Coluna de Rogel Samuel
Rogel Samuel é Doutor em
Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista,
cronista, webjornalista.
Site pessoal:
http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/
Nº 174 - 1ª quinzena de abril de 2010
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)
Próxima: 25/4/2010
A invenção do futebol pelos índios Cambebas
O futebol foi “descoberto” no Amazonas. Digo sempre isso.
Os Kambeba - ou Omágua (no Peru) - um grupo que deixou de se identificar como indígena e depois voltou a sê-lo com o crescimento do movimento indígena da década de 1980 e o reconhecimento dos direitos indígenas pela Constituição de 1988 – os Kambebas... inventaram o futebol.
Hoje, os Kambeba passaram novamente a se afirmar como índios e a lutar pelas causas indígenas.
Mas não lutam pelo título de inventores do futebol.
Eles “têm assumido uma posição destacada na região por sua grande capacidade de negociação e articulação política com outros grupos indígenas e com agências governamentais e não-governamentais, religiosas e laicas, da sociedade envolvente”.
Nesse ano de Copa, é lembrar alguns indiozinhos Cambebas que inventaram a bola, o futebol, a Copa, no Amazonas de 1744.
Como foi?
Quando La Condamine, em meados de 1744, descia o Rio Amazonas por inteiro, desde as montanhas peruanas até Bélem do Pará, viu uns indiozinhos jogando bola de látex, balata, na praia.
Maravilhou-se ele e trouxe a bola para a Academia das Ciências de Paris.
Lá, triunfante, jogou a bola no chão, num escândalo, para todos os sábios.
No dia seguinte, publicaram os jornais: "Estranho objeto desafia a lei da gravidade".
Ao látex, La Condamine chamou de "caoutchouc", dizendo viria a ser de grande valor industrial, e que os portugueses aprenderam dos omáguas, discípulos dos Incas, que já o conheciam, sua extração e beneficiamento.
Alguns autores dizem que Colombo já a conhecera no Haiti.
Assim afirma o Mestre amazonense João Nogueira da Mata, em "Biografia da borracha", de 1978, que tenho com sua dedicatória.
Lembro-me de Ademir da Guia. Não o jogador, mas o poema de João Cabral. Pois o látex é uma gosma grudenta como cola:
Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.
Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o.
Ritmo morno, de andar na areia,
de água doente de alagados,
entorpecendo e então atando
o mais irrequieto adversário.
Sobre os nossos índios, o poeta Jorge Tufic escreveu:
“Da antigüidade seletiva dos tucanos,
muras e cambebas?
Lembras-te, por acaso,
da bola de sernambi que estes últimos
te deram, ainda em pleno século XVII,
e do jogo que eles jogavam
num campo sem traves e sem torcidas?
Numa rede de dormir
os brancos degustam teu massacre
mas olvidam o teu legado,
esse imenso legado que sucedera ao jugo,
impiedoso e cruel,
daqueles teus primeiros habitantes,
plantadores de sombras,
raízes da terra.
A língua franca dos mitos
e do lendário esquecido".
Os Cambebas são um grupo indígena que habita o médio rio Solimões, no estado brasileiro do Amazonas, mais precisamente nas Áreas Indígenas Barreira da Missão, Igarapé Grande, Jaquiri e Kokama.
Na realidade, só existiam 347 cambebas em 2006.
________
Arquivo de crônicas anteriores:
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48 , 49, 50, 50ext, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74 , 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114 , 115 , 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 134 , 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 143, 144 , 145, 146, 147, 148, 149, 150 , 151, 152 , 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 162 , 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173
Conheça o "NOVO MANUAL DE TEORIA LITERÁRIA" (4ª ed., Vozes): e "O AMANTE DAS AMAZONAS", 2ª EDIÇÃO, EDITORA ITATIAIA: este romance, baseado em fatos reais, históricos, conta a saga do ciclo da borracha, do apogeu e decadência do vasto império amazônico na maior floresta do mundo. Cerca de cem volumes da época foram lidos e mais de dez anos de trabalho necessários para escrever esta obra. CLIQUE AQUI PARA LER ONDE VOCÊ PODE ENCONTRAR O ROMANCE DE ROGEL SAMUEL.