COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ

Nº 34 - 6/2/2008
(próxima: 21/2)

          

Urgência

          Tenho urgência de escrever. Uma urgência angustiante. Preciso sempre escrever mais. Como se sem isso me faltasse oxigênio, ou não pudesse me perpetuar.
          
Quando era ainda garota minha mãe dizia, que eu parecia querer realizar tudo rapidamente como se não existisse o amanhã. E era mais ou menos isso. As mães se não concordam, pelo menos tem a percepção da alma do filho. E imagino que tenha sido isso que aconteceu com ela.
          
Atualmente continuo na mesma corrida contra o tempo e mais precisamente ultimamente, como se necessitasse concretizar todos os meus sonhos num passe de mágica. Num abrir rápido e profundo de olhos. No perpassar da borboleta azul e maravilhosa, a me indicar um caminho encantado e desconhecido. A mostrar uma paisagem já não tão familiar, mas igualmente aberta e maravilhosa. A me indicar simultaneamente dois sentidos no novo caminhar de luz e uma escuridão generosa contrastante e, no entanto poderosamente soberana.
          
Sinto urgência em derramar minha alma em flocos de poesia e fascinante ternura, e ser entendida nos menores sentimentos expulsos num momento de explosão inspirada e deliciosa. Urgência em divagar cada vez mais e com os olhos da emoção plena e verdadeira. Sentindo em cada expressão, minha alma que se deleita na esperança de todas as sensações.
          
Principalmente sinto urgência de escrever muito e cada vez mais, o que couber no espaço do meu tempo, dissecar o ínfimo de cada sensação, transformando as lágrimas em sorrisos e espalhando o amor generoso nas palavras, dissertando sobre cada prazer sentido com volúpia e do amor experimentado como doce néctar. De misturar num só passo, alegrias e tristezas, choro e gargalhadas, transformando-os no viver contínuo e desejado.
          
Tenho urgência de espalhar as letras, formar palavras e transformá-las em esperança, vida, amor, sentimento, carícia, deleite, perdão, carinho no paraíso inconsciente da nossa inusitada sensibilidade. Tenho pressa, muita pressa de escrever cada vez mais o que me desfila pelos olhos em devaneios, e o que se concentra no espírito, discreto e contrastantemente delirante.
          
Tenho uma urgência voraz de escrever sempre mais, como se pudesse gozar nesse momento em eterno orgasmo a simbiose do corpo e alma entrelaçados em orgia literária. E conseguisse extrair deles a seiva da vida que se extingue lenta e caprichosamente sem ânsias ou tormentos porém progressivamente em intervalos cada vez mais curtos.
          
Preciso escrever, desejar, sentir, usufruir, ajudar, atender, socorrer, aspirar o ar e me aquecer ao sol, fechar os olhos brincando nas ondas espumentas e grossas, belas e inspiradoras. Preciso andar pela areia branca e sentir sua maciez, apreciar a natureza e amar cada vez mais. Preciso escrever, preciso viver enquanto puder. Tenho urgência de escrever cada vez mais...


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