Raquel Naveira
Escritora sul-mato-grossense, nasceu no dia 23 de setembro de 1957. Formada em Direito e em Letras. Mestre em Comunicação e Letras. Tem vários livros publicados: romance, poesia, crônicas e infantis.
Coluna semanal de Raquel Naveira
– Nº 39, 19/08/2015 –
Que imagem a de um vulcão em erupção. Do interior da montanha, borbulhando em alta temperatura, brotam lavas, magma vermelho, rolos de lama e cinza.
Aquele que não consegue expressar seus sentimentos, que suprime suas paixões sem sublimá-las, que guarda ira e mágoa dentro do peito e das entranhas, muitas vezes perde o controle e explode como um vulcão violento. A repetição desse som da letra “v” lembrou-me os versos do poeta simbolista Cruz e Sousa: “Volúpias dos violões/Vozes veladas/Vagam nos velhos vórtices velozes/Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”
Quanto mistério oculto. Na massa primordial, no umbigo do mundo em torno de onde giram o sol e a lua, de repente, o tremor, o círculo de fogo abrupto, acabando com a vida à sua volta.
Foi assim em Pompeia, cidade do Império Romano, perto de Nápoles, na Itália, em 79 d. C. As pessoas estavam mergulhadas em seu cotidiano, tomando vinho das jarras de prata, banhando-se nas piscinas, sentadas no anfiteatro, admirando os afrescos das paredes, ouvindo o discurso do cônsul no fórum, andando pelas vielas, acariciando seus cães, quando o vulcão Vesúvio incendiou como uma sarça ardente. Gases e fumaça saídos da cratera sepultaram completamente o vale numa noite que durou mil anos. As escavações proporcionaram um sítio arqueológico incrível. Tudo foi preservado: construções, objetos, os corpos moldados das vítimas. A mistura do instante fugaz e frágil com o silêncio perene, a rigidez eterna.
A palavra “vulcão” vem do nome do deus Vulcano ou Hefestos da mitologia greco-romana. Vulcano era filho de Zeus e Hera, coxo, mal amado pelo pai e pela mãe, desposou a mais bela das deusas, Vênus ou Afrodite, que o traiu com Ares, seu irmão e com inúmeros outros deuses e mortais. Afinal ela era o instinto, a sedução, a fecundidade das flores e das maçãs.
Vulcano era mestre da arte do fogo, governava o mundo industrioso dos ferreiros, dos ourives, dos operários. De sua oficina, no centro do vulcão, martelava a bigorna de onde saíam as armas dos heróis, os escudos, as joias, os broches, os braceletes, os colares, as fechaduras secretas e as chaves dos enigmas. Dentro de sua fábrica vulcânica, os metais se fundiam nas chamas e ganhavam formas resplandecentes. Vulcano foi o inventor, o técnico. O técnico: novo e antigo profeta.
E nas profecias apocalípticas foi anunciado que serão mostradas maravilhas no céu e sinais em baixo da terra: tremores, terremotos, fogo, nuvens de fumaça. Que o sol será coberto pelas trevas e a lua brilhará empapada de sangue. Veremos ainda uma gigantesca erupção vulcânica? O magma estará se movimentando entre as placas tectônicas, sob nossos pés, enquanto andamos pelas ruas asfaltadas da grande cidade? E a vinda gloriosa do Senhor, será em breve?
Há um turbilhão de sensações, de pensamentos e emoções dentro de mim. Minha cabeça dói. Meu ser se inflama. O vulcão adormecido, eu sei, despertará a qualquer momento e ultrapassará muralhas.
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