"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO

Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG

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Coluna nº 31, de 15/3
(próxima: 15/4)

1. "Você sabe que está ficando velho quando as velas começam a custar mais caro que o bolo" - Bob Hope, humorista norte-americano.

2. REZA INVÁLIDA

    Penso em você alucinadamente
    No intervalo de cada pai-nosso
    Que rezo para te esquecer.
           Jovino Machado

3. Johann Straus, o "rei da valsa" recebeu do pai o talento musical e, é claro, superou-o. Exímio violonista. Apaixonou-se por Olga Smirnitzki, como se vê no intróito desta carta de 30 de julho de 1859: "Olga! Como seria feliz se pudesse abraçar-te neste instante, como te estreitei contra o coração nesta manhã. Sinto agora, mais profundo ainda, meu apaixonado amor por ti".

4. Mais um final de semana. Um sábado que pouca diferença tem de outros sábados. Outono. Da minha janela olho o bairro Centenário. Enquanto isso, lá fora, é de manhã. O sol mostra uma certa frouxidão. Mas tenho certeza de que, daqui a poco, ele está cheio de luz. Continuo em minha observação do horizonte. Um pouco além do Bretas, enxergo a silhueta de uma estrada, é exatamente a que leva à Rodovia Fernão Dias. E pego um poema de Maria de Lourdes Hortas (Recife) para encerrar este tópico

ESTRADA

Na estrada a sombra
é a lembrança
súbito pássaro
me esvoaçando
o coração.

5. O porteiro do prédio monologa, sozinho, seus problemas. Agora já são quase nove horas e meia. Leio alguns versos de Gilberto Mendonça Teles, poeta, professor e fundador da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Goiás.
    Livre, sobre os livros, no ar
    filtrado da biblioteca,
    o poema se faz: parte,
    palavra, e parte, pedras.
           Gilberto Mendonça Teles

6. Um domingo desses fui no Feirão do Matadouro. Olhei tudo, as bancas todas e comprei berinjela, couve (bonitas e no almoço gostosas), limão e uma abóbora amarelinha. De modo geral, as coisas lá não estavam caras. Na entrada do feirão, havia um senhor que estava vendendo cãaezinhos. Tinha cinco, todos com carinha boa e desejosos de arrumar dono. Se eu não morasse em apartamento, no meu prédio cachorro é proibido, teria trazido um deles, cabeça e patas pretinhas, o resto branco, e já estava até escolhendo nome para ele: Shakespeare.

7. Passei pela Francisco Navarra e vi um buteco novo. Não vi, naquele momento, nenhum bêbado pedindo abrigo. É possível que eles ainda não tenham descoberto o novo buteco.

8. Hoje estou propenso a frases: "Há narizes que são verdadeiros atentados ao pudor" - Cláudio Feldman. "Mudamos de paixão, mas não vivemos sem elas" - Marquês de Maricá. "Augusto dos Anjos e Gregório de Matos me agarram pelos cabelos. Não há outra explicação melhor." - Ana Miranda.

9. Quando leu os primeiros poemas concretos de Augusto e Haroldo de Campos, o poeta Octávio Paz vivia na Índia.

10. Passo pela cozinha e descasco uma laranja. Hoje, minha empregada vai fazer um filé de línguado para o almoço. Pego um jornal, começo a lê-lo, mas nos jornais, meu caro, as notícias estão deixando a gente de cabelo em pé. Fecho-o, desejando ao mundo paz e saúde.

11. Folheio alguns caminhos meus publicados na década de setenta. Menção de Jack Kerouac, me chame a atenção. Correspondência de Leila Míccolis me leva a pensar com grande saudade naqueles tempos. A parceria do Hulot na página. E um bilhete de João Pieroni, colega de trabalho. Belos tempos.

12.  Você sabe se foi inventada outra coisa diferente de morrer?

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