1ª quinzena de julho
Os ares do Brasil
Trago, em meu cheiro, um aroma do sul, herança de meu pai. Gosto do feijão preto bem temperado, a farinha fina e branca sobre ele, o arroz soltinho . Comida na mesa farta de cores e variedades, sem luxo, mas rica no capricho dos temperos.
Só não me acostumei ao mate. Aí entra no meu sangue o interior paulista de minha mãe, cheirando a cafezinho fresco. De Minas, trago o açúcar na água que ferve antes de receber o pó escuro da bebida gostosa.
Como agora sou moradora do Paraná, não dispenso um bom churrasco. Acompanha salada de um grande feijão plantado e colhido por índios de diversas regiões próximas.
Hum! Iguarias à parte, carrego o saudosismo herdado de terras que nem conheço.
“Prenda minha” foi canção da infância, ouvida recostada no peito do sulista progenitor. O cantar do “tu foste”, “tu vieste”, “tu viste”, me trazem sons familiares.
Misture-se a essa saudade um bom palavreado porreta bahiano , encantos de Amaralina , moqueca, cocada puxa, acarajé e siri catado. Areia grossa, como se fossem conchinhas quebradas. O cheiro: ah, o cheiro da Bahia mora em mim!
Da casa da avó trago o perfume dos temperos naturais enriquecendo a comidinha fresca, cozinha com aroma de fogão à lenha. No feijão o toucinho, às vezes um torresminho crocante e apetitoso.
Bem, se quiser saber quem sou, misture esses cheiros, esses sabores, os sotaques, faça um mix , acrescente uma paulista do interior (puxe no r), ex-moradora da desvairada e enlouquecida capital paulistana; tempere com um saudosismo inexplicável de tudo que não vi e não vivi. Dê-me uma caneta e um papel, que a inspiração vem de todos os lugares, de todos os cheiros, de todos os sabores, de todas as pessoas que conheci, de tudo que eu vivi e do que eu gostaria de ter vivido.
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