EPHEMERDAS, por GLAUCO MATTOSO
GLAUCO MATTOSO é poeta, auctor de mais de cinco mil sonnettos. Actualmente não compõe mais nesse molde, mas ainda practica outras estrophações.
Para informações sobre a orthographia que adopta, suggere-se accessar:
http://correctororthographico.blogspot.com.br
NOVEMBRO/2014
PHALLO FALLADO, CALÃO CONSENTIDO
Dois themas novembrinos (Ou novembreiros? Ou novembrescos? Ou novembristas? Ou novembrosos? Ou novembrudos? Ou novembrados? Que lingua abundante e carente, esta nossa!) que ja me suscitaram desabbafos são as datas para finados e diabetes, mas, por coincidencia, accabo de abbordar taes topicos na chronica do mez passado. Fico então com a sempre opportuna commemoração que, neste ou naquelle almanach, consta da agenda do dia 5, o dia nacional da lingua portugueza, vigente desde 2006 e allusivo ao anniversario de Ruy Barbosa.
Vem a proposito esse enfoque brazileiro sobre a matriz lusa, pois, como é consensual, o poema mais definitivo thematizando o nosso idioma não é de Camões, nem de Bocage, nem de Quental, nem de Pessoa, mas sim de Bilac, o paradigma parnasiano do perfeccionismo, com o civismo incluso no pacote. Poucos sabem que, alem do sonnetto à lingua portugueza, Bilac compoz um para a musica brazileira, que, por ser anterior ao proprio samba, nem de longe synthetiza a riqueza e a diversidade do cancioneiro tupyniquim nas decadas de trinta em deante.
Como todo classico, Bilac foi bastante parodiado, principalmente no sonnetto "Ouvir estrellas", mas ninguem ousou brincar com algo tão petreo como a lingua nativa. Mesmo que brincassem, não ultrapassariam os limites do humor innocente que se verifica na maioria das parodias. Foi ahi que entrei e resolvi bagunçar um pouco esse coretto. A parodia que compuz foi elaborada durante um laboratorio na Casa das Rosas, em 2005, dentro da officina que ministrei sob o titulo "O verso fescennino: curto e fino". Posteriormente, inclui aquella satyra como exemplo do genero no TRACTADO DE VERSIFICAÇÃO que sahiu em livro e foi contehudo digital na decada passada.
Claro que não reivindico primazia alguma, pois Gregorio ou Bocage provavelmente se me teriam antecipado (no que se metteriam galhardamente), caso Bilac não lhes fosse postero. Apenas assumo meu radicalismo chulo, sem o qual o procedimento parodico não teria, para mim, a graça desbragada que, fora dos parametros esthetico-philologicos, o portuguez offeresce aos desboccados e sonega aos puristas e puritanos. Isto dicto, seguem-se o original bilaquiano e minha leitura pornographica.
LINGUA PORTUGUEZA [Olavo Bilac]
Ultima flor do Lacio, inculta e bella,
És, a um tempo, explendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhescida e obscura.
Tuba de alto clangor, lyra singella,
Que tens o trom e o silvo da procella,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exilio amargo,
O genio sem ventura e o amor sem brilho!
LINGUA PUTANHEIRA [sonnetto 1012]
A lingua deflorada, puta bella,
a um tempo é despudor e compostura.
Menina virgem, sim, porem impura:
tem cabacinho mas caralhos fella.
Quero-te assim, cu doce e picca dura,
caricia, acto de amor, curra barrela,
que tens o dom e o vicio da donzella
e o ardor da crueldade e da tortura!
Amo teus bardos, anjos de Sodoma,
bastardos de olho vivo e de anus largo!
Amo-te, ó grosso e doloroso idioma,
em que o Pae me chamou "da puta filho"
e em que eu choro a cegueira e canto o encargo
de usar-te a lamber botas, dando um brilho!