Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

Nº 175 - 2 ª quinzena de abril de 2010
(atualização quinzenal, dias 10 e 25)
Próxima: 10/5/2010

Terremoto no Tibet

A nossa mídia colaborou entre nós para a destruição do Tibet.

A notícia sempre acentuava “terremoto na China”, e nunca dizia que era no Tibet.

Não era China, mas o belo e sagrado Tibet ocupado invadido expropriado dominado tomado usurpado à força pelo exército vermelho chinês em 1958 sob os olhos complacentes do mundo civilizado...

O Tibet é um dos berços do mundo civilizado com uma civilização milenar.

Foi massacrado.

Como no Timor Leste, como contra os armenos, os judeus, no Congo, na Nigéria, em Ruanda, na Bósnia...

Milhões de tibetanos foram mortos, torturados.

Eu conheci um monge que foi torturado, o lama Zinpa, que ficou 3 anos preso (acorrentado acabou com um grave defeito no pé).

A jornalista Christina Pinheiro escreveu sobre ele o seguinte:

“Ele conta que sua família tinha terras e gado e que viu os pais serem levados pelos chineses nos primeiros anos da invasão. Ficou na terra com uma avó velhinha e uma irmã criança. Nos meses que se seguiram, eles foram obrigados a dar praticamente toda a colheita para os chineses. A avó e a irmã morreram de inanição, ele foi pra Lhasa e entrou no meio de uma passeata de protesto contra a ocupação. Foi preso sem julgamento, apanhou muito e permaneceu na prisão por três anos.

“Ele conta que os chineses davam aos prisioneiros tibetanos por dia apenas um tea momo (uma insossa bola de farinha cozida no vapor) e um café.

“Quando saiu da prisão, pensou que tinha duas opções na vida: ficar no Tibet e matar o maior número de chineses que pudesse ou ir embora, virar monge e tentar purificar o mau carma que acreditava ter. Levou seis meses andando e mendigando até chegar a Katmandu. Lá entrou no Monastério dos Mil Budas, em Boudhanath, conheceu Dazang Rinpoche (uma emanação de Gampopa), tomou votos e virou monge.

“De lá para cá, não parou mais. Na tentativa de fazer o máximo de bom carma possível nesta vida, Zinpa já fez três vezes o retiro de três anos: duas no Nepal (em Pullahari, Jamgon Kongtrul Rinpoche) e uma na Índia (em Sherab Ling, Tai Situ Rinpoche). A cada vez que sai do retiro, vem com menos dentes e mais problemas para andar. Mas nestes anos todos nunca perdeu um bom humor inquebrantável, é conhecido em Boudha por ser grande piadista e grande meditador.

“Quando me despedi dele em 2008, da última vez que fui para lá, ele me disse que faria ainda outro retiro de três anos”, escreveu Christina.

 

O terremoto

 

O terremoto destruiu, na região de Qinghai, o Monastério Thrangu, a cinco quilômetros da cidade de Jyekundo, província de Yushu.

Escreveu Khenpo Karthar Rinpoche:

“Da capital da província até lá são 800 quilômetros em uma árdua jornada que não dura menos de 12 horas , mas que cruza algumas das paisagens mais belas do planeta, intocadas pela civilização moderna. As montanhas majestosas e os lagos de um azul turquesa profundo do planalto tibetano são também a origem de três grandes rios da Ásia: o Amarelo, o Yangtsé e o Mekong”.

“Ali, no século VII, a princesa chinesa Wen Cheng se casou com o rei tibetano Tsongtsen Gampo, e mandou construir o monastério, que chegou a ter 10 mil monges residentes”.

“Ao longo de sua história de 1300 anos, o Monastério Thrangu já foi destruído duas vezes.

“A primeira foi há 245 anos, por um grande terremoto, e daquela vez como agora o templo principal não foi destruído.

“Na época pensou-se em reconstruí-lo em outro local, mas a decisão final foi de mantê-lo lá mesmo e ele ganhou o título de "vitorioso sobre os obstáculos dos quatro elementos".

“A segunda destruição foi durante a Revolução Cultural, arrasado pela Guarda Vermelha.

“A permissão para reconstruir só veio em 1982. A partir daí, um enorme esforço para a reconstrução foi feito por monges e pela escassa população da região de Jyekundo. Até o terremoto astual, além do monastério, ali funcionava também uma universidade de filosofia e lógica, um centro de retiro e uma escola primária para jovens. Duzentos e cinquenta monges e 65 crianças moravam no local”.

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