Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em cultura clássica.

Mito em contexto - Coluna 26
(Próxima: 20/6)

Faetonte, filho do Sol

Hélio  era considerado o Sol divinizado e era representado como um jovem coroado de raios solares. Hélio regia o ciclo das estações e a produtividade do solo antes de ser assimilado pelo deus Apolo. Da união de Hélio com Clímene nasceram Faetonte e as helíades (Mérope, Hélie, Febe, Etéria, Dioxipe e Lapécia).

O mortal Faetonte foi criado pela mãe e não sabia quem era seu pai até o início da adolescência, quando a mãe contou. O rapaz procurou o pai e ficou deslumbrado com o palácio claro e brilhante de Hélio.

Faetonte quis uma confirmação da paternidade e Hélio disse que ele poderia pedir o que quisesse. Ele pediu para reger o Carro do Sol, que era usado para percorrer o céu durante o dia e derramar a luz no mundo.

Faetonte desejou algo que nem o imortal Zeus fizera. Hélio se arrependeu do juramento, pois sabia que a tarefa não era fácil e ele mesmo enfrentava dificuldades. Era preciso ter firmeza na estrada aérea, lá também havia monstros e perigos, como as tesouras do Escorpião.

Mas era o que Faetonte queria e nenhuma palavra o fez desistir. Logo cedo ele se preparou para realizar a tarefa, ouvindo ainda os clamores do pai para não usar chicote e segurar os animais nas rédeas. Mais que tudo, o pai dizia que não podia ir rasteiro na terra, nem levantar vôo no céu, senão incendiaria o tudo. O conselho final foi “Voa no meio e correrás seguro ”.

“In medio est vistus”, a virtude está no meio, dizia um provérbio latino. Caminho do Meio é uma expressão usada desde os antigos, e sugere evitar caminhos extremos. Os gregos ensinavam a prudência e a moderação como um estado de espírito saudável (Sophrosyne). O oposto dessa virtude era o orgulho, a violência (hybris). Nada em excesso, recomendavam os mestres ao contar histórias de homens e heróis castigados pelos deuses por conta de seus excessos.

Assim foi com Faetonte, que não demorou a perder o controle. Os corcéis dispararam e logo alastrou um incêndio por florestas e cidades. A Terra, mãe de tudo, pediu ajuda a Zeus, pai dos deuses e dos homens, que cuidava da ordem do mundo. Do alto do Olimpo, Zeus acertou Faetonte com seu raio. O jovem morreu no próprio fogo que provocara. O dolorido pai deixou por um dia a terra em trevas, iluminada apenas com o clarão das labaredas.

Entre as interpretações desse mito, muitos dizem que o erro de Faetonte foi não perceber sua força limitada. O filho mortal quis se igualar à divindade, se fazendo de deus. Seu excesso de vaidade fez dele sua própria vítima.

Arquivos anteriores:
01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25

« Voltar