EPHEMERDAS, por GLAUCO MATTOSO

GLAUCO MATTOSO é poeta, auctor de mais de cinco mil sonnettos. Actualmente não compõe mais nesse molde, mas ainda practica outras estrophações.
Para informações sobre a orthographia que adopta, suggere-se accessar:

http://correctororthographico.blogspot.com.br

Coluna 13

AGOSTO/2015:
(2ª quinzena)

EM DESSERVIÇO DA DESUNIDADE

Ja externei minha raiva dos que propõem datas baptizadas de forma muito prolixa, mas existe um outro typo de inutilidade commemorativa: coisas genericas demais, obvias demais, implicitas demais, ou, por outro angulo, hypocritas demais, vale dizer, completamente desnecessarias. Em agosto, por exemplo, temos um raio de "Dia da Unidade Humana", que, segundo o palavreado oco, typico dos discursos politicos, remette à diversidade cultural e, ao mesmo tempo, à egualdade entre todos os habitantes do planeta. Ora, vão lamber sabão! O dia da confraternização universal, em primeiro de janeiro, ja não seria sufficiente? E as varias datas allusivas à raça ou contra a discriminação? Não fazem effeito? Si fazem, para que mais uma? Si não fazem, para que perder tempo?

Não dá impressão de que ja existe o Dia da Chuva no Molhado e o Dia do Dia Nublado? Do Dia do Dia Ensolarado ja nem fallo, pois seria pleonasmo astrologico, né?

Taes besteiras se equiparam, typo Dia do Humanismo, Dia Humanitario, Dia da Conscientização Nacional ou Dia da Comprehensão Mundial. Ja não bastam os dias mundial e nacional dos direitos humanos, em differentes mezes?

Quando me deparo com datas tão inconsistentes, penso logo no Dia da População Terrestre, no Dia do Planeta Terra, no Dia do Kosmo e no Dia do Infinito. Como naquella parlenda infantil: "Viva eu! Viva tudo! Viva o Chico Barrigudo!" Ah, e não é que existe até o Dia do Disco Voador? Esse pelo menos é bem-humorado e suggere abducções em massa de convidados terraqueos às festividades marcianas...

Mas, só para voltar ao tal Dia da Unidade Humana, fiz questão de glosar um motte para a occasião, que segue abbaixo, juncto com um madrigal. E por hoje chega, que ja estamos viajando demais pelo espaço sideral, o qual, aliaz, tambem tem seu dia...

            MADRIGAL SIDERAL

            Poeta que ouve estrellas sabe bem
            aquillo que, do espaço até nós, vem.

            Um disco voador signaes emitte
            que apenas os poetas teem o dom
            de ouvir. De apenas ver e dar palpite
            tem dom qualquer ufologo. Ouço com
            certeza, pois sou cego, e meu limite
            é o fim do proprio kosmo, o escuro tom.

            Affirmo, pois, euphorico e de bom
            humor, que são verdinhos, sim, os taes
            etês, ou marcianos, cujo som
            eu capto com clareza, ainda mais
            si rock estou ouvindo: um do Elton John
            transmitte (o do astronauta) alguns signaes.

            MOTTE GLOSADO

            "Unidade Humana" vale
            festejarmos o seu dia.

            Impossivel que eu não falle
            na questão da raça humana,
            pois, nem mesmo a quem se ufana,
            "Unidade Humana" vale.
            Que a natura nos eguale
            ja duvido, mas a fria
            deducção nos dissocia.
            Si, entre cegos, manda um rei
            mais "normal", é falso, eu sei,
            festejarmos o seu dia.

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