Nº 8 - 21/11/2006 |
Um Domingo Especial
Uma mania que considero deliciosa é passar as tardes de domingo nas livrarias dos shoppings. Lá encontro o meu mundo, como leitora totalmente compulsiva, reconheço. Nada mais agradável do que pegar e folhear livros, indo da orelha, ao prefácio e até a algumas páginas do conteúdo do autor seja poesia, prosa, romance ou documentário.
Minha concentração é tão grande que por vezes não percebo um amigo ou conhecido que entra coincidentemente no mesmo lugar. E só depois que se aproximam tocando carinhosamente no meu ombro é que os vejo e os cumprimento efusivamente pedindo desculpas pela minha distração.
Desde muito pequena o livro é um vício, como se eu não pudesse viver sem ele. Até quando viajo, mesmo tendo um horário de obrigações a cumprir tenho que levar livros, a segurança de uma boa viagem.
Domingo passado almocei com alguns amigos e fui à livraria, já curtindo aqueles momentos fascinantes que existiram durante toda a minha vida. É como se naquele instante eu estivesse em outro mundo e nada pudesse me atingir. Uma sensação repetidamente deliciosa.
Um senhor de cabelos brancos a pouca distância de mim fez-me um sinal dizendo:
-Quer comprar o melhor livro dessa livraria?
Olhei-o sorrindo, curiosa do que ele diria a seguir. Pediu-me que fosse até a prateleira onde se encontrava em sua opinião “o melhor livro”. Apresentou-se e em seguida mostrou-me um livro de sua autoria composto de crônicas e versos que eu segurei disposta a ler um de seus capítulos e assim o fiz enquanto ele me olhava ansioso.
Gostei do estilo do escritor a leitura agradável me deixou longe por algum tempo até que acabasse um período que me interessou. E reparei que estava na segunda edição.
Fitei-o perguntando se escrevia na internet e então ele me disse:
-Não, sou um escritor pobre. Nem computador eu possuo. Mas ao vê-la entrar senti que era uma escritora e que poderia se interessar pelo meu livro. E declamou um poema de sua autoria, muito bonito.
Perguntei-lhe então como divulgava seus livros e ele me respondeu que vinha seguidamente à livraria onde se sentia em casa e lá conseguia vender alguns. Recordei-me então de um famoso e maravilhoso autor, teatrólogo, ator e crítico, fantástico em seu talento indescritível, por quem sempre fui apaixonada e que me propus a pesquisar para elaborar sua biografia e que também numa época de sua vida fazia isso com seus próprios livros: Plínio Marcos.
Embora sem querer demonstrar eu estava muito emocionada. Refleti com certa nostalgia em relação ao meu colega. Tenho um site e grupo de literatura, outros espaços importantes, uma máquina com ADSL e ferramentas de última geração que me deixam trabalhar ligeiro, a internet à minha disposição e desde o começo me propus a divulgar escritores, justamente que fossem competentes, mas tivessem dificuldade em ser divulgados. E agradeci a oportunidade que a vida me dera de poder cumprir esse sonho de forma eficiente.
Comprei seu livro e perguntei se ele não gostaria de ter uma página para que muitas pessoas vissem seus belos poemas e crônicas. A alegria brilhava em seus olhos e combinamos que ele levaria pessoalmente os trabalhos para que eu pudesse divulgá-los. Sua mulher entrava naquele momento e percebendo o que havia me agradeceu emocionada dizendo:
-Ele precisa muito. Muito obrigada.
Fiquei pensando como muitas pessoas não dão valor à divulgação e a recebem indiferentemente, embora todos saibamos que a internet é realmente um milagre da tecnologia. Sem ela estaríamos ainda com máquinas de escrever e papéis guardados nas gavetas e que a não ser que fossem publicados imediatamente, acabariam consumidos pelo tempo.
Trocamos nossos endereços e sentia o quanto essa divulgação lançava esperanças para esse escritor simples, talentoso, mas sem possibilidade de mostrar sua capacidade e valor.
Domingo memorável. Eu conhecera um escritor talentoso que ia à Livraria oferecer seu trabalho aos leitores. Que fascinante momento de emoção e que exemplo de amor à sua arte!