COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ

Nº 30 - 21/11/2007
(próxima: 6/12/2007)

          


Dia da Consciência Negra

O dia da consciência negra para mim chama-se integração. Precisamos como já disse algumas vezes fazer com que negros, brancos, olhos amendoados, redondos, cabelos loiros, pretos ou castanhos, lisos ou encaracolados e diversas línguas estejam irmanados no mesmo sentimento profundo e fraterno.

A cor da pele, a religião, raça, conceitos, civilização formam um só magnífico mundo. E os negros por tudo que sofreram estão entre aqueles que merecem nosso respeito especial, tal como as mulheres de qualquer raça que já foram escravizadas pela ausência de participação e por  terem sido dependentes do homem.

Tudo isso me faz voltar novamente à minha infância e lembro-me de dois tios negros que meu avô adotou  e que eram amados  e tinham os mesmos direitos de suas filhas.

Nós, os netos, crescemos tendo profundo respeito e carinho por aqueles dois tios, um dos quais eu tinha verdadeira admiração. Muito alto, os dentes perfeitos, sorriso fascinante que me encantava também pela confiança e segurança depositada nele. Sempre me passava as notícias que trazia naquele tempo no jornal debaixo do braço para depois levá-lo até minha avó. Os dois chamavam meus avós de pai e mãe e eram amados como filhos dedicados.

O outro era brincalhão e extrovertido, falava horas com minha mãe ao telefone e ambos estudaram bastante e eram maravilhosamente humanos e compreensivos.

Nunca pude compreender esse preconceito contra o negro já que em minha família eles faziam parte de nossa vida literalmente.

Um deles morreu há algum tempo o que nos fez curtir uma saudade intensa e doída. O outro está conosco, já se aposentou e vive com sua mulher, mas realmente nunca vi ninguém tão deslumbrado pela mãe que o criara como era esse homem que aprendi a amar desde pequenina.

Claro que pessoas egoístas, invejosas e sem o senso do direito e do dever existem em toda a humanidade em qualquer raça, religião ou  ambiente, mas o  doloroso é imaginar seres humanos discriminados pelos seus traços, características genéticas ou lugar em que nasceu. Sei, é claro que o preconceito existe de uma maneira quase aviltante, porém tentemos lutar pela união dos seres viventes que são nossos pares no planeta e essa luta primordial que deveria ser inerente em qualquer um de nós.

As classes excluídas são tantas e de tal forma variadas que eles mesmos se descriminam em si. Isso é terrivelmente triste e de uma perversidade avassaladora.

Esse mês em que se comemora o Dia da Consciência negra precisamos entender como é importante saber discernir qualquer ato pouco generoso de nossa espécie humana e entender como foram sofridos os dias de escravidão tolhidos e maltratados por brancos que se achavam com direitos inalienáveis até de torturar. Isso é realmente uma vergonha que nos devia impulsionar a querer resgatar anos dessa história triste e vil.

Prestar homenagem à consciência negra não significa admitir um preconceito, ao contrário, é a homenagem justa que prestamos a nossos irmãos, inteligentes e talentosos que tiveram que parar tanto tempo na demonstração de suas potencialidades por motivos covardes e cheios de supremacia.

O dia da Consciência negra se comemora no dia 20 de novembro no Brasil pela morte de Zumbi que se dedicou à causa negra e à luta pela liberdade  e constitui símbolo da resistência negra à  escravidão abominante.

Embora o racismo seja negado insistentemente sabemos que ele existe é que uma vergonha que empana  qualquer ato heróico e ético da humanidade inteira.


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