Christina M. Herrmann  

Christina M. Herrmann é poeta, webdesigner. Carioca, vive atualmente na Alemanha. Comunidades no orkut: "Café Filosófico das Quatro", "Sociedade dos Pássaros-Poetas" ambas de entrevista e "Orkultural" em parceria com Blocos Online.
Endereço do Blog, reunindo todos os seus sites e comunidades: http://chrisherrmann.blogspot.com

 Coluna 52 - 2ª quinzena de outubro
próxima coluna: 8/11

POESIA, CRÔNICAS & CONTOS

Os destaques desta quinzena são:

POESIA : Antonio Carlos Rocha, Ricardo Carvalho e Jörg Spöler

CRÔNICAS e CONTOS : “Sonho de verão” de Ednice Peixoto, “Relaxa aí...” de Stelamaris Cabral , “Reflexão sobre tragédias” de Antonio Carlos Rocha e “Canções e poesias” de Marlene Galvão.

Boas leituras e até a próxima coluna!

 

* * *

POESIA

Chuva de Flores
Antonio Carlos Rocha


Aquele acontecimento gerou espanto,
Por ser mágico e inesperado.
A noite se cobriu de rosas e lírios
E depois choveu.
Durante muitas horas, choveu,
Banhando corações expostos.
Alguns se deliciaram com o perfume,
Outros se abrigaram;
Não entenderam que o amor
Viera do céu, de graça.


O Silêncio
Ricardo Carvalho


Um mundo sem ruídos,
daqueles que falam baixinho,
que nem se escuta.
As vezes nos dói ouvi-los, seu som é mudo.
E isso pode enlouquecer alguns.

A acústica do silencio é demais ao mundo.

O silêncio é um grito de nossa alma,
que busca a paz, e nem sempre a alcança.
um alvo distante, invisível e intangível.
Em um mundo de sofrimento, que não se cala.

Tapo os ouvidos,
choro baixinho...

(preciso silenciar essa dor)



Der feine Unterschied / A sutil diferença

Jörg Spöler


Freundschaft ist, das Gesagte zu hören.
Liebe ist, das zu hören, was nie gesagt wurde.
/
Amizade é ouvir o que se conta.
Amor é ouvir o que nunca foi contado.

[Tradução de Chris Herrmann]

 

* * *


CRÕNICAS & CONTOS

Sonho de verão
Ednice Peixoto

Algo a despertara. Ao virar à esquerda vê no relógio luminoso da cabeceira que são cinco e trinta e nove da manhã. Retorna à posição inicial, pois não sabe dormir sobre o lado esquerdo. Sente uma leve dor nos ombros.

Tenta dormir. O calor umedece os longos cabelos. Pela janela aberta uma suave brisa marinha sacode levemente as cortinas. Joga o lençol para um lado, a inquietação começando a dominá-la. Cobre a cabeça, querendo uma escuridão sem a tímida luz do sol que se insinua pelos vitrais da janela. Pensa que precisa acordar às sete horas, devido à reunião com todos os coordenadores. A preocupação em voltar a dormir faz com que ela não durma. E outra vez percebe que a dor no ombro não cessa; pelo contrário, parece agora que toma toda a musculatura da omoplata.

Vira e revira na cama, agora sem lençol nenhum a cobri-la. Na reunião serão discutidos os novos valores das comissões, que preços serão cobrados dos associados e, principalmente, quem irá assumir a direção da filial recém-criada. Ela quer a função. Na verdade, ela precisa dessa promoção.

As responsabilidades diárias a sufocam igual camisa-de-força. O orçamento está cada vez mais apertado, parece que o dinheiro some pelo ralo no mesmo dia que recebe. Alguns itens já não entram na lista do supermercado, muitas vezes deixa o carro na garagem, o cheque especial continuamente vermelho, as compras de cds, livros, perfumes, os cobiçados sapatos, estão cada vez mais espaçadas. A tensão se acumula sobre os ombros e essa deve ser a razão da dor.

Ergue-se um pouco e levemente passa a mão sobre o ombro. Nota uma leve saliência que ontem não estava ali. Ao tocar o outro ombro percebe a mesma coisa. Que estranho! Será que me machuquei dormindo? De imediato, lembra-se do sonho que teve.

Via-se sobre uma pedra e lá embaixo o mar límpido e revolto, enquanto gaivotas sobrevoavam naquilo que parecia um amanhecer. Pensava em como seria voar, não ter responsabilidades, acordar, trabalhar, pagar contas. Contemplava as gaivotas, notadamente uma que se sobressaía do bando, planando sobre as águas, e desejava fazer parte do bando. Na pedra onde estava, vezes em quando molhada pelo mar que nela se debatia, ficou pulando, pulando, achando-se gaivota querendo voar. Ao tomar impulso, estatelara-se na pedra a ponto de cair no mar. Fora isso que a acordara. Será que o ombro doía pela sensação da queda no sonho?

Ao virar-se mais uma vez, viu no relógio que os ponteiros avançaram. Daqui a pouco seria hora de levantar-se. Antes mesmo de começar o dia, já se sentia cansada. Seria um dia daqueles! Os ombros pesavam-lhe mais do que o normal, parecia-lhe que de uma vez estavam a nascer duas verrugas ou - e que Deus a livrasse! -furúnculos que durante a infância tanto lhe atormentaram! Pensou mais uma vez no sonho, tentando compreender o seu significado. Será que estava tão farta de tudo que o seu desejo era sair por aí, deixando que cada um resolvesse as próprias coisas e ela ser ela mesma? Será que a gaivota era o seu símbolo de liberdade? Talvez. Apenas talvez!

Percebendo que não mais dormiria, resolveu levantar-se de vez. O relógio marcava seis e trinta e sete. Aproveitaria esse tempo para tomar um banho e um café mais demorados. Tirou a camiseta por sobre a cabeça e ao olhar-se no espelho, assustou-se. O que lhe pareciam simples verrugas ou os terríveis furúnculos eram duas protuberâncias calosas, o que sua avó chamava de calombo, saindo-lhe das omoplatas num crescimento vertiginoso, prova inequívoca de que algo de anormal estava a lhe acontecer. Entre assustada e curiosa, andou até a janela, afastou as cortinas para que a luz facilitasse o exame que pretendia realizar em si mesma.

Ao ver o sol e o mar a sua frente, não teve dúvida. O bando estava lhe esperando. Subiu no parapeito da janela, tomou impulso e voou. Estava certa que não cairia estatelada na calçada lá embaixo.



Relaxa aí ....
Stelamaris Cabral

Como é difícil encarar o óbvio, aquilo que está na cara e insistimos em não ver.
Toda ferida exposta é feia, porque ela denuncia, ela se exibe, ela se afirma ferida sem eufemismos sem poesias. Quantas vezes viramos o rosto para não ver o que nos tornaria, quem sabe, mais humanos, mais humildes. Esquecemos que o vento que leva as folhas trás a tormenta que fustiga nossa consciência de sujeitos fracos, passíveis de qualquer sofrimento. O senso comum diz que o sofrimento redime e ensina, mas afirma também que só pode ser ajudado aquele que assim o permite, portanto muito de nós, talvez, ainda precise se dar o direito de querer aprender sem sofrer, e ser ajudado sem sentir-se aviltado. Eu sei que você viu ontem pais, mães, filhos, maridos, parentes... Grudados a um pequeno rádio a ouvir a lista dos mortos no acidente do avião da TAM. Eu sei que você se imaginou ali, sentiu angústia quando aquela mãe sentada no chão chorava a perda dos dois filhos e por mais que você quisesse virar o rosto, foi impossível não mudar o canal para ver as chamas que ardiam no prédio da empresa onde o avião se chocou. O caos aéreo tornou-se caos terrestre também. Agora um segredo só nosso: vamos virar o rosto também para isso?



Reflexão sobre tragédias
Antonio Carlos Rocha

Nossa vida é curta. Um piscar de pirilampo no imensurável tempo universal.

Nossas pegadas na Terra se liquefazem sob a chuva das eras.

Quem se lembrará de Napoleão daqui a 1.000.000 de anos? E de Afrodite, Apolo, Nabucodonosor, Moisés, Platão, César, Cristo, Maomé, Eisten, Santos Dumont?

Nem por isso a vida de um ser humano que não deixou marcas na história recente merece ser desprezada. Há um desígnio superior e inescrutável na existência da criatura a quem se deu uma consciência, um intelecto capaz de orientar suas ações sobre os outros seres e a Natureza.

Não se nasce, se vive, e se morre em vão. O “crescei e multiplicai-vos” não são palavras ao vento. É o mandamento fundamental da Divina Providência que age na penumbra da intuição humana impulsionando o instinto da preservação individual e coletiva.
Como decorrência desse instinto, não é fácil aceitarmos as tragédias que ceifam centenas ou milhares de vidas, cataclismos naturais ou provocados pela estupidez do Homem, criança ainda no útero do tempo.

São momentos terríveis e dolorosos que nos obrigam a refletir sobre os caminhos percorridos individualmente e pela comunidade da qual fazemos parte. São lampejos de entendimento a acrescentar na experiência que conduz à diminuição dos erros, das escolhas insensatas, das ações tardias, das omissões inexplicáveis à luz da razão, dessa razão que cada um pensa ter em elevado grau, mas que não passa de um cotejo de aparências, de causas e efeitos, cuja maioria a ciência dos mestres não alcança e não explica.

Os passos do auto-conhecimento e da auto-determinação se mostram curtos, tão curtos quanto o da Humanidade constituída por seres imperfeitos.

No entanto, pouco a pouco vamos aprendendo. Vivemos o tempo do balbucio, dos gestos desconexos, do olhar curioso, mas dispersivo, dos estômagos que roncam, do sexo nunca satisfeito, do egotismo infantil, do urinar nas fraldas.

Um dia, sabe-se lá quando, sol a pino, brisa perfumada, encantado com o marulho das ondas, emergirá do mar o Adulto.


 
Canções e Poesias
Marlene Galvão

Entre canções e poesias a sua ausência se manifesta intencionalmente. Não existem dimensões exatas para determinar a distância, longe ou perto. Tudo é formado de uma irrealidade absurda. E como é difícil sintetizar tais impressões quando se espera outra visão. O nascer do sol aos poucos expõe brilho e calor, mas nada desfaz esse aspecto provinciano e demasiadamente frio dos dias de inverno.

Nada me resta a não ser sonhar de olhos abertos e para aqueles que cultuam transformar sonhos descritos em cada amanhecer, essa é a uma razão para imaginar que tão logo o dia me trará uma recompensa.

Controlando a minha maluquez, misturada com minha lucidez ”... (Raul Seixas). Pensando intimamente nos versos dessa canção absorvo a idéia de que nada é eterno. Temos um pacto com os momentos bons ou maus, e estes se desfazem como as nuvens nas tardes de outono.

Acreditar na eternidade é reconfortante, acreditar que o amor vence em qualquer situação nada mais é do que um gesto natural. E eu me agarro a essa naturalidade sem muita convicção apenas por ser o caminho mais leve, mas nitidamente sem retorno.

O seu questionamento habitual “ por que a amo ?” é conseqüência da minha maneira de querer separar as coisas. Talvez eu não perceba que tudo faz parte de um todo que o amor não se reparte. O amor se multiplica, soma-se podemos até dividir, nunca subtrair. Mas a minha visão de pensar o amor é desconexa. Persiste no fato de interrogar sempre. Teima na minha quase entrega, com todas aquelas restrições, medo e insegurança.

“Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Prá mudar a minha vida
Vem, vambora
Que o que você demora
É o que o tempo leva “...
(Adriana Calcanhoto)

Sob o olhar embevecido me permito descobrir em você a essência do seu pensar. Surpreendo-me com tamanha transparência, as suas idéias são evidentes, embora entre eu e você exista uma constante incompreensão. O que me parece natural até demais, mas para você existem outras definições, conceitos incorporados culturalmente que não dissolve. Canalizo esse seu lado incoerente, como se não fosse permitido a você pensar diferente. A minha visão erroneamente libertária estabelece uma redoma alimentando a idéia absurda de proteção. O imaginário abstrato na minha concepção é de que tudo se desfaz como um cristal que ao ser tocado quebra.

Para você tudo é concebível, volto a minha atenção para a maneira puramente racional como conduz as suas idéias aproximando-as da simplicidade, do singelo. O outro lado dessa racionalidade é sem dúvida um revés, me perderia ao citar tais qualidades. E a contradição entre o racional e a rotina faz de você uma pessoa grandiosa.

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