Nº 38 - 6/4/2008 |
Voando
Voei hoje em direção a um lugar especial, longe do barulho, das businas dos carros e da efervescência que lidera os grandes centros. Imaginei que só o tumulto e o movimento me deixassem à vontade, mas acordei com a sensação de que precisava me isolar para compreender o que se passava à minha volta.
Não importava que fosse domingo, o sol brilhasse luminoso, o tempo estivesse à minha disposição para usufruí-lo intensamente e a vida atendesse com suavidade os meus desejos.
Não interessava que o mundo se apresentasse atraente, o horizonte sem fim, as cores reproduzissem a beleza seleta e maravilhosa que meus olhos sempre buscavam e que já encontrasse alguma esperança no porvir.
Não me preocupava com a matéria, as ruas fascinantes, o encontro das pessoas em cada canto, a ternura de olhos a fitarem o infinito ou a certeza que poderia ser feliz eternamente.
Não me incomodava com retrocesso do egoísmo, a presença da generosidade, as juras transbordantes de carinho, a ansiedade que os dias traziam em suas horas arrastadas ou a certeza de sensações enlouquecidas.
Precisava volitar em outras paragens com leveza de quem possui asas, intercalar os espaços e ultrapassar o vento uivante e ligeiro. Passar bem acima do mar infinitamente belo senti-lo como o aliado que me conduziria acompanhando-me o vôo ilimitado.
Alcançar as nuvens, enroscando-me em sua claridade, seduzida pelo prateado ofuscante, alucinada pelo espaço tentador. E prosseguir meu passeio, bebendo em fontes que certamente mitigariam minha sede, parando às sombras das árvores, entendendo a voz enérgica da natureza e encontrando-me com o horizonte que refletiria outro horizonte inatingível.
E na seqüência de meu caminho chegar finalmente às estrelas luminosas, mergulhar no azul profundo do céu a refletir a terra linda e impossível de alcançar.
Queria encontrar-me com meu espírito inaccessível esquecendo dos deveres, olvidando compromissos e esticando-me nos campos desse espaço que me acolhe em momento de abstração e recolhimento. Aprofundar-me nos meus próprios pensamentos e reminiscências.
Preciso voar com as asas ondulando em movimentos rápidos e graciosos, recebendo emanações do espírito, recolhendo sensações fascinantes que me farão esquecer vivências pueris e alternar vibrante entre a vida terrestre e a luz sinuosa das estrelas.
E então sentir-me plena e realizada, palpitante em minha poesia, vagueando entre o espírito sonhador e a realidade objetiva e árida.
Deitada sob a limpidez de um ponto ilimitado eu me curvo diante da beleza e do deslumbre de cada ponto da natureza e sinto-me privilegiada e agradecida.
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