Christina M. Herrmann  

Christina M. Herrmann é poeta, webdesigner. Carioca, vive atualmente na Alemanha. Comunidades no orkut: "Café Filosófico das Quatro", "Sociedade dos Pássaros-Poetas" ambas de entrevista e "Orkultural" em parceria com Blocos Online.
Endereço do Blog, reunindo todos os seus sites e comunidades: http://chrisherrmann.blogspot.com

 Coluna 56 - 2ª quinzena de dezembro
próxima coluna: 24/1

TEMPO DE REFLEXÃO – “QUEM SOU EU“ – PARTE I
  
        (Clique aqui para ler a continuação: PARTE II)

Tempo de Natal e aconchego com a família, independente de religião, nos faz muito bem. Um pouco de reflexão sobre a natureza do “eu” também contribui para o nosso desenvolvimento interior. Nesse intuito, trazemos os primeiros highlights de uma interessante discussão que está acontecendo na comunidade Café Filosófico ´Das Quatro´ , sob o título Quem sou Eu , com a participação de Durval Castro, Reginaldo Gama, Teresa Mavignier, Jeremias Vasconcelos, Silvia Vitória, Chris Giusti, Maria Lucia de Almeida e Luis & Lisandra.

E, para abrir o tema, deixo com vocês um ´poemeu´ entitulado O Mar e a Montanha .

A equipe da Orkultural deseja a todos os amigos e leitores Boas Festas e um 2008 de Esperanças, Boas Novas e muita Reflexão!

 

* * *

O Mar e a Montanha
Christina Magalhães Herrmann


Eu sou o mar.
Por vezes sou rio
e deságuo no mundo,
percorro alegrias e mágoas.
Plural e natural que sou,
mato a sede do momento.
Ouço lamentos, alimento vidas,
Sou barulho e movimento.
E quem és tu, oh rocha fria
que te escondes sem pressa
e vives presa em teu silêncio?

Eu sou a montanha.
Por vezes dura ou mansa,
sou as marcas do tempo.
Massa densa que acoberta,
enriquece e dá o alento.
Sou abrigo para ti e para o vento
(vós que me visitais diariamente)
transformando-me por dentro.
Interior é meu movimento;
alma cristalizada de seres,
sementes, fúrias e medos.
E se me calo, caro mar,
é porque guardo em mim-
incluindo os teus - os mais
'cicatresloucados' segredos.

^Chris-Borboleta^  

* * *

QUEM SOU EU – PARTE I

Highlights do Café Filosófico ´Das Quatro´

20 set
Durval Castro
Quem sou "eu"?
Este tópico foi inspirado no de pensamento e existência. Achei que cabia abrir outro tópico pois esta abordagem é mais abrangente, ou seja, questiona-se aqui a natureza do "eu", de nossa individualidade, que provoca tantas inquietações.
Na medida em que entendemos o "eu" como "uma coisa que pensa por si mesma" o pensar é a premissa e condição inicial para que o eu exista. O fato de pensar nos fornece um argumento lógico ou pelo menos um bom jogo de palavras que nos leva a acreditar na existência do "eu". Apesar disso, não é concebível que essa existência se limite ao pensar, ela possui outras dimensões, o sentir, o agir, o perceber, o relacionar-se, etc.
O "eu" pensante é muito limitado, mesquinho. Um esqueleto frágil, uma sombra tênue e vaporosa, sem substância.
Qual a substância do "eu" consistente? A materialidade? A vida? 

21 set
Reginaldo Gama
Genetica + meio
Caro Durval:
É interessante a visão das diversas correntes sobre o que se pode chamar de EU. Acredito que ao analisar a psique humana, vamos identificar o EU. Sua gênese provavelmente é genética, como um elemento evolutivo, pois a psicologia comparada mostra muitas nuances que usamos, vistos em outros seres. Com o nascimento, o componente genético se expressa e vai sendo alimentado pelo meio. As experiências, somadas ao desenvolvimento neuro-psico-motor, vão levando o indivíduo a manifestar-se de uma ou outra maneira e consolidando sua persona. Cada estudioso na psicologia definiu um jeito da coisa ocorrer, mas no denominador comum está o ser exposto ao meio e o modo de responder às diferentes aferências, levando-o a constituir uma maneira de ser, expressar, pensar, sentir. Da mesma maneira que podemos ter uma gastrite por um erro alimentar, o ser alimentado em seu sistema nervoso, por informações e distorsões, poderá criar mecanismos e caminhos patológicos de resposta que o levariam a expressar de maneira patológica o seu EU. Teria assim a persona a sua manifestação social, ou comportamental... As alterações bioquímicas, levam o sistema nervoso a reagir de maneira diversa na medida que os neuro-transmissores estão dispostos em níveis diferentes do ideal, podendo exacerbar ou inibir reações que são expressas no emocional. A ansiedade, a depressão, o uso de drogas, alcool, psicotrópicos, podem mostrar isso.
Assim, eu acredito que o Eu está inserido no sistema nervoso central, tendo sua gênese na genética e a expressão como somatório das inúmeras aferências que o ser vai tendo durante a vida e, da alimentação cerebral os mecanismos de resposta que podem expressar-se de conformidade ao tor recebido, do silvícula que se limita à sua aldeia ao CEO de uma grande corporação, que está inserido em um contexto de aferências e respostas que podem mudar o curso da economia de um país, ou da vida de todos, nesse mundo globalizado.
 
21 set
Durval Castro
O "eu" funcional
Reginaldo
Se o eu é formado pelo sistema nervoso de acordo com a experiência, o que me parece uma hipótese bem plausível, então seria o "eu" uma mera função?
Em nossos tempos de idolatria da produtividade e eficiência, o eu funcional torna-se muito valorizado. O "eu" é visto como um produto de cuja aceitação no mercado de imagens pessoais depende nossa "felicidade"...
 
24 set
Durval Castro
Marketing pessoal
A disciplina Marketing Pessoal, que está sendo muito procurada e estudada no momento, visa transformar o "eu" em um produto.
Essa disciplina tem implicações opostas: por um lado a perda de autenticidade, por outro o reconhecimento de que o eu é uma construção com funções sociais.
Ela entra em um domínio que era considerado tabu, ou seja, a construção sistemática e racional da identidade profissional tendo em vista a realização de objetivos pessoais. Ela falha e gera confusão ao denominar-se 'marketing pessoal' e não 'marketing profissional', que seria o correto.
Será que isso tem algo de feio ou anti-ético? Antigamente as pessoas construíam suas identidades reagindo a pressões sociais de vários tipos, algumas delas repressoras e discriminatórias.
Um processo proativo de construção da identidade profissional pode ser considerado uma alternativa ética.
A crítica que pode ser feita é em relação aos métodos e princípios para essa reconstrução na disciplina de marketing pessoal, que limitam-se a aspectos superficiais, ao contrário do que acontece numa psicoterapia, que o marketing pessoal não deve substituir.
 
25 set
Teresa Mavignier
Alter ego
Durval. Muito interessante essa questão!
Venho observando com a intensificação da comunicação virtual, principalmente no orkut, que as pessoas encontraram uma possibilidade de se apresentarem a um mundo (virtual) de uma forma diferente do que se apresentam no real... e tenho observado a aparição de vários alter-egos.
Vejo que várias pessoas se comportam no "mundo virtual" não da forma como simplesmente são, mas como possivelmente no íntimo gostariam de ser.
E essa personalidade "virtual" é provida de tal consistência e resiste a tantas análises sobre a veracidade, que jamais poderia ser confundida com uma simples dissimulação.
Intrigadíssima com o fenômeno que venho constatando, cheguei à conclusão que estamos diante de um espaço que possibilita a construção psicologicamente elaborada de um alter ego virtual.
Aquele recurso que só os escritores dispunham para o desdobramento de suas vivências... eis que encontramos agora de forma difusa e globalizada.
Vez por outra, chegam a mim os desmentidos das informações que circularam a respeito de um ou outro episódio.
E eu fico pensando na força que esse alter ego exerce, a ponto de criar situações fictícias, às vezes até dramáticas... envolvendo e sensibilizando outras pessoas...
Durval. Será que o nosso alter ego é a nossa verdadeira identidade????

 
25 set
Jeremias Vasconcelos
Algo inacessível, que não cabe em nenhum modelo.... Sou o resultado da interação de bilhões e billhoes reações bio-químicas? E meu corpo? um mero veículo do eu? É uma loucura!... Não tem respostas... Nem para o que é o eu, nem para Deus, nem para Universo...
A única coisa realmente fantástica é nos perguntarmos, perguntarmos...Talvez, em algum momento, a resposta chega... E nesse momento não estaremos mais "aqui". E não possamos dá-la a ninguém...
 
25 set
Durval Castro
O "eu" recorrente
Teresa
Quando o "eu" pensante reflete sobre si mesmo e se reconstrói, devemos admitir que existe outro "eu" por trás dele. Quem sabe haverá outro por trás?
Atrás do horizonte existe outro horizonte...
 
25 set
Silvia Vitória
Meu “eu”?
É uma espécie de maestro, a reger e compor outras instâncias de mim mesma.
Na regência, cria, revive, questiona, improvisa...
Ao compor, delira, reflete; aprisiona e solta; grita e silencia...
Sua presença por vezes é intensa, viva, mas também há momentos em que fico dias (meses? anos?) sem contatá-lo...
E, aí, durante a sua ausência, ele muda. Por vezes, demoro um certo tempo para reconhecê-lo...
Na volta, ele me diz que precisava de um tempo para assimilar determinadas coisas. E a parte de mim que ficou esperando seu retorno entende...
Esse maestro sou eu? Sim! Mas também sou os outros que ele rege e compõe...
Mário de Sá-Carneiro foi mais longe ainda, deixando-se não ser nem um, nem outro(s). Vejam só:
"Eu não sou eu nem sou outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro."    
 
25 set
*Bel*ChrisGiusti
Boa pergunta.
Estou entrando no espaço de um monte de gente entendida. Mas permitam-me responder-lhes já que o orkut é aberto a todos.
Gostei da pergunta: Quem sou "eu"?
Sou a reserva inconsciente dos desejos e impulsos de origem genética, associada aos acúmulos registrados em minha mente ligados ao mundo exterior.
Nada sei de mim. O que sei é que confundo-me quando tento definir-me. Porque o meu "eu" não tem definição. Sou muitas, sou várias...
Acho que ninguém é isso ou aquilo, assim como bula de remédio.
A única coisa concreta é que existimos, o resto é conseqüencia de tudo lá do comecinho. 
 
26 set
Jeremias Vasconcelos
...Que vai de mim para o OUTRO...
Sílvia falou: ...deixando-se não ser nem um, nem outro(s). Vejam só:
"Eu não sou eu nem sou outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro."
Isso me faz lembrar Nietzsche, mais ou menos assim: "o homem é uma corda atada entre o animal e o além-do-homem (ou super-homem, em algumas traduções) ...uma passagem, um perigoso parar, um perigo olhar para trás..."
O amigo que propôs a questão - "Quem sou "eu" - muito oportuna e importantíssima, já a propõe com uma série de profundas perguntas e reflexões das mais pertinentes..
Quem sabe essas peguntas não brotem do Outro, do "além-do-homem" , sepultado no complexo animal que somos? Que possamos abrir espaço interior para nos aproximar - não com o intelecto, não com o sentimento devocional ou místico superficial - desse Outro, para ouvir, a "Voz do Silêncio" (*)
(Livreto compilado/traduzido p/ H.P.Blavatsky da Tradição esotérica oriental, e traduzido para o português por F. Pessoa).
 
26 set
Silvia Vitória
Jeremias,
você citou dois autores importantíssimos na minha vida: Nietzsche e Blavatsky.
De Nietzsche, eu complementaria o que você mencionou com mais esta:
"O homem deve ser uma ponte, e não um fim em si mesmo, satisfeito com o seu meio-dia e com a sua meia-noite " (citado de memória)
Já A voz do silêncio... ah!... foi a minha primeira iniciação – o solo onde comecei a me cultivar.
Confesso que fiquei emocionada com a lembrança de Blavatsky aqui...
Obrigada por isso! 
 
26 set
Durval Castro
o 'eu' que reflete
Penso, ajo, observo.
Então reflito sobre o que pensei, agi, observei: o "eu' reflete sobre si mesmo, e é um segundo 'eu', que toma o 'eu' anterior como objeto.
Esse processo pode repetir-se indefinidamente...
Qual o limite desse processo? O 'eu' mais íntimo? O 'eu' objetivo? O olho de Deus?
 
26 set
Maria Lucia de Almeida
"Não tem um 'eu' ou ego permanente ou imutável. Sempre é diferente. Num determinado momento é alguém, no momento seguinte é uma pessoa diferente, num terceiro momento muda outra vez e assim por diante, praticamente sem cessar.
Cada pensamento, sentimento, sensação, desejo, predileção e aversão é um 'eu'. Esses 'eus' não estão ligados nem coordenados entre si. Cada um deles depende de mudanças nas circunstâncias externas e de mudanças nas impressões. Alguns deles seguem-se mecanicamente entre si e há os que sempre aparecem em companhia de outros. Mas não existe nem ordem, nem sistema nesse processo."
Quem sou eu? É uma pergunta que nunca foi respondida, por melhor que tenhamos desempenhado nossos papéis.
Ser totalmente humanos nos torna reais. E a realidade não pode ser definida, só pode ser experimentada. 
 
27 set
Luis & Lisandra
O eu é a expressão da consciência, que é continua e ininterrupta. o Pensamento é uma ferramenta de expressão da consciência, mas o pensamento não é ininterrupto.
As reações neuro-químicas podem explicar o pensamento, mas e a consciência?
O eu é o movimento da vida, continuo, que passa, em um momento, a ter consciência da própria existência.
 
27 set
Silvia Vitória
“Qual o limite desse processo?”
Quem sabe, Durval, o limite não esteja em aceitar Traduzir-se, a exemplo dos famosos versos de Ferreira Gullar?
 
27 set
Durval Castro
Traduzir-se
Silvia
Me parece que é o processo todo. Uma bela maneira de colocar a questão.
Para quem quiser conferir o poema:
http://www.secrel.com.br/Jpoesia/gula.html#traduzir

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