Uma vida, várias histórias
Fabiana de Castilho
5º capítulo
Formei-me
Bacharel em Psicologia, terminei meus estágios e resolvi não
fazer o ultimo ano da faculdade, que me daria o titulo de Psicóloga.
A falta de dinheiro foi outro fator que influenciou minha decisão.
Resolvi estudar inglês e para isto, nada melhor que beber água
da fonte. Só que seria preciso trabalhar, e bastante para pagar
o curso.
Meu pai tinha um casal de amigos morando e trabalhando perto de Atlanta,
no estado da Geórgia e eu poderia ir para lá, trabalhar com
eles. Fazendo o quê? Limpando casa. Mas tudo bem. Agora era preciso
conseguir o mais difícil. O visto. Optei por um visto de turismo
pois seria mais fácil. Eu não teria como comprovar renda,
para pagar um visto de estudante. Dei entrada na papelada e em menos de
um mês estava embarcando.
Na bagagem, algumas poucas roupas e muitos planos. Preferi uma despedida
rápida, era menos doloroso. E nos meus planos, logo estaria de volta.
Ultima imagem que tenho em minha mente é a de minha família
chorando na hora de meu embarque.
O vôo saiu às 20:00 h. de uma sexta-feira e, nove horas mais
tarde, eu estava desembarcando no aeroporto de Miami, um pouco assustada
mais bem. Tinha apenas uma descrição do casal com quem iria
morar. Nos não nos conhecíamos pessoalmente. Só faláramos
por telefone e ficou combinado de que às 5:00 h. da manhã
de sábado, eles estariam me esperando.
Doce ilusão. Fiquei cinco horas plantada no aeroporto, andando de
um lado pro outro, tentando não chamar muita atenção.
Quando estava quase entrando em pânico, eles resolveram aparecer.
A desculpa para o atraso? — Os vôos nunca chegam no horário
e por isto paramos para descansar e comer alguma coisa. Acabamos perdendo
a hora.
Tudo bem. O que poderia fazer. Foi então que me informaram que ficaríamos
o fim de semana em Miami. Não podia gastar meu dinheiro mas, novamente,
não tive escolha. Ficamos.
Primeira grande dificuldade foi a comida. Muito diferente e bota diferente
nisso. Passei o fim e semana a biscoito e água. Em meu primeiro
mês aqui devo ter perdido uns quatro quilos. Segundo problema foi
o frio. O tempo resolveu mudar e eu só tinha um casaquinho. As tentativas
de comprar alguma roupa quente deram em nada. Só roupas de verão
nas lojas. Roupa emprestada? Pedir para quem? Até que eu tentei,
mas não tive sorte e sempre recebia uma desculpa como resposta.
Fiquei assim por duas semanas. O mais difícil era pra dormir.
Só que trabalhava tanto que o cansaço acabava por me ajudar
a segurar a fome e o frio. Horário de trabalho? das 6:30 da manhã
até as 20:00 h. Tinha dias que o trabalho não terminava antes
das 22:00 h. Matriculei-me em um curso de inglês, paguei 17 dólares
pelo primeiro semestre. Meu patrão também resolveu estudar
no mesmo colégio. Como trabalhávamos juntos, geralmente não
tínhamos tempo para ir a aula. Solução? Fui trabalhar
com a mulher de meu patrão e terminávamos o serviço
que ele deixava por fazer para ter tempo de ir para o curso. Ele continuou
estudando, eu tive que parar e perdi o dinheiro do semestre.
Morávamos em um apartamento de dois quartos e eu, lógico,
dormia no sofá da sala aonde, durante o dia, o cachorro da família
ficava. Ali ele comia, fazia cocô, xixi, babava, e durante a noite
eu tentava dormir. Além disso, o sofá era pequeno e eu não
podia deitar direito. Ou dormia com a cabeça, ou com os pés
erguidos. Sem contar que minhas roupas ficavam na mala rolando por todos
os cantos da casa. A minha comida eu comprava a parte, lógico. O
problema e que quase sempre eu não a encontrava quando procurava.
E não pensem que eu morava de graça. As despesas eram divididas
em quatro e eu pagava 200 dólares por mês para viver no apartamento.
Não usava internet, TV a cabo, mas pagava por tudo.
Quando eu achava que nada mais podia piorar, algo acontecia. O cachorro
gania a noite toda. Alguém queria ver um filme de vídeo...
Só me restava enfiar a cabeça no travesseiro e chorar.
No meu primeiro mês de trabalho, a minha remuneração
foi dividida em fases. Primeira semana 100 dólares, e olha que eu
trabalhava o dia todo. Segunda e terceira semana, 10 dólares por
casa. Já na quarta e quinta semanas recebi 15 dólares por
casa para só então receber os 20 dólares combinado.
Mas não durou muito tempo, pois meu ex-patrão logo
encontrou uma forma de me fazer ganhar menos e ele lucrar mais. Como? Tirando
metade do que me pagava para compor o salário da nova ajudante.
Detalhe, ele ficou com todo o dinheiro, ela, duas semanas sem receber,
e eu, mais pobre e endividada. Foi assim por quatro meses, até que
ele resolveu parar de me pagar. Então resolvi aceitei a proposta
de meu atual marido, sem me dar conta do buraco que cavava aos meus pés...