Christina M. Herrmann é poeta, webdesigner. Carioca, vive atualmente na Alemanha. Comunidades no orkut: "Café Filosófico das Quatro", "Sociedade dos Pássaros-Poetas" ambas de entrevista e "Orkultural" em parceria com Blocos Online.
Endereço do Blog, reunindo todos os seus sites e comunidades:
http://chrisherrmann.blogspot.com
Coluna 55 - 1ª quinzena de dezembro
próxima coluna: 24/12
UM CONTO, DOIS CONTOS
Desta vez, trazemos a vocês dois Contos de duas irmãs muito talentosas, coletados na comunidade Café Filosófico ´Das Quatro':
“Mulher em Crise!” de Maria Rosa Cabral
e
“Tem Trocado?” de Stelamaris Cabral
Boas leituras e até a próxima quinzena!
* * *
Mulher em crise!
Marisa Rosa Cabral
Ouvi Mariana segredar com o pai, que eu estava no dia da crise. Que ódio me deu, mas ando assim ultimamente. A doutora Marta falou que é normal, coisa da idade. Estou entrando na menopausa. Mais esta! E os transtornos não são nada bons, mas vão passar, digo pra mim. E enquanto não passa, o jeito é me aturar! Só quero curtir a crise em paz, pois fiz por merecer! Nasci mulher! Desabafei sozinha passando a chave na porta do quarto, que, aliás, é um gesto meramente simbólico. Desde que meu João Pedro aos três anos de idade se trancou, eu desesperada com seu pânico, não vi saída, a não ser, arrombá-la a marteladas. De lá pra cá, vinte anos se passaram, e nunca houve uma intenção de conserto, mas mesmo iludida me senti em paz ali. nestes dias tudo me irrita! Bom seria não ter que ver ou ouvir a voz irritante de Sampaio por uns dias. neste estado, tudo me irrita, enfada ou entristece... Inda mais quando olho pra trás e comparo os vinte e oito anos de relação, e constato que nada mudou! Ele apenas envelheceu e deu pra falar mais. Toda tarde é conversa que não cansa. Quando não traz novidades do povo lá de fora, reclama da vida, critica a comida, a família ou desata a falar mal do futebol desfolhando as páginas amassadas do jornal nojento, que passa toda a manhã, dobrado debaixo do sovaco. O pior, é que vai juntando uma pilha no canto da área, já que adora juntar cacarecos e com cara de deslavada diz, que é pra doar pro caminhão do “Alziro Zaru” que passa toda santa manhã de quinta-feira, mas esquece.
Mariana é outra! Não colabora com nada, e ainda está ficando insuportável! Imagine que agora deu pra me responder com arrogância. Diz que não sei de nada. To velha mesmo!
... À noite, que é vez de descanso, chega João Pedro com a noiva, e tomam conta da sala. Ligam o rádio e ficam aos beijos no meu sofá, enquanto que eu, pacientemente espero a vez pra assistir a novela, meu único paliativo... E depois dizem que não entendem porque mulher tem crise!
Mulher! nada mais, nada menos que um ser que padece calado todo tipo de injustiça, preconceitos e humilhações... E não bastando, dar conta de tantos, não tem o direito de viver sua crise em paz! Ora, já fiz minha parte como mulher nesta terra. Nada mais justo, que eu envelheça em paz com as minhas crises de direito!
Engravidei, pari, amamentei, cuidei, criei, eduquei, e ainda, me sujeitei anos aos caprichos do marido toda noite de sábado e véspera feriado... E sem nunca confessar que odiava fazer sexo com data marcada. Não sei porque, mas toda mulher que conheço, tem mania de acumular ressentimentos, mágoas, decepções, e tantas outras coisas, que quando chega a hora crise, a gota que transborda o câtaro, não sabe dar conta desta... E daí, as crises são inevitáveis e injustificáveis!... É como se a vida que construímos com tanto esmero e dedicação, pesasse a ponto de se tornar impossível prosseguir, e pior, fazendo crer que nada valeu!
Juro que se eu tivesse condições financeiras tiraria uns dias de férias pra arejar a mente, e colocar a alma no prumo, como fez tia Dorinha no auge de sua crise. Não pensou duas vezes e, abandonou sua casa, marido, filhos...
Só levou a cadelinha, pois como alegou, era a única que lhe dava valor.
Estava tão saturada de maus tratos que explodiu. Largou o avental caído no chão, panela no fogo e partiu porta à fora gritando feito uma alucinada: Chega! Basta! Morram!... Foi se hospedar em casa de mamãe e por lá ficou dias. nem se preocupou em saber ou dar notícias aos seus. A pobre chegou transtornada, abatida e literalmente débil que ainda, recordo seu olhar teimando em manter distancia da realidade ao redor, e deste jeito passava horas. Mamãe foi quem a cuidou. E haja paciência pra cuidar de quem não fala, não olha e ainda se recusa a vive! Certa manhã após o café, ambas, deixaram a sala e saíram pra conversar. Sentaram-se, as duas somente, a fresca da varanda, que do quarto em oculto, pude ouvir o inesquecível diálogo que tiveram. Tia Dorinha até sorriu tímida encolhendo-se por de baixo do casaco verde de lã, dando sinal de recuperação. Elogiou a roseira branca florida que mamãe cultivava e gostava muito, e sempre ressaltava que seu chá era milagroso! Curava todo tipo de mazela de mulher. Tanto que desde que chegou, não lhe faltou a santa xícara a cabeceira.
E era milagroso mesmo! Em menos de uma semana, aquela mulher afligida pela intolerância dos seus, já exibia um olhar mais real, afagava a cadelinha e até sorria contente exibindo os dentes amarelados... De repente tocando a mão de mamãe como que toca o sagrado: cheia de respeito e gratidão, perguntou se lhe parecera louca, permitindo inclusive, que um olhar envergonhado lhe tomasse, ao passo que mamãe muito tranqüila, negou veemente, e ainda ressaltou que, seu desabafo foi o ato de coragem e ousadia que mais invejou ver. E julgando que estivesse realmente a sós, minha mãe com voz chorosa, desabafou baixinho com ela, que por várias vezes também, pensou em fazer o mesmo. "Faltou-me coragem prima! Pois motivo tenho de sobra." Falou e em seguida descriminou uma série de críticas aconduta da família, que ouvindo-a narrar, senti minha alma e corpo estacarem a vida por segundos... Descreveu-me pessimamente! E eu que nem imaginava... Mas foi bom ouvir aquela declaração dos lábios da santa que me pariu, pois me fez mudar de conduta. Tinha idade pra atinar o certo e o errado, como Mariana também tem... A partir de então, sempre que podia lhe trazia flores, presentes, contava as novidades da faculdade, do trabalho, das núpcias... E nunca esqueci de enaltecer-lhe a beleza, paciência e dedicação. Na verdade, eu passei a amar mais a minha mãe e não queria decepcioná-la como fezeram os parentes de minha tia... Ou quem sabe, no fundo mesmo, só quisesse evitar maior constrangimento, de vê-la feito louca, acuada em algum canto!? Como eu, agora!
* * *
Tem trocado?
Stelamaris Cabral
Entrar na briga sem condições é coisa que nenhuma mulher deve fazer. Um homem bem casado, com filhos lindos, bom emprego, bela casa, mulher bonita, bem cuidada. Tereza é daquelas mulheres que compra os melhores cremes para o rosto, tem um gosto pra se arrumar, está sempre impecável. Faz uns dois meses Jorge, que nunca sabe de nada e nunca conta nada, chegou em casa esquisito, jantou assistiu o jornal e foi deitar. Eu terminei de cuidar da cozinha, tomei aquele banho gostoso e fui para cama, achando que ele já estivesse dormindo, mas não. A criatura estava com os olhos buticados no teto.
Quando deitei, perguntei se estava bem e ele desabafou nervoso que Nelson estava com uma amante de casa montada, lá pras bandas de Sobradinho. Nelson sempre foi como um irmão para Jorge, e pude perceber o quanto o fato estava perturbando meu marido. Perguntei se Tereza sabia e ele respondeu que achava que não já virando pro lado. Sabia que isso era tudo que eu podia saber. As pessoas estão sempre nos surpreendendo! Pensei em Tereza tão vaidosa, tão esposa e amiga. Coisa triste é traição. Pior é achar que tudo esta bem e estar enganada. Lembrei da mamãe que na primeira vez que soube que papai tinha outra, danou a namorar muito e papai nem sonhava, pensava que só ele podia enganar. O tempo é o melhor conselheiro.
Dia desses encontrei Tereza no shoping, e como de costume fui ao seu encontro para saudá-la, mas estanquei de repente, quando vi um homem lindo indo ao seu encontro. Escondi-me para que ela não me visse e, pasmei. O moço elegante foi ao seu encontro deu-lhe um beijo na boca e seguiram de mãos dadas sabe Deus pra onde.
De noite quando Jorge chegou, eu estava na janela, ele entrou e me abraçou pelas costas, alisou minha barriga e me deu um cheiro tão gostoso que arrepiou meu cangote. Abracei meu marido com carinho e disse que tinha visto Tereza no shoping, ele fez ham!?
Depois, sussurrei no ouvido dele, que ninguém briga sozinho nessa vida. Ele me abraçou mais forte e falou baixinho com carinho: — Com você eu quero paz...
***
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