"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO
Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG
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Coluna nº 28, de 15/12
(próxima: 15/1/2007)
1. Permitam estes caminhos, hoje, começarem falando de "Fragatas para Terras Distantes", de Marina Colasanti. São 17 ensaios em que ela diz que "não há melhor fragata que um livro para levar-nos a terras distantes". A frase em questão, escreveu Marina Colasanti, foi dita, ou melhor, escrita por Emily Dickinson, poeta que pouquíssimas vezes saiu de casa — reclusa por sua própria vontade."
2. Fui almoçar com as palavras de Marina bailando na minha cabeça. Guardei por horas o título do primeiro texto: "O real mais que real". Depois ela diz: "A realidade não é real". Pena que eu não possa, agora, discutir ou conversar com Ed Bigodudo a respeito. Na imaginação, depois do almoço, fui até o Jardim do Sapo. A rigor, sentei-me num dos bancos daquela praça e me pus a pensar no Rio de Janeiro, especialmente no Rio de Janeiro de Antônio Maria e José Carlos Oliveira — o Carlinhos.
3. Fernando Teófilo nasceu em Fortaleza e é autor premiadíssimo em concursos de poesias, contos, trovas e crônicas. O texto a seguir está em "A origem do mundo", do livro "Estórias do pôr-do-sol". "Antes da existência do Universo, tudo era poeira, até que Deus decidiu criar umas estrelinhas para iluminarem o seu caminho, que parece ser infinito".
4. CONSTELAÇÃO
Adélia Maria Woellner
Na madrugada
transparente e fria
no céu sobressaía
o Cruzeiro do Sul.
A emoção
compreendeu ser
cada estrela
a marca do toque
do dedo de Deus
no corpo do infnito,
ao fazer
o Sinal da Cruz...
(*) Professora, poeta e escritora. Reside em Piraquara (Grande Curitiba).
- Página 4 do "Jornal do Enéas" (setembro de 2004).
5. O livro O Estrangulador de Estrelas — poemas-processos, minicontos, contos visualizados e poemas-minutos é de autoria de P. J. Ribeiro (Pedro José Branco Ribeiro), publicado pela Totem Editora, 2002, 176 páginas.
O ESTRANGULADOR DE ESTRELAS
Ele nada falava, saía de casa, pisava nas ruas, o rosto disfarçado, com os pés grandes que encurtavam caminhos.
Havia muito não se alimentava; pegara a última estrela fazia dois meses.
Quando não chovia, rosnava em casa seu ódio.
Nada veria no ceu à noite. Seus olhos brilhavam quando via uma estrela cair: corria, apertava-a entre os braços, estrangulando-a carinhosamente, gemendo de prazer.
Torcendo de brilho
- Nota publicada na página VARIEDADES do jornal "Alto Madeira", 23.03.2002, Porto Velho (RO), Sessão Lítero Cultural", do Selmo Vasconcellos.
6. Hlda Hilst, através de sua percepção mística do mundo, nos leva a uma poesia em que a morte e o eterno são uma constante. A morte é a "negra cavalinha / flanco de acácias" que a leva às pradarias do invisível e a seu Dono.
7. Há muito tempo eu não ouvia a palavra "azucrinar" dita várias vezes por meu pai e minha mãe. Na porta do Correio, indo eu postar algumas cartas, escutei um senhor, cabelos branquinhos, dizendo para outra pessoa: "Pois azucrinou muito". "Azucrinar": fazer raiva, na língua sertaneja.
8. "O povo ouviu o discurso dele
e saiu às pressas
procurando abrigo
contra a tempestade
de palavras ao vento."
Micitaus do Issás
Quem se lembra ainda de Micitaus do Issás? Sem dúvida, era um poeta de muita verve, muito espírito. Inegavelmente esse poemeto acima, dele, se aplica perfeitamente a muitos políticos de hoje.
9. Satã se apresentou na solenidade. A feiticeira chegou meia-hora depois. Roland Barthes a aguardava. Ely Rindidunga Florestino Fontoura, que irá procurar, neste mês, a velhinha de Taubaté, citou versos de Arthur da Távola: ... "Quem quer ser supermercado / morre enlatdo de enlatado." No mais, é como escreveu o poeta Iacyr Anderson Freitas: "Tudo o que me decifra, / me deserda".
10. Ontem minha empregada fez chá de chapéu de couro para mim. Dizem que é remédio para tudo.
Hoje, 4ª feira, tempo magnífico. Céu limpo. Manhã esplendorosa. Vale a pena ler ou reler Carlos Drummond de Andrade.
"(...) Vi moças dançando / num baile de ar. / Vi corpos brandos / tornarem-se violentos / e o vento os tangia. (...) A brisa na boca / me entristecia / como poucos idílios / jamais o lograram (...) Vi o sapo saltando / uma altura do morro"... Carlos Drummond de Andrade.
11. "A novela inacabada
Que o meu sonho completou,
Não era de rei ou fada
Mas era de quem não sou."
Fernando Pessoa
12 . Em Varginha há uma rua que, antigamente, era conhecida por rua do Carmo. Não é larga. Vai dscendo sempre a partir da agência da Caixa Econômica. É uma rua bonita. Um longo caminho para se ver a vida.
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