POESIA PARA MUDAR O MUNDO - 2014 - BLOCOS ONLINE
Rosy Feros

Rosy Feros - Escritora, fotógrafa, publicitária, natural de Santos (São Paulo, Brasil). Presente em várias coletâneas literárias impressas e sites na internet, com ensaios, artigos, poemas e entrevistas. Lançou o livro de poesia "Tecendo Diários" (Ed. Blocos, 2000). Em 2001, participou como poeta convidada da peça teatral Poesia.br. Participou, em 2008, do intercâmbio cultural Brazilian Women Writers, programa do Departamento de Línguas e Literaturas Modernas da Universidade de Miami (Flórida/EUA). Editou por quase dez anos o blog Fractoscópio: Conectando Saberes, que reúne notícias, ensaios e insights poéticos sobre arte, comunicação e cibercultura. Citada na Enciclopédia de Literatura Brasileira (2001) e no Dicionário de Mulheres (2011). É membro da REBRA – Rede de Escritoras Brasileiras. Site pessoal: http://www.rosyferos.com.br

EMULANDO-ME E RECRIANDO-ME

Eu reproduzo, represento, finjo, crio a minha melhor cópia.
Não sou eu minha cópia?
Simulo minha realidade em mil simulacros de mim mesmo.
Reconheço-me no espelho, da mesma forma que toco minha pele ou ouço minha voz.
Minha reprodução fiel não é eu, à minha imagem e semelhança?

Meu modelo de perfeição é repetir-me inteiro, e aos estilhaços, a cada nova manhã.
Reproduzo-me todos os dias, ovulando e recriando-me,
fingindo que sou o mesmo, sem mais o ser.
Minha perfeição não existe.

Minha efígie é minha imagem, divindade à qual me rendo e em que me descubro.
Minha imagem fala de mim mais que me sei.
Meu simulacro não é redundância, mas redonda ganância de ser.
Não é fingimento nem disfarce. É meu enlace comigo:
compreendo-me através de minha imagem-metade.

Emular é pôr-se de igual para igual, buscar cooperação pela igualdade.
Minha imagem é uma emulação ou simulação de mim?
Emulo-me: quanto mais me vejo, mais quero me ver.
Narciso acha feio o que lhe é estranho.
Simulo-me: quanto mais me reproduzo, mais eu tento ser.

Na natureza, nada se cria: tudo se emula, simula, estimula.
Se simular é recriar, sou sequência infinita de simulações de mim.
Ao me imitar, recrio-me. Normalidade é repetir-se.
Minha norma é arremedar-me, imitar-me até me sentir.

Eu reproduzo, tu copias, ele simula. Nós emulamos, eles imitam.
Meu estímulo é te emular para ser como eu mesmo.
Somos todos emanações de um só mesmo desejo:
nosso desafio maior é sermos fiéis ao nosso próprio espelho.

Rosy Feros
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