Capítulo 5
Conto 05 – A Sereia, o Caçador e o Sapo
Odoyá!
Iemanjá, ou Janaína, era filha de Olokun, a deusa do mar. Casou-se com Olófim Odudua e teve dez filhos, os quais gostavam muito de mamar e esticaram imensamente os seios da mãe. Como não havia cirurgia plástica naquela época nem prótese de silicone, Iemanjá, vaidosa que ela só, sentia grande vergonha de aparecer de biquíni na praia de Ifé. Um dia, cansada dos cochichos e risinhos debochados das siliconadas do reino, resolveu fugir para bem longe, rumo oeste, indo parar no reinado de Okerê, a cidade de Xaki. Como até os deuses sentem amor à primeira vista, Iemanjá e Okerê juntaram as escovas de dente, porém Iemanjá impôs uma condição ao seu amado: que ele nunca falasse de seus enormes seios. E viveram felizes para sempre até o dia em que Okerê encheu a cara de cachaça e esqueceu o prometido, passando a dizer gracinhas a respeito da protuberância das tetas de Iemanjá. Magoada e ofendida, a peituda saiu correndo mundo afora, levando um pote de porção mágica que sua mãe lhe dera para ser usado em caso de necessidade. Durante a fuga, Iemanjá tropeçou, foi ao chão, quebrando o pote da porção mágica, que a transformou em um caudaloso rio, correndo para o mar. Okerê, ciente da besteira que tinha feito pois não se pode brincar com a vaidade feminina, se transformou em uma montanha para represar as águas do mais novo rio do seu reinado. Iemanjá pediu ajuda ao seu filho Xangô, o mal-humorado, e este partiu a montanha ao meio, com um raio de não sei quantos megatons, seguindo o rio o seu curso normal, alcançando o mar, e Iemanjá se transformando na rainha das águas, para júbilo e deleite da vaidade feminina.
Se alguém quiser convidá-la para uma farra, tem que ser regada a champanhe, de preferência francesa, pois é a mais chique das divindades, não aceitando oferenda de um-nove-nove ou presente importado do Paraguai.
Seus filhos, predominantemente de mulheres, devem vestir branco e prata, aos sábados. Sua festa anual é no dia 2 de fevereiro. O santo correspondente no sincretismo é Nossa Senhora e algumas de suas denominações.
Ewê, ewê ô!
Ossaim é o orixá das folhas e das liturgias, detentor dos segredos medicinais e conhecedor das palavras que despertam o axé (força, poder) das folhas e por isso é o primeiro orixá consagrado nos rituais do candomblé, pois as folhas estão diretamente relacionadas com o cotidiano dos seguidores da afro-religião e, por causa disso, sem Ossaim e sua cura por meio das folhas, não há axé nos candomblés nem batuques nos terreiros gaúchos.
Filho caçula de Iemanjá e Oxalá, nascido na região de Iraô, na Nigéria, desde pequeno vivia no mato e aprendeu com Olodumaré o segredo das folhas, e assim viajou o mundo curando o povo. Como não havia dinheiro naquele tempo, recebia mel, fumo e cachaça como pagamento.
Os outros orixás, seus irmãos, viviam enciumados com o sucesso de Ossaim. O temperamental Xangô, um dia pediu a Iansã, sua esposa, para que soprasse um vento e espalhasse as folhas para ele e os outros orixás, para que cada um obtivesse os segredos das folhas e assim não precisassem mais dos favores do irmão, que a tudo cobrava. Iansã atendeu o pedido do marido e mandou o maior vendaval, espalhando as folhas por todo o reino de Aruanda. No meio da ventania, Ossain gritou: “eu, eu assa!”, que significava “oh, folhas” e assim evitou que o poder das mesmas fosse distribuído com os outros, pois, embora pareça fácil, só ele sabia pronunciar essas palavras e conhecer as forças de cada uma delas. Sem outra alternativa, os outros orixás tiveram que devolver as folhas para Ossaim, pois, nas mãos deles, não passavam de folhas mortas.
Carrega um bastão metálico de sete pontas, com um pombo no centro e o seu dia é a segunda-feira, para o Candomblé, e a terça-feira, para o Batuque, e seus filhos devem vestir verde e branco (Candomblé) e verde e amarelo (Batuque).*
*O Batuque é um variante do Candomblé, no Rio Grande do Sul.
Loci, loci, Logum!
Já falei da disputa de Oxum, a mais bela das divindades, e da guerreira Obá, a orixá de uma orelha só e dos amores impossíveis, pelo amor de Xangô, o orixá dos raios, e que culminou na maior disputa culinária que Xangô pôde apreciar e degustar.
Só que Oxum, a deusa da fertilidade, tempos antes de se meter nessa encrenca, era casada com Ogum, o ferreiro guerreiro, e nutria uma paixão desenfreada por Oxossi, o todo-poderoso. Um dia, Ogum partiu para mais uma batalha e Oxum aproveitou para pular a cerca e, como as orixás não usavam anticoncepcional nem se preveniam com camisinha, Oxum ficou grávida de Oxossi.
Nove meses passados, Ogum mandou avisar que estava de volta, justamente quando Oxum dava a luz ao filho de Oxossi. Não podendo mostrar o rebento para o marido, prova cabal de sua traição, deixou o filho em cima de um lírio e foi acalmar Ogum, que voltava doido por um xodó.
Tempos depois, passeando Iansã pela mata, encontrou o menino e o criou, ensinando- o a arte da caça e da pesca. Deu-lhe o nome de Logum Edé que se tornou no mais belo dos orixás.
Caçador nato, certo dia ele se encontrava no alto de uma cachoeira e avistou uma bela mulher se olhando no espelho. Parou e ficou admirando aquela deusa da beleza e da sensualidade, sem saber que se tratava da sua mãe.
Oxum, sentindo-se observada e desejada, mirou o espelho para Logum Edé que caiu encantado dentro d'água, transformado em cavalo-marinho. Ao saber do acontecido, Iansã procurou Ogum e lhe disse tratar-se do seu filho bastardo. Oxum desfez o encantamento, porém transformou Logun Edé em um anfíbio, sendo que seis meses viveria na água e seis meses na terra.
Único orixá hermafrodita, no Brasil ele é cultuado como caçador e em uma parte da África também; a outra parte acha que ele é uma versão masculina de Oxum. O seu dia é a quinta-feira e os seus filhos devem vestir azul-turquesa e amarelo. O seu símbolo é o ofá (arco e flecha) e o leque, chamado de abebé.