Christina M. Herrmann  

Christina M. Herrmann é poeta, webdesigner. Carioca, vive atualmente na Alemanha. Comunidades no orkut: "Café Filosófico das Quatro", "Sociedade dos Pássaros-Poetas" ambas de entrevista e "Orkultural" em parceria com Blocos Online.
Endereço do Blog, reunindo todos os seus sites e comunidades: http://chrisherrmann.blogspot.com

Coluna 40 - 2ª quinzena de abril
próxima coluna: 8/5

CRÔNICAS & CONTOS

Nesta edição, trazemos a vocês uma bela seleção de Crônicas e Contos postados na comunidade Café Filosófico "Das Quatro" (CF4) :

Breve Crônica sobre o Amor de Evelyne Furtado , O Feminino no Século XXI de Antonio Carlos Rocha, Devaneio de Nadime Ignez Scarpellini Prioll, Amor Platônico de Carmem Lúcia Carvalho e Mulher de Peito de Marisa Rosa Cabral.

Boas leituras e até à próxima quinzena!


* * *
 


Breve Crônica Sobre o Amor

Evelyne Furtado

O poeta Ferreira Goulart, em depoimento no delicioso documentário sobre Vinícius de Morais, de Miguel Faria Júnior, diz que a vida tem que ser inventada para ter sentido e que o nosso poetinha deu definição à sua (vida) amando. Concordo, com ambos. Alguns de nós, temos que encontrar razões para dar sabor à nossa passagem por aqui.

Há os que elegem o poder ou o dinheiro. Outros o trabalho, a família ou uma religião. Há ainda os se apegam a uma ideologia, um vício ou até um time de futebol para se motivar a viver.

Acredito que a fé em Deus, a família e o trabalho são belos motivos. O sexo e outros prazeres são agentes motivadores, também, mas o amor... Ah, o amor! O amor tem um poder imensurável e veste de lirismo a árida jornada do homem no planeta.

Cultivo meus valores e aposto no amor, assim como aposto na.fé em Deus Elejo-os como alicerces. Creio no amor filial, materno e paterno, fraterno, universal e romântico.

Todavia, peço licença ao leitor para tratar aqui do amor romântico. Esse sentimento cantado em verso e prosa há milênios. O Cântico dos Cânticos de Salomão, no Antigo Testamento é uma belíssima elegia ao amor erótico e desmente os defensores da tese de que ele, o amor romântico, é novidade.entre nós. Na verdade, o sentimento sempre existiu, apenas era reprimido por outros valores, mas esse é assunto para outro texto.

Segundo Freud, somos movidos por dois impulsos: Eros, que representa vida e Tânatos, que simboliza a morte, ou a inexistência do prazer de viver. Quando amamos e somos amados vivemos plenamente e Eros nos conduz; no entanto a ausência do objeto amado, nos rouba a alegria de viver e, nesse momento, Tânatos é a força que atua.

Shakespeare, em Os Dois Cavalheiros de Verona, comparou a separação da amada à morte, como vemos nesses lindos versos:

“Morrer é ser banido de mim próprio; e eu sou Silvia.
Estar de Silvia banido é estar banido de mim mesmo. Banimento mortal!
Que luz é luz, se Sylvia não foi vista?
Que alegria é alegria é alegria, se Silvia estiver longe?”

O amor é luz, sim. E sou testemunha de que a visão do ser amado atua como um raio de sol em meio à neblina e chega ao coração, iluminando o rosto, aquecendo a pele e fazendo festa na alma. Quem ama ou amou uma vez na vida, conhece essa sensação.Encontros de amor são das mais belas celebrações à vida.

Nesse mundo cada dia mais pragmático, consumista e globalizado ser romântica é ser anacrônica, porém se tenho que “inventar” um motivo para viver, invento o amor. Melhor, eu vivo o amor e recebo suas manifestações como dádivas divinas.

Em tempos de violência, corrupção, desrespeito, mentira e outras mazelas, o amor de verdade é salvação para as dores que afligem corações e almas.

E para concluir essa breve crônica sobre o amor, volto a Shakespeare, em versos extraídos do clássico Romeu e Julieta, que definem o tema e compensam o leitor pela leitura desse texto modesto, porém sincero.

“O amor é fumaça formada pelos vapores dos suspiros. Purificado, é um fogo chispeante nos olhos dos amantes. Contrariado, um mar alimentado pelas lágrimas dos amantes. Que mais , ainda? Loucura prudentíssima, fel que nos abafa, doçura que nos salva."

 

Devaneio (?)

Nadime Ignez Scarpellini Prioll

Eu tive um sonho. Estava num país de dimensões gigantescas... E eu o apreciava lá de cima, pois eu estava voando! Sob essa perspectiva eu via uma imensidão verde com pinceladas de azul. Quanto mais eu me aproximava, seus contornos se definiam. Pensei se tratar de uma obra de Monet. Fui tragada por essa beleza e decidi pousar. Foi difícil decidir onde: tudo naquele lugar era deveras estonteante!

Resolvi seguir a intensidade do verde e fui para o norte. Nunca havia visto floresta tão rica, com árvores altas e imponentes. Aos poucos fui deslumbrando-me com os animais: macacos, antas, garças... Cheguei nas margens do rio e encontrei peixes-boi, ariranha, lontra, tartaruga...Nossa, a diversidade da fauna e da flora era tamanha que eu não saberia descrevê-la! O estranho foi que após muito caminhar, não vi nenhum sinal de vida humana. Sobrevoei a área: não havia casas, pastos... nada!

Segui em direção ao nordeste. Deparei-me com um chão árido. Mas isso não tornava a região feia. Sobre a minha cabeça, passou uma formosa ararinha-azul. Atravessei a área em meio a juazeiros e jatobás, veados e gatos selvagens. Topei uma serra e a sobrevoei. Para minha surpresa, após ver à distância uma mata densa, contemplei uma imensidão de areia e, avante, o mar. Parecia o paraíso! 

Continuei minha aventura. Fui para o centro do país. Avistei matas e rios, e também muitos animais, como o temível jacaré e a exuberante onça-pintada. Depois, chapadas e cachoeiras. Nas margens de um enorme rio (chegava até o nordeste semi-árido), havia lobo-guará e gavião. Seguindo em direção ao litoral sudeste, vi uma vasta floresta. Pude constatar que ela se estendia do sul até o nordeste do país. Pousei e logo notei os micos-leões-dourados e os tamanduás. E incontáveis espécies de flores, como as orquídeas. Fui para o sul, pelo seu interior, e encontrei as araucárias e, mais adiante, uma vasta planície verde.

Terminada a viagem, percebi que aquele lugar se assemelhava ao que um dia fora meu país. No entanto, não havia homens, mulheres ou crianças em parte alguma. Dei-me a chorar desesperadamente! Então escutei uma voz: “Vocês se extinguiram! E assim, conseguimos renascer!”. Espantada, perguntei: “Quem é você?”. A voz respondeu solenemente: “Sou a natureza!”.

 

O Feminino no Século XXI

Antonio Carlos Rocha

A intuição, o amor maternal dirigido ao próximo e a sagacidade feminina estão abrindo nova era no mundo. A estupidez machista que dominou as eras anteriores disfarçada de sabedoria, nos legou violência, fanatismo, guerras, inquisições, tiranias. O feminino na alma de todos os seres humanos, afinal, começa a brotar. Do protozoário ao “homus erectus” passaram-se milhões de anos. O domínio do macho sobre a fêmea durante milhares de anos, do fisicamente mais forte sobre o mais fraco predominou como forma de adaptação a uma Natureza hostil cuja flora e fauna ameaçavam a espécie dotada de mente racional.

Coube ao homem aprender a controlá-la e quando o fez, sentiu-se senhor do mundo e de seus semelhantes. Violou-a e violentou irmãos – somos todos filhos de Gaia – para sentir-se forte e assegura-se da sua capacidade de dominação, compensação ao medo original que arquetípico, ainda o apavora quando se defronta com o infinito do universo surdo e mudo. Criou deuses, religiões, filosofias, leis e meios de enforçá-las para conviver em tribos e nações.

A mulher foi sua parceira submissa durante os séculos nos quais a força prevaleceu, e ainda prevalece, sobre a razão e o instinto de solidariedade indispensável à preservação da espécie. Aos poucos foi tendo coragem e estímulo para mostrar-se igual, o feminino e o masculino convivendo e atuando no mesmo patamar. Contudo, coube e cabe à mulher disseminar o amor maternal que a Terra tem por todos os seus filhos, exercer o papel de mestra das crianças, exaltar a paz, condenar a violência, a degradação ambiental e dos marginalizados, e usar sua intuição e inteligência para dirigir empresas e até países.

Sua função no mundo do porvir ainda está alvorecendo.Somos crianças imaturas crescendo num novo milênio.A herança transgeracional de ódios, preconceitos, discórdia, ganância, fanatismo e guerras demora a diluir-se no sangue da humanidade.Mas os microscópios já notam o aumento dos glóbulos brancos do feminino para combater as infecções da masculinidade.

 

Amor platônico

Carmem Lúcia Carvalho

Era uma cidadezinha do interior onde em sua praça, cartão postal do lugar, ficaram guardadas muitas histórias de amor, que lhes davam um toque de romantismo, com sua fonte luminosa que fazia bailar suas águas furta-cores e sonhar os jovens apaixonados. O clima contribuía para que ela fosse uma garota sonhadora. Nem bonita, nem feia, mas carismática, de olhar meigo e profundo. Seu grande sonho: ser bailarina e dançar,um dia,no Teatro Municipal .Dedicava grande parte de seu tempo ao ballet clássico. Aos sábados e domingos, ia à praça ou ao cinema, com as amigas. Às vezes, ao clube, onde sempre aconteciam bailes inesquecíveis.

Certo dia, um burburinho veio mudar a rotina da cidade. Pelo menos a das meninas, que começaram a se enfeitar, a rir à toa e a cochichar segredinhos, umas às outras. Para o azar dos meninos, que carrancudos, não conseguiam disfarçar os ciúmes.

Chegara, recentemente àquele lugar, um moço, mais precisamente um príncipe, que era o que parecia. Não levou muito tempo e muitas garotas foram flechadas pelo cupido. Para a menina bailarina, ele passou a ser um sonho inatingível, impossível. Não poderia jamais competir com as outras, lindas, bem vestidas e deliciosamente extrovertidas, realidade bem diferente da dela, pela simplicidade de se vestir, de vida e pela timidez nitidamente retratada em seu olhar. Sentia-se a própria gata borralheira. Porém, na dança, conseguia extravasar, livrar-se desse seu fardo. Nessa época preparava-se para dançar numa grande festa que estava para acontecer no clube da cidade. Havia feito muitos ensaios,sempre incansável, num pátio de sua escola, ao som de uma vitrola.

Na véspera da festa, o último ensaio seria no clube e com piano. La Violetera era a música. Subiu ao palco e viu surgir o pianista. Nesse momento pensou que seu coração fosse sair pela boca. Era ele, o príncipe! Ainda mais lindo, trazendo o céu no olhar. Ambos se olharam. Ela procurou conter sua emoção e ao ouvir os primeiros acordes musicais, começou a dançar. E dançou, dançou como nunca.  Parecia levitar, alcançar as estrelas, roubar-lhes seu brilho, perambular entre elas. Ao terminar ouviu aplausos. Ele a aplaudia em pé. Ela fugiu do palco e dele, pois lágrimas de emoção e encantamento rolaram por suas faces e não queria que ele as visse. Chegara o grande dia! Caracterizada como verdadeira vendedora de flores, ela carregava um cestinho dourado, repleto de buquês de violetas azuis e brancas. A cortina se abriu e as luzes dos refletores fizeram dela uma figura etérea, surreal. Ela olhou para seu amado, que lhe abriu um largo e branco sorriso, talvez de admiração, lançando-lhe seu olhar mais azul do que nunca. Era a glória!

Durante a coreografia, ela desceu do palco e atirou para a platéia embevecida os buquês que carregava. Havia reservado o último para o pianista, seu príncipe. Ao voltar ao palco, colocou as violetas em cima do piano. E juntamente com elas, todo o seu amor, num gesto que simbolizava entrega total, a quem conseguisse perceber.

Encontraram-se casualmente, algumas vezes, na praça e por várias vezes ele tentara falar-lhe... e ela fugia sempre. Seu desejo era o de declarar o seu imenso amor por ele, gritar ao mundo, deixar os borralhos, tornar-se Cinderela, mas sua timidez, o rubor de suas faces a impediam.Nunca havia namorado ninguém.Mas enamorara-se dele,perdidamente.

Numa tarde de domingo o viu ao lado da fonte e da menina mais bonita da cidade. De mãos dadas, trocando beijos e abraços. O céu desabou... O chão se abriu.De repente se fez noite.E ela chorou copiosamente. Sentiu que o perdera, sem ao menos nunca tê-lo tido, sem ao menos um único beijo. Sua primeira desilusão amorosa. Sua primeira dor. Seu primeiro amor.

Fim de um sonho de adolescente. Soubera, através de amigas, que ele havia ido embora do país, tocar piano no exterior. Continuou sua vida, dedicando-se ainda mais a sua arte:o ballet clássico. Porém, o vazio que seu primeiro amor (platônico) havia deixado jamais fora preenchido.

 

Mulher de Peito!

Marisa Rosa Cabral

“Homem! Pra que tê-lo, mas se não tê-lo como sabê-lo?” Deveria ter sido escrito exatamente assim o famoso texto de O Profeta de Kahlil Gibran, sem tirar nem pôr! Pensei, impaciente, pegando a bolsa sobre a mesa, ignorando as indiretas de Túlio a respeito da consulta de Mariana para as sete horas no centro da cidade.

Vaidades! Vaidades! É só isso que sabe dizer quando o assunto não lhe compete. Se fosse para uma partida de futebol, estaria pronto há séculos.

“- Vaidade é uma ova! Minha filha não vai crescer com complexos. Já basta ser pobre, pois pra isso não tem médico que resolva.” Gritei exausta pegando Mariana pela mão, saindo porta afora.

- Ele se quiser que nos alcance! Falei sozinha comigo mesma, lembrando os cento e vinte três dias, catorze horas e vinte e dois minutos de angústia esperando por esta bendita consulta, que não deixaria perder pela preguiça de um marido imprestável.

A carona de Cícero veio a calhar. Por graças, chegamos bem adiantados. Deixei marido e filha acomodados esperando, e fui me certificar das coisas por ali. Furtei disfarçadamente um cafezinho na sala de exames e caminhei pelos corredores respirando fundo a fim de amenizar a tensão.

Lembrei carinhosamente de Gilda. Foi ela quem me instruiu e até indicou o melhor cirurgião plástico da Santa Casa. Dr. Carlos Gusmão. O mesmo que há cinco meses executou a bela plástica em seus patrimônios, pois era assim que ela se referia aos próprios bustos avantajados. “Hoje tombados e esquecidos, mas quando firmes fizeram muitas histórias por aí!” Gargalhei sozinha esquecida de tudo ali.

De fato ficaram lindos! Parece até, seios de moça solteira. Graças às mãos do doutor, ainda permanecem aptos em fazer histórias por aí.

Tomara Deus que o médico, tão competente, promova o mesmo milagre com o nariz “chato” de Marianinha... Será que ele conseguiria mudar também o ânimo de marido imprestável? Pensei sorrindo dispensando o copinho plástico à lixeira.  


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