Uma vida, várias histórias
Fabiana de Castilho
3º capítulo
Não deixei a cidade onde morava, mas resolvi optar
por um trabalho que me permitisse passar o menor tempo possível
naquele lugar. Comecei a trabalhar com feira de modas e viajava a cada
quinze dias. Era maravilhoso e minha vida corria, aparentemente bem. E
foi assim ate que aceitei o convite para trabalhar em um evento em minha
cidade, durante um Festival de Dança. Na quarta noite de trabalho,
um rapaz veio conversar comigo e após alguns encontros, o namoro
se fez inevitável, depois de um pedido cinematográfico —
aliás, como tudo que me acontece. Fomos a uma cantina italiana.
Jantar a luz de velas, vinho. Então ele ficou de joelhos. Alguém
apareceu com flores e ao som de Dio Como te Amo, fui pedida em namoro,
enquanto toda a cantina aplaudia a minha mais nova derrocada.
Um ano mais tarde e no mesmo cenário romântico,
resolvemos ficar noivos. O casamento deveria acontecer em aproximadamente
quinze meses, até prepararmos todas as coisas. Comecei a montar
o enxoval. Estávamos procurando um lugar para morar, já que
ele dividia o apartamento com mais três pessoas. Tudo corria aparentemente
bem. Pelo menos eu achava que sim. Meus pais estavam de mudança
para uma cidade maior. Eu resolvi ficar e comunicar a decisão a
meu noivo.
Fui até seu apartamento, ele não estava lá.
Esperei por algum tempo, mas resolvi voltar para casa, estava ficando tarde.
Deixei um bilhete, porém não recebi resposta. Resolvi esperar
um pouco mais e então ligar. Ele ainda não havia chegado.
Comecei a ficar preocupada. Resolvi ir até sua casa. Quando cheguei,
encontrei uma das pessoas com quem meu noivo dividia o apartamento; ele
me disse que eu não deveria ficar preocupada. E resolveu me contar
o que estava acontecendo. Foi assim que fiquei sabendo que meu noivo estava
saindo com outra mulher, dez anos mais velha e extremamente rica. Ele fazia
isto já há uns cinco meses.
No dia seguinte ele me procurou e sem rodeios disse ser verdade,
que eles iriam se casar e que as coisas seriam melhores deste jeito. Ela
o ajudaria a realizar seus planos e ele decidira aceitar, afinal, que futuro
teria a meu lado? E assim me vi coroada por mais um desastre amoroso, que
parecia não ter servido como lição. Fiquei arrasada
e resolvi me enterrar no trabalho. Não dei muitas explicações
a minha família do ocorrido. Era muito humilhante. Decidi mudar
com eles para a nova cidade. Não queria mais ficar naquele lugar.
Comecei a pensar em voltar a estudar. Precisava ocupar meu tempo.
Mudamos para uma cidade grande. Arrumei um emprego fixo em uma
loja de shopping e durante a noite fazia um cursinho pré-vestibular.
Demorou um pouco, mas comecei a conhecer novas pessoas e me decidi por
fazer faculdade de Psicologia. Minha família não acreditava
que eu seria capaz de passar, mas eu estava decidida: estudava e trabalhava,
era só o que fazia. Passei a sair com alguns novos amigos e comecei
a me interessar por outro rapaz. Achava que isto nunca mais fosse acontecer.
Aconteceu e foi muito legal. Sentia-me segura, respeitada, incentivada.
Estávamos a três meses juntos e ele trabalhava como Fiscal
da Receita Federal e iria prestar vestibular para advocacia.
Por conta do trabalho, ele viajava muito por todo o estado e
não nos víamos todos os dias. Ele me deu a chave do apartamento
que dividia com um amigo, tinha o número de seu telefone e para
mim estava tudo bem.
Não estava. Um dia, enquanto lanchava na cantina
do cursinho, esperando o início das aulas, uma moca veio e sentou
a minha frente. Sem rodeios, só pra variar, ela disse que conhecia
o rapaz com quem estava saindo e que era amiga de sua esposa, agora grávida
de quatro meses. E terminou com: — Você não é a primeira
que cai no papo dele. Ele é muito bom com as palavras.
Não sei porque, acreditei no que ela estava me
dizendo. E quando ele chegou, obtive a confirmação sem problemas.
O apartamento era do amigo e ele não morava ali. Só usava
o lugar quando precisava. Ele e o amigo tinham uma espécie de acordo
e trocavam "favores" sempre que necessário. Ainda ouvi que poderíamos
continuar juntos, sem problemas.
A única coisa que fiz? Foi levantar e sair dali.
Estava me sentindo suja. Uma semana mais tarde ele estava desfilando com
outra garota pelos corredores do cursinho. Ainda bem que as aulas estavam
chegando ao fim e eu conseguira mudar de turma.
No final do ano, prestei o vestibular e passei, apesar
da descrença de todos. Pensei que uma nova fase estava começando
e era verdade. Eu só não tinha idéia de que seria
tão devastadora e definitiva na minha vida.