"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO

Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG

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Coluna nº 29, de 15/1
(próxima: 15/2/2007)

1. Krug Pilard, papeando com Urhacy Faustino ao telefone, disse-lhe que naquela noite (eles conversaram por volta de vinte e uma e cinqüenta), ia escrever um texto com o título": "O artista e o mundo". Na mesma hora, Urhacy lembrou de uma correspondência de Flaubert, autor do famoso "Madame Bovary" que eu li quando eu tinha apenas treze anos, em que o citadíssimo autor francês, dizendo que havia passeado a cavalo por um bosque, em um meio dia de outono sob as folhas amarelecidas: ele era os "cavalos, as folhas, o vento, as palavras que se diziam, e o sol vermelho que fazia entrecerrar suas pálpebras, afogadas de amor". Será, Urhacy, que é, então, o artista transformado em mundo? Ou que se transforma em mundo?

2. Os dois moços, em vez de irem embora, ficaram por ali, um deles sentado na calçada discutindo as idéias de Marcuse. Betinho, que há muito adotou o destino como parceiro diário, comentou, outro dia, que esse parceiro danado se mete a governar e a desgovernar a gente. ADEUS A TEU MUNDO — um deus de um desses aí qualquer/ode de usuário/ria de tudo/deu em nada não/odeia o dia todo/o dia que me quer/eu não quero isso/tchau (Sérgio Blank, in "PUS").

3. "O matrimônio transforma o palácio feérico do ideal em uma granja produtiva" (Joahann Nepomuk Nestroy, comediógrafo austríaco). Sem dúvida, a maioria das conversações, dos papos, retiram seus assuntos de três correntes muito sérias: arte, religião e ciência. Rodolfo Serkin falando ontem com P.H. Xavier, comentou que, no atual estado de liberdade sexual em que se meteu a humanidade, é difícil prever as potencialidades dessa sexualidade. E disse o poeta gaúcho Victor Hugo Rodrigues: "... Tristeza é aposentar as luvas de boxe/e levar muita porrada/tristeza é descobrir a dor/sendo vizinha de sacada"

4. No dia 14 de outubro de 1946, o poeta Oswald de Andrade escreveu a Clarice Lispector, pedindo à magnifica escritora que entrasse em contato com ele. Veio Verinha e me pediu: Zanoto, publica o poema "UM SONHO", de Astrid Cabral. Está no livro, "Lição de Alice". Não há de quê, caríssima Verinha. Veja no tópico 6. E tem razão Cláudio Feldman, ao dizer, "Só existe uma verdade absoluta: em todas as cidades do Brasil há uma rua 15 de Novembro". Aqui em Varginha tem uma. Uma 15 de novembro muito bonita é a de Blumenau.

5. Os barcos
singram as águas
os sonhos ficam na praia
     - Jack Rubens

6. UM SONHO (a Darcy Damasceno) — Às vezes à minha cama vinha/intrigante, aquele sonho raro:/diante da rainha do baralho/e seu cortejo de espadas/eu de joelhos me prostrava:/ —cortem-me a cabeça! —/ pedia e me comprazia/na dimensão do corpo restante/e me sentia plena, sem aleijão/nadando serena/em rio de sangue. (Astrid Cabral). E disse o poeta Leontino (Pau dos Ferros/RN): ao sentir calor/pássaros desinibidos/tangem os enganos.

7. O tempo sim, é longe, demorado/perdido no espaço/ Nas valas, cerrados", belos versos de Carlos Alberto Pessoa Rosa (Atibaia/SP), do poema VALAS. Pois é, meu caro, há muito tédio na Argélia. Que nos resta de tudo? *** Tudo foi mantido em segredo. Só nos resta agora, passar uma lixa na solidão. No mais, disse o poeta Rogério Salgado (Belo Horizonte/MG) que já comemorou vinte anos de vida literária: "Na madrugada Triste/uma gota de orvalho/desprende-se duma flor/chorando...

8. Quando eu tinha dez anos, era uma alegria ir, geralmente na matinê, ao circo, que sempre montavam no larguinho de Santa Cruz ou no cemitério velho, hoje Praça da Fonte. Um circo que vi várias vezes, não estava mais na infância, foi o Circo do Pelado. Pelado era o nome do palhaço e dono do circo.

9.               BRINCAR

                      VIDA
BRINCADEIRA CHEIA DE REGRAS...
            JÁ FOI MAIS SIMPLES
       RINCAR DE CABRA CEGA.
               - H. B. Chagal

10. " (...) Como ultrapassar essa paz que nos espreita? Montanhas tão altas que o desespero tem pudor. Os ouvidos se afiam, a cabeça se inclina, o corpo todo escuta: Nenhum rumor. Nenhum galo possível. Como estar ao alcance dessa profunda meditação do silêncio? Desse silêncio sem lembrança de palavras. Se és morte, como te abençoar?" (Clarice Lispector).

11. A rua está repleta de gente. Há bicicletas, motocicletas, carros e carrinhos de pipoca. Alguns transitam cuidadosamente. Aliás, o cuidado nem sempre é do pedestre. Os piores são os bicicleteiros. Se você distrair, eles passam por cima. A nova geração vai por aí percorrendo as ruas, os bares, os sustos e as alegrias. Rodolfo Serkin diz que "bicicleteiros" é invenção minha. Não sei... O que sei é que outro dia, indo um pouco além da Praça D. Pedro II, vi que uma senhora puxava, numa corrente dourada, um belíssimo exemplar (cão) da raça Samoieda. Eu não conheço raça de cães, foi um senhor que passava ao meu lado, que, observando, falou que era da raça Samoieda. Depois ele me disse: "Moço, nem queira saber o preço de um deles".

12 . Hoje vou dormir cedo, sonhar com um mundo melhor. Tenha ou não pressa, as coisas duram só o tempo que têm de durar.

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