AS LENDAS DE ARUANDA - Ronaldo Torres

Capítulo  7


Conto 07 – As Criaturas

Arrumbobô!

Nana Burukê concebeu um filho de Oxalá, o terrível e temível de feio Obaluaiyê, um monstro, se comparado aos outros bebês de Aruanda. Quando Nanã Burukê passava com o primogênito, as outras mães começavam a cantar: “ô, coisinha/ tão bonitinho/ do pai!” e a mulher de Oxalá foi consultar Ifá, o orixá ginecologista, e este lhe disse que convencesse Oxalá a lhe dar outro filho, que seria uma candura de menino, belo o tanto quanto o arco-íris, porém ela não privaria de sua companhia, não poderia amamentá-lo nem trocar a sua fralda.

E assim, depois que engravidou, passou a esnobar as vizinhas, pois sabia que o seu filho seria uma belezura de menino. Nove meses depois nasceu um estranho rebento, que recebeu o nome de Oxumaré. Quando a enfermeira levou o garoto para a mãe dar um cheiro, ele se transformou em um arco-íris e desapareceu no céu, e, como dizia as profecias, durante seis meses do ano ele passou a decompor as cores da luz, canalizando água para o seu pai Oxalá, em Aruanda. Os outros seis meses ele se transformava em cobra, que dava uma volta na Terra. Faminto, queria comer o próprio rabo e, de tanto se esforçar, deu um solavanco no planeta e este nunca mais parou de girar sobre o seu eixo.

Considerado o transmissor do axé e da sabedoria, Senhor do arco-íris, o seu símbolo da cobra mordendo o próprio rabo representa a Vida, a Morte e o Renascimento. O seu dia é a quinta-feira, suas cores são amarelas e pretas e deve se usar um adorno com duas cobras de metal.

Atotô Obaluaiê! Atotô baba!

Omolu, o representante da varíola e de todo tipo de epidemia, mete medo em quem o vê. Irmão mais velho de Oxumaré, vive enrolado dos pés à cabeça para esconder as feridas e o corpo esquelético, e curvado sob as dores e os tremores da febre. Carrega um cetro adornado em contas e búzios, de nome Xaxará, que usa como captador de cargas negativas.

Também é conhecido como Xapanã e Obaluyaiê, quase não há seguidores, sendo que os poucos filhos devem vestir preto, vermelho e branco no dia de segunda-feira. No sincretismo, corresponde a São Lázaro, o santo das chagas, e sua festa anual é em 17 de dezembro.

Irrô!

Rincô Ewá!

Ewá era uma exímia e bela caçadora. Sua beleza não só ofuscava os admiradores, como também cegava, devido ao veneno que ela lançava em quem ousasse lhe encarar ou lhe dar uma simples piscadela de olhos. Um dia ela encontrou Omolu, o Ser Supremo, vadiando pela mata e por ele se apaixonou perdidamente. Casaram-se na igreja e no civil, porém Omulu era extremamente ciumento e um dia, desconfiado dos bochichos à boca pequena da vizinhança fofoqueira, se invocou que estava sendo traído e prendeu Ewá em um formigueiro, deixando-a entregue à própria sorte. As formigas fizeram um banquete com a carne da rainha da caça e da beleza, e quando Ewá ameaçou dar o último suspiro, Omulu apareceu e a levou para casa, certo de que a sirigaita havia aprendido a lição. Ewá ficou totalmente deformada pelas picadas das formigas, cheia de hematomas pelo corpo. O seu rosto, cuja beleza matara muita gente, virou um rosto feio e disforme, tomado pelas cicatrizes. Omulu a cobriu de palha-da-costa, de coloração vermelha, para que ninguém visse sua feiúra nem o repreendesse pelo castigo dado à esposa por uma simples suspeita. Qualquer semelhança com o mundo dos mortais é mera coincidência.

É considerada a orixá da temperança e da pureza. Os seus filhos devem vestir vermelho, no sábado.

Laroiê Exu Mojubá!

Ao contrário do que se pensa a respeito dele, Exu é o mensageiro dos orixás, elemento de ligação entre o mundo dos vivos e o espiritual. De tanto subir e descer, adquiriu o vício dos humanos e só trabalha mediante pagamento, quer seja em dinheiro, bebida ou sacrifício de animais. Quem não cumprir o trato, será severamente castigado por ele.

No jogo de Ifá (jogo de búzios), ele é portador da resposta.

Conhecido também como Legba ou Elegba, carrega sempre seu bastão de madeira de nome Ógo e os seus poucos seguidores devem usar roupa preta e vermelha nos dias de segunda-feira. Não há santo correspondente na religião católica, sendo que ele é erroneamente comparado com o Diabo. Mas, por precaução, é melhor não invocá-lo em vão, pois há três tipos de Exus (Pagão, Batizado e Coroado) e um deles, o Pagão, gosta de reverter as coisas quando não se sai bem lá em cima. Ou seja: o feitiço pode virar contra o feiticeiro.

Todo orixá tem um Exu, ou o seu mensageiro.

 

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