi acabando e nos tornamos amigos. Íamos a festas, saiamos com sua Turma. E, acreditem, acabei passando a ser um tipo de modelo no grupo. Comecei a ser bem aceita e ninguém parecia lembrar dos fatos anteriores. Para mim estava ótimo, era o lugar que sempre desejei ocupar e eu me sentia muito bem. Ele me pediu em namoro e 'e claro que aceitei.
Ficamos juntos por dois anos e não achei estranho que, nos primeiros dez meses, ele não tivesse tentado me levar para cama. Ele se justificava dizendo que um momento tão especial, para mim, não poderia ocorrer de qualquer forma. O máximo que acontecia eram umas passadas de mão, beijos mais ousados e só. Então, em uma noite chuvosa, quando estávamos sozinhos no apartamento da família, aconteceu. E ele agiu exatamente como eu esperava. E minha primeira vez foi maravilhosa. Eu sei que e difícil de acreditar, mas eu so perdi minha virgindade com 18 anos e com alguém que realmente gostava.
Tudo ia muito bem em um ano e meio, contabilizado, de namoro ate que um dia, sua mãe, durante um almoço de família começou a falar uma série de coisas estranhas: — Sempre tive muito cuidado com meus filhos. Quando eram pequenos, levei-os ao pediatra varias vezes para ter certeza de que eles eram normais, que eram meninos, sabe? O médico me disse que eles eram normais e que não havia nenhum problema. Por isso este negócio de não gostar de mulheres e falta de vergonha na cara.
Eu não sabia o que dizer ou fazer, mais nunca imaginei que ela pudesse estar se referindo a meu namorado. Quando todos terminaram o almoço, ela e seu marido me puxaram para um canto e o bombardeio começou: — Você notou algo diferente no comportamento de meu filho. — Vocês já foram pra cama, como foi. — Que horas ele te deixa em casa. — Você pode me ligar hoje e dizer que horas ele te deixou em casa?
E foi assim por uns quinze minutos. Passei o resto do dia calada e quando ele me deixou em casa, liguei avisando seus pais. Três horas mais tarde sua mãe me liga e pergunta se podia acompanha-la ate um lugar. Disse que sim. Chegamos em uma casa, onde nos fundos funcionava um bar. Entramos e em uma mesa, no canto vimos o meu namorado com outro homem. Fiquei petrificada. Era um bar gay.A mãe de meu namorado caminhou ate a mesa e disse : — Espero você lá fora.
Dois dia após o ocorrido, ele me procurou. Foi uma conversa fria, vaga. Eu não conhecia aquela pessoa que estava a minha frente. Ele me disse apenas, que isto mais cedo ou mais tarde, iria acontecer. Ele havia me ajudado com minha imagem e eu o ajudara com a sua. E terminou dizendo que eu deveria procurar um medico para fazer um exame de sangue, por que durante nosso namoro, ele tivera alguns parceiros e nem sempre usara preservativos.
Pegamos os resultados, juntos. Os exames deram negativos. Paramos de nos ver. Ele disse que estava indo embora, que iria tentar a vida em outro lugar. Algum tempo depois, ele me mandou uma carta. Falava apenas que estava bem, conseguira um emprego e estava estudando fisioterapia.
Eu o odiei por um bom tempo, mas hoje eu acredito
que ele deve ter me dado muitos sinais de sua sexualidade. Só que
eu estava tão maravilhada com minha nova imagem que escolhi não
ver. Resolvi dar um tempo nos relacionamentos, botar a cabeça no
lugar. Só que esta decisão não durou mais que quatro
meses...