Christina M. Herrmann é poeta, webdesigner. Carioca, vive atualmente na Alemanha. Comunidades no orkut: "Café Filosófico das Quatro", "Sociedade dos Pássaros-Poetas" ambas de entrevista e "Orkultural" em parceria com Blocos Online.
Endereço do Blog, reunindo todos os seus sites e comunidades:
http://chrisherrmann.blogspot.com
Coluna 35 - 1ª quinzena fevereiro
próxima coluna: 24/2/2007
DEBATE, PESQUISA, CRÔNICA E CONTO
Destaques desta edição:
Debate (Orkultural): Tema Ciência e Cultura" - Ernesto von Rückert, Christina Herrmann, Marly Lapagesse, Márcia Brasil e Reginaldo Gama
Pesquisa (Orkultural): "O que você está lendo?" - Maria Lucia de Almeida, Cleber Alves, Adriana Carvalho, Ana Neri, Aninha Wagner, Ernesto von Rückert, Rosana, Ângela Maria Duarte, Cida Garcia, Márcia Brasil, Flávio Romero, Nelio Coelho e Marly Lapagesse
Crônica e Conto (CF4): Evelyne Furtado e Antonio Carlos Rocha
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DEBATE: CIÊNCIA E CULTURA
Ernesto von Rückert
30/01/07
Ciência e Cultura
Tenho observado no meio cultural uma impressão de que a ciência é alguma coisa refratária à cultura. E percebo que grande parte da intelectualidade é refratária à ciência. Assim, parece que saber matemática não é condizente com fazer poesia, que compor música é incompatível com entender de física, que um artista plástico não pode ter interesse por química ou biologia. Que filosofia não se casa com informática. Todas essas posturas me parecem inteiramente descabidas. Para mim tudo é cultura, inclusive a ciência. São construtos intelectuais do homem. Acho inadmissível um engenheiro não saber português, história e geografia; um médico não entender de artes e de música; um físico não conhecer filosofia. Do mesmo modo não entendo um advogado que não saiba matemática, um economista que não conheça química, um poeta que não saiba nada de física. Não no nível superior de um profissional da área. Mas, no nível do ensino médio, todo mundo tem que saber de tudo. Se não fica por fora do contexto global da sociedade e da civilização. Como criticar, com conhecimento de causa, as posturas anti-ecológicas? Como julgar os problemas envolvidos pela engenharia genética? Como ponderar os problemas energéticos? Como avaliar as vantagens de um ou de outro sistema de TV digital? Não há escapatória. O mundo é cada vez mais científico. E os técnicos e cientistas não podem se eximir de entender o contexto político e social em que estão inseridos. Cultura é tudo. O que me dizem?
Christina Herrmann
30/01/07
Ernesto, eu penso que cultura (uma palavra, normalmente, direcionada às áreas ditas "humanas"), em verdade, é um pouco de tudo isso. Essas separações têm o intuito de orientar, facilitar estudos, mas, muitas vezes, constróem-se com elas muros atrapalhando o crescimento e o desenvolvimento de todo esse conhecimento humano, carecendo de INTERCÂMBIO, INTERAÇÃO. Vivemos hoje (não somente, mas muito bem incentivado pelo capitalismo e a competição desenfreada) uma "ditadura de especialistas". Porém, há especialistas que só se fixam no objeto de estudo e há outros que conseguem enxergá-lo ainda melhor, vivenciam "outros objetos", afiam seus olhares para o novo descobrindo novos prismas, transcendendo...
Marly Lapagesse
30/01/07
As pessoas ligadas à ciência são, na maioria das vêzes, reféns do exercício da sua especialidade. O ensino médio abre, elementarmente, o caminho para um conhecimento diversificado. Creio que hoje o acesso à cultura é muito mais fácil, tendo em vista os efeitos da globalização e os meios de comunicação existentes, principalmente o da internet (sem o qual não estaríamos aquí debatendo). O ser humano ainda tem uma característica tribal no tocante à sua profissão. Acho que a área artística, pela sua abrangência e característica, é a grande aglutinadora e difusora cultural.
Márcia Brasil
30/01/07
Ernesto, sabe-se que os novos tempos são desafiadores. A Cultura é definida com múltiplos significados e objeto de vários estudos em busca de definições. Na antropologia, que tem a cultura como objeto de estudo, refere-se à “intervenção humana no dado da realidade”. Tudo o que é oposto à natureza, pois é criação ou invenção humana, é da ordem da cultura. A cultura, portanto, manifesta-se por meio de muitas vozes.
Como em outros campos do conhecimento, as perguntas pertinentes e socialmente relevantes da atualidade não encontram respostas nas divisões das ciências convencionais, mas nas formas de manifestação de uma pluralidade de saberes que configuram a cultura informacional dos dias de hoje. Acredito que a cultura seja um conceito de liga, de entremeio, que permite tanto a reflexão quanto a criação de novos conhecimentos e práticas.
Reginaldo Gama
30/01/07
Verticalização do saber
Caro Ernesto: Você tem razão ao falar sobre as diversas formas do conhecimento humano que deveria ter seu alicerce em várias áreas do saber. No entanto, estamos vendo a verticalização do conhecimento, de tal ordem, que tem gente sabendo muito de nada. Acho que a própria estrutura da educação formal dirige o homem ao conhecimento mais "especializado", perdendo com isso uma visão mais ampla da cultura. A própria educação formal faz com que os alunos se limitem ao conteúdo de apostilas. Parece que ler e ter uma visão mais ampla do mundo não é o interesse da juventude. Também me preocupa acreditar que eles podem se informar pela internet. Duvido que tenham "tempo" pra buscar conhecimento, além do msn, jogos, etc. As comunidades, como esta, nos enriquece com pessoas que comungam com o desejo de crescer. É muito bom ler os comentários de pessoas interessadas no progressso e no incremento pessoal de conhecimento em várias áreas, pois vai-nos preparando para uma convivência melhor e entendimento. Num mundo onde a educação formal termina no pós-doc em análise de receptor para um hormônio X na membrana citoplasmática de um réptil raro da costa do fim do mundo, querer que o mesmo adentre ao conhecimento mais global e talves tenha "tempo" pra ler algo que não seja "inútil" ao seu trabalho, é uma tarefa árdua que acredito só ser possível se conseguirmos mudar a mentalidade dos educandos desde a escola fundamental.
Márcia Brasil
02/02/07
Definição interessante...
André Maurois: "Cultura é o que fica depois de se esquecer tudo o que foi aprendido."
Ernesto von Rückert
02/02/07
Multiplicidade de conhecimentos.
Da antiguidade grega até a era moderna os filósofos eram também, em geral, cientistas e matemáticos (geômetras, principalmente). Vejam-se Platão, Aristóteles, Descartes, Leibnitz, Kant. A partir da revolução industrial começou a haver uma distinção entre cientista e filósofo. Acho importante retornar a uma certa multiplicidade do conhecimento. Principalmente no caso do intelectual, que é uma pessoa que orienta e influencia a opinião pública, acho importante que tenha trânsito nas várias áreas do conhecimento, mesmo que seja especialista em uma delas. Mas deve, pelo menos, ser capaz de ler um artigo que não seja da sua área e saber do que se está falando. Bertrand Russell é o meu exemplo de pessoa com esse trânsito. Mas nem todos o possuem.
Reginaldo Gama
03/02/07
Caro Ernesto: Parece que algumas pessoas se preocupam muito pouco com a possibilidade de expandir horizontes. Enquanto fora do pais você percebe o quanto as pessoas lêem, ao verificar nas salas do Louvre as pessoas de diversas idades visitando as obras e classes inteiras de alunos sentados ao redor de determinadas obras, sendo discutidas, percebe-se que estamos muito aquém desse tipo de cultura. Quando se vê o quanto ganha um profesor doutor, se desanima mais ainda. Como ele vai comprar algo com o que ele ganha do Estado. Quando a gente vê o preço das obras nesse país frente ao salário que se percebe, é fato que muitos gostariam mas não têm como manter-se lendo ou viajando ou freqüentando teatro... Mas mesmo assim, é possível não manter-se na obscuridade da cultura, procurando ler, até mesmo nos diversos e-books gratuitos, etc, incrementando conhecimentos. Ao ler os textos inclusos em comunidades sérias, como esta e CF4, entre outras, você tem a possibilidade de orientar-se. Quem recebe o seu convite para encontros com os clássicos, também. O importante, eu acho, é semear. Quando se lê as propostas de discussão dos moderadores, vemos que existem pessoas interessadas em manter acesa a chama de cultura e de multiplicação do conhecimento. Mas retomo a missiva anterior e digo que é necessário começar a incentivar os mais jovens ao interesse pela cultura e erudição, mostrando que isso é um medicamento de efeito a longo prazo, que necessita de um tempo de impregnação de nosso cérebro, onde vai ser metabolizado e posteriormente, integrado a diversas vivências e ai efetuar sua ação plena, diferenciando a vida destes que assumiram o tratamento sem interrupção, e com certeza transmitirão aos seus descendentes a lição aprendida.
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PESQUISA: O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?
Maria Lucia de Almeida
24/11/06
"Cabras, caderno de viagem" (Ou como o grupo Cotovelos Rotos da Capivara Melquíades, composto por quatro distintos cavaleiros, foi ao confins do sertão nordestino com o disparatado propósito de fazer fotonovelas e registrar o gentio e o casario lá encontrados)
Antonio Prata
Chico Maltoso
Paulo Werneck
Zé Vicente da Veiga
Delicioso, intrigante, fantástico! Vale conferir!
Mario Vargas Llosa
Travessuras da menina má.
Cleber Alves
04/12/06
Estou lendo "O Crime de Padre Amaro"
Adriana Carvalho
08/12/06
Yoga para Nervosos do Profº Hermógenes.
Física da alma - Amit Goswami
Ana Neri
09/12/06
Memórias de Daniel Berg.
Aninha Wagner
11/12/06
Gerúndio
Do jornalista e poeta Mauro Veras
Lindo!
Ernesto von Rückert
11/12/06
Minha lista
Costumo ler uns três ou quatro livros simultâneamente.
Atualmente leio:
O Universo em um átomo - Dalai Lama
A Viagem de Theo - Catherine Clément
O Elogio ao Ócio - Bertrand Russell
Os dez mais belos experimentos científicos - Robert Crease
Rosana
18/12/06
"O caçador de pipas". de Khaled Hosseini.
Ângela Maria Duarte
21/12/06
estou lendo O Resgate, de Nicholas Sparks
Cida Garcia
03/01/07
O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini. Grande livro. É uma história de amizade e traição, que nos leva dos últimos dias da monarquia do Afeganistão aos dias de hoje. Você começa a ler e só larga quando acaba. É emocionante e envolvente.
Márcia Brasil
5/01/07
Estou lendo Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Obra atual e importante leitura para os dias de hoje e de uma riqueza criativa insuperável.
Flávio Romero
05/01/07
O conto da Serpente Verde e da Linda Lillie - Goethe
Cida Garcia
09/01/07
Lya Luft
"Perdas e Ganhos" Ed. Record. Ela escreve sobre sua vida vida atual, suas experiências e sobre as perdas e os ganhos da vida. Procura trazer para este livro a esperança, porque acredita "que a felicidade e o amor são possíveis." O que não existe são os desencontros e as traíções, mas ternura, amizade, delicadeza, ética e compreensão. Não é um livro "piegas". Ela escreve sobre o que nós podemos tirar de positivo da vida.
Nelio Coelho
13/01/07
"O mundo é plano" de Thomas Friedman. Sobre globalização. Muito bom!!!
Marly Lapagesse
14/01/07
Caiu na Rede, de Cora Rónai e hoje comecei: Vida Doida de Adélia Prado- "Eu peço a Deus paciência pra fazer um vestido novo e ficar na porta da livraria oferecendo meu livro de versos, que para uns é flor de trigo, para outros nem comida é".
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CRÔNICA
Viva as Diferenças!
A cada dia tenho mais consciência das diferenças entre homens e mulheres. Chego não ver solução nos relacionamentos amorosos, em face dessas desigualdades, mas a esperança persevera. Há uma série de livros que nos mostram o conflito entre os gêneros. Nós mulheres viemos de Vênus e nossos homens de Marte, o que sugere uma distância cósmica. Complexo de Cinderela, de Colette Dowling, livro ícone na década de 80, persegue-me até hoje e faz uma confusão enorme no meu íntimo, pois não me decido entre esperar o príncipe ou fugir deste. Mais tarde li O Erotismo, obra de Francesco Alberoni, filósofo italiano que quase me levou ao desespero, pois ali as distinções eram tão nítidas e cruéis para nós mulheres, que me pareceu ser a única solução para uma união feliz, voltarmos a ser esposas semicastas e compreensivas. Aliando a informação à observação, chego a ficar triste, pois é como se seguíssemos na vida por caminhos opostos. Buscamos intimidade, eles fogem dela; queremos continuidade, eles desejam conquistas; damos mais ênfase à qualidade do sexo, eles adoram a variedade. Há ainda uma série de atitudes que caracterizam o mundo feminino e masculino e ao contrário do que eu pensava não resultam apenas de causas culturais. Os hormônios dão matizes importantes às manifestações comportamentais dos dois gêneros... Nós mulheres somos guiadas por uma dança hormonal ao longo das nossas vidas. Dependendo da fase do mês, somos sedutoras e atraentes; acolhedoras e introspectivas; irritadiças e choronas. Os homens seguem linearmente, com poucas variações hormonais, desde a infância até a senectude. As ondulações dos hormônios para eles se dão através dos anos e não dos ciclos lunares. Visto assim, parece impossível uma relação romântica duradoura e saudável entre homens e mulheres sem o uso da submissão, da manipulação ou de jogos "amorosos". Nesse ponto entra o imponderável. Nós somos os únicos animais capazes de amar e por mais que a ciência tenha se aprofundado no conhecimento da espécie humana, ninguém conseguiu explicar o amor.
Fala de amor o poeta, o músico, o romancista. Fala do amor o amante. Fala sobre o amor quem ama ou amou um dia. Sabe o que é o amor, a adolescente, o homem e a mulher, o negro, o branco, o senhor e a senhorinha que um dia amou. Pois é, fala-se. Especula-se. Criam-se teorias, mas o amor continua inexplicável e na maioria das vezes incontrolável. Há os que condenem o amor romântico, que o responsabilize pela inércia ou mesmo pela escravidão do indivíduo diante da vida. Todavia, como mulher moderna, porém sonhadora e romântica, ainda aposto no milagre do amor. O amor torna possível a convivência, supera obstáculos, adoça o mau humor perdoa as faltas, embeleza o feio, apara arestas e estimula o apetite sexual. Talvez, esteja nas diferenças, o segredo. Precisamos conhecer o outro e amá-lo. Necessitamos do que nos falta e não do que temos em excesso. Contrariando os pensadores modernos, creio que seja benigno buscarmos a completude em alguém, sem depreciarmos as afinidades que são essenciais e é importante que o outro nos acrescente no que nos falta. Quem sabe um esforço para reconhecer as diferenças, ampliar a compreensão do outro, exercitar a humildade e respeitar o ser amado como indivíduo único e merecedor da felicidade não tornem a relação amorosa uma excelente aliada na nossa caminhada de vida no planeta terra? Tomara que sim!
Evelyne Furtado
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CONTO
Cupido
Andréa caminhava solitária pelo Viaduto do Chá. Era domingo, bem cedo, trânsito esparso de veículos, poucos pedestres. Nenhum ambulante a oferecer quinquilharias contrabandeadas. Viera do seu modesto apartamento na 7 de Abril, perto da loja na qual trabalhava como vendedora, suportando o mau humor de fregueses e da gerente, nunca satisfeita com a produtividade da moça simpática e bonita que tratava os homens com carinho e as mulheres com atenção aos caprichos. Domara as emoções repentinas já fazia um ano. Vestira a máscara do sorriso e do olhar complacente. Domingo, caminhada, sol que não espantava o frio, saudades do Mappin falido, da confeitaria transferida para os Jardins, da tela enorme de cinemas transformados em bibocas ou extintos – um passeio nostálgico realçado pelo foco da visão nos prédios antigos. Aspirava a voz doce da brisa que sussurrava promessas de um futuro melhor. Amor, ternura, companheirismo; ela os perdera com o namorado, quando dava ouvidos ao clamor do vento do ciúme, dos elogios masculinos à sua beleza, dos professores cativos do seu esforço pelo aprendizado e dos poemas publicados no jornalzinho do colégio. Abandonada por Rafael, a tempestade do ódio ao ingrato fulgira como trovões durante algum tempo. Depois de algum tempo, o monstro da culpa, do auto-desprezo, do isolamento entre discos e romances que cantavam amores de perdição, passou a ser companhia constante. À noite, chorava; de dia, se enervava. Resolveu dominar as emoções, virar pedra. Com esforço, calou as vozes torturantes. Na televisão, futebol e programas humorísticos. Nos livros, auto-ajuda.
Um dia, sem querer, principiou a ouvir sussurros da brisa dominical nas bandas do viaduto. Um fio de esperança, frio lá fora, e um calorzinho, pequena chama de vela, brilhou no coração. Era Cupido cantando aos ouvidos de Psiche. Foi almoçar numa cantina do Bexiga. Reencontrou o professor Padilha, viúvo, simpático, atencioso, grisalho aos 40 anos, um piadista incontrolável. Convidou-a para a sua mesa, pois também estava só. Vinho, “pastachiuta”, gracejos, e até dançaram a tarantela. Passeio à tarde no Ibirapuera. Novos encontros. Andréa reencontrou o amor-próprio. E foi amada. Cupido passou a cantar com a voz do vento.
Antonio Carlos Rocha
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DICAS E EVENTOS ORKULTURAIS
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