Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 169 - 2ª quinzena de janeio 2010
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)
Próxima: 10/2/2010

O leque de cristal

Estou sentindo o verão. Nunca tanto calor invadiu o céu carioca. O céu do verão é um leque de cristal, como disse o poeta Raymundo Freitas Pinto, que foi meu professor. Não sei por que estou afastado deste verão. Talvez porque a minha praia está poluída. Praia poluída estraga o verão. O mundo do verão fechado dentro do ar condicionado. Lembro-me dos verões de Ipanema, no Pier. Ninguém pode esquecer o Pier.

Mas a imprensa deu uma visão ampliada para tudo o que não gostamos: corrupção muita, terremotos, enchentes, guerras. As coisas boas e belas (que também existem!) ficaram para trás, escondidas. Como o verão.

O pessimismo aumenta com a escolha trágica da TV, que desfigura a realidade, pois expõe somente um lado, o ruim.

A tragédia haitiana nos deprime a todos, e apaga a luz do nosso novo ano. Mas vamos pensar para frente, vamos ajudar, tentar reconstruir aquele país.

Que para o Brasil o pior está por vir: a luta sangrenta de 2010, as eleições federais e estaduais. A luta pelo poder. A grande media vai brigar firme para erradicar o poder popular dominante, a era Lula. A grande imprensa e a classe média vão bombardear. Pela Internet também. Recebo diários vários emails contra o governo e sua candidata. Nem me perguntam se gosto: se estou na Internet é porque devo ser contra.

No Rio dizem que Garotinho vai candidatar-se, junto com Gabeira e Cabral. Luta sangrenta! O povão vai votar no garoto. Ipanema no Gabeira.

Mas não faço aqui política. Faço o elogio do verão, do sol, e do grande leque de cristal.

Como em Shakespeare:

Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

Poema que tiro da Internet, sem saber quem traduziu. No original está:

Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimmed,
And every fair from fair sometime declines,
By chance, or nature's changing course untrimmed:
But thy eternal summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou ow'st,
Nor shall death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st,
So long as men can breathe, or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee.

Não ouso traduzir. Mas…

´Posso comparar-te a um dia de verão? Tu és mais amável e temperado...´

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