COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ

Nº 27 - 6/10/2007
(próxima: 21/10/2007)

          

O primeiro Dia

Laura olhou à sua volta. Deixaram-na num lugar imenso, um colégio muito grande e bonito no qual ela se sentia perdida. Sua mãe entregou-a a uma irmã sorridente que parecia estar responsável pelas crianças. Para onde iria agora?

Uma sensação de vazio apoderava-se dela e aos quatro anos não entendia exatamente o que estava fazendo ali. Estudar... Assim seus pais lhe disseram com seriedade imensa há vários dias enquanto preparavam-na para enfrentar uma vida diferente.

Sabia o que era estudar, ou pelo menos pensava que sabia. Enquanto via seu irmão mais velho aprendendo com um professor, captara e se fascinara por aqueles sinais que pareciam significar um mundo desconhecido e outros e diversos caminhos. Não sossegou enquanto não conseguiu unir os símbolos um ao outro e então caminhar entendendo seu sentido, devaneando com eles e ficando impressionada à medida que avançava.

Queria aprender mais sim, e tinha muitos livrinhos ali ao seu alcance no material que trouxera, mas era o mínimo perto da enorme biblioteca de sua casa, onde se sentia feliz. Não entendia ainda a maioria dos livros, porém tinha certeza que breve estaria amiga inseparável de cada um.

Naquele lugar em que pela primeira vez se encontrava longe de sua família e as fisionomias lhe eram desconhecidas seguindo os passos que lhe orientavam admirava cautelosamente um lugar diferente. Seria sempre assim?

Muitos adultos, que ela imaginava serem os professores olharam para ela, pegaram em seus cabelos, mas era diferente do modo com que sempre a contemplaram. Como se fizessem isso automática e distraidamente, faltava algo naqueles olhares.

O dia não estava sendo ruim, muitas brincadeiras, choro de outras crianças e enquanto procurava se situar parecia não se encontrar num lugar seguro embora tivesse certeza que sua mãe jamais a deixaria desprotegida.

Queria falar, o som não saía, precisava dizer que sabia o que a professora ensinava... Porque tantas crianças à sua volta apenas sentadas e cada uma mais acuada que a outra? Seria esse o mundo dos adultos?

O sol era muito claro quando saíram para brincar no extenso jardim. Tinha certeza que aquele gosto amargo na boca, vontade de chorar para compreender, o lanche que lhe serviam eram completamente ignorados em seu mundo infantil.

Era essa a vida que levaria de agora em diante? Fechou os olhos, apareceram imagens desconhecidas, estava tonta... Quando os abriu tudo parecia melhor, sorriu para uma coleguinha que lhe lembrava alguém que lhe era familiar, quem seria?

A tarde caía, quando ela esperou junto com outras crianças alguém para lhe levar para casa, tinha certeza que já começara a se habituar naquele lugar embora não conhecesse nem uma terça parte de seus cômodos.

Como uma sonâmbula chegou a casa e se escondeu em seu quarto. Lágrimas desciam de seus olhos, mas tinha certeza que jamais voltaria a sentir medo da grandiosidade do colégio, das pessoas desconhecidas. Seu rostinho febril se encostava atordoado ao travesseiro, os soluços aumentavam até que o pranto parou e com tranqüilidade estranha para uma criança tão pequenina desceu para atender o chamado de seus pais.

Respondeu às perguntas sem titubear e quando acordou pela manhã tinha compreendido que não voltaria a experimentar a dor de ontem, mesmo que os sonhos ainda estivessem presentes como fantasmas em sua cabecinha.

Sorriu alegrando-se com a luz que invadia seu quarto, realizando evoluções delicadas em passos de dança, o que adorava fazer quando estava feliz ou podia passear, brincar com os amigos, andar de patins em ritmos absorventes que faziam os adultos tremerem de medo e quando compreendia o sentido das frases que vagarosamente lia. O sentido do viver. Preparou-se para seu segundo dia no colégio...

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