Christina M. Herrmann é poeta, webdesigner. Carioca, vive atualmente na Alemanha. Comunidades no orkut: "Café Filosófico das Quatro", "Sociedade dos Pássaros-Poetas" ambas de entrevista e "Orkultural" em parceria com Blocos Online.
Endereço do Blog, reunindo todos os seus sites e comunidades:
http://chrisherrmann.blogspot.com
Coluna 79 - 1ª quinzena de março
(atualizações: todo dia 8 e 24 de cada mês)
HOMENAGENS & CRÔNICAS POÉTICO-FILOSÓFICAS
HOMENAGENS
DIA INTERNACIONAL DA MULHER - 8 DE MARÇO - A ORKULTURAL HOMENAGEIA A TODAS AS MULHERES QUE FAZEM DO NOSSO PLANETA UM LUGAR MAIS HUMANO. EM NOSSA CRÔNICA POÉTICO-FILOSÓFICA DA QUINZENA, ROSE RUAS FALA DE PASSAGENS INTRIGANTES DE SUA INFÂNCIA.
Crônicas poético-filosóficas
Nesta série trazemos as melhores crônicas poético-filosóficas extraídas das comunidades "Orkultural ", "Café Filosófico das Quatro" e
"Sociedade dos Pássaros-Poeta".
As pedras estão por aí...
Rose Ruas
Aos doze anos, comecei ler uma enciclopédia chamada Trópico. Meu pai, um militar muito enérgico, quando a mãe reclamava, colocava a mim e aos meus irmãos "de castigo" e com o livrão no colo, lógico!
Depois, fazia umas perguntinhas, pra ver se o tempo, tinha sido bem aproveitado... e assim, li a história de Sísifo, aquele pobre coitado que empurrava uma pedra enorme, até o alto da montanha e quando chegava no topo, ela caia e ele recomeçava, exaustivamente, tudo outra vez.
Li "n" vezes aquela história, ela exercícia um enorme fascínio sobre mim que inconformada, achava um absurdo a situação e vivia fazendo perguntas que pai e mãe não sabiam ou não queriam explicar.
Um super esforço e à toa! Que coisa mais sem significado!
Ao longo dos anos, fui percebendo as pedras, no caminho... no meu, no seu, de todo mundo e um dia, senti que tinha virado uma "Sísifa" também!
Pedra pra lá... pedra pra cá
E sobe e desce e desce e sobe
E vai e volta e volta e vai
Choro, angústia, lamentação
Muita busca, até a compreensão
Agora sei: há que se contornar algumas delas, sentar em cima de outras, para comprendê-las melhor... Algumas iremos carregar – sim – não como fardos, mas com uma visão de aprendizagem, limites e compaixão... outras, iremos "até" amar para sempre, mesmo que tivermos que seguir em frente, deixando-as onde estão.
Hoje, entendo o castigo e as intenções de Sísifo.
Hoje, compreendo minhas antigas intenções e crenças inadequadas.
Aprendi a refletir sobre pedras no caminho... escolhas e responsabilidades.
As pedras estão por aí
E as montanhas também
Somos parte da mesma paisagem
E podemos decidir – essa convivência.
Uai Uai – quem trupica também cai
Trupiquei no pé da mãe
E fui parar no pé do pai!
***
No tópico ´Reflexão & Poesia´ do Café Filosófico Das Quatro, o médico Liberato Ferreira Caboclo faz uma homenagem póstuma a Abgar Renault, poeta e um de seus antigos professores do colégio Pedro II no Rio de Janeiro.
ABGAR RENAULT – POETA
por Liberato Ferreira Caboclo
Entre tantos outros pecados, o Brasil prima por desprezar os seus valores culturais. Em sintonia com o capitalismo selvagem, que grassa no país, toda a atenção dos veículos de comunicação se restringe a uns poucos, esquecendo-se, completamente, da maioria. Artistas, atletas, escritores e poetas não escapam desta sina. A consagração de poucos se deve à necessidade da concentração do capital nas mãos de alguns empresários e editores. Bandeira é excelente? Não há duvida. Drumonnd é ótimo? Ninguém questiona Mas todas as poesias de Bandeira e de Drumonnd, por melhores que sejam, superam todas as outras ou pelo menos uma poesia, de outros poetas? É claro que não! Conheci a poesia de Abgar Renault, porque fui aluno do Colégio Pedro II, de 1949 a 1958 e procuro cultuar todos os antigos professores daquele educandário. Abgar de Castro Araújo Renault nasceu em Barbacena em 15 de abril de 1901 e faleceu no Rio de Janeiro em 31 de dezembro de 1995. Foi professor catedrático de inglês no Imperial Colégio, dentre outras atividades educacionais.Abaixo transcrevo uma poesia, onde, Abgar mostra toda a sua criatividade poética e erudição.
Balada da irremediável tristeza
Eu hoje estou inabitável.../Não sei por quê, / levantei com o pé esquerdo/o meu primeiro cigarro amargou / como uma colherada de fel; / a tristeza de vários corações bem tristes / veio, sem quê, nem por quê, / encher meu coração vazio...vazio... Eu hoje estou inabitável... / A vida está doendo...doendo... / A vida está toda atrapalhada... / Estou sozinho numa estrada / fazendo a pé um raid impossível. / Ah! se eu pudesse me embebedar / e cambalear...cambalear... / cair, /acordar desta tristeza / que ninguém, ninguém sabe... / Todo mundo vai rir destes meus versos, / mas jurarei por Deus, se for preciso: / eu hoje estou inabitável...
Dificilmente alguém, numa prosa extensa, poderia abranger conceitos filosóficos da maior relevância e complexidade, de um modo claro e preciso, numa síntese singela, como só a poesia permite. Embora não tenha tido acesso à formação filosófica de Abgar Renault, na minha opinião, a poesia acima descrita, torna extremamente fácil explicar os conceitos do Existencialismo de Heidegger, da forma como foram expostos na sua grande obra "O Ser e o Tempo" (Sein und Zeit ).
Eu hoje estou inabitável ! O "EU", gramaticalmente é apenas, o designativo do sujeito executando uma ação. É um pronome. Embora referido como pessoal, o pronome nada tem a ver com o individuo que fala . Ele não é o "ENTE" de Heidegger, nem tampouco é o "SER". É apenas, e tão somente, pessoa, se, metaforicamente, conservarmos a origem do termo pessoa (personna). Personna deriva de personagem, representado pelo ator ou atriz, com os disfarces e máscaras, que a peça exige. O "EU", pronome pessoal é o personagem desta peça chamada existência, onde, cada um representa um papel, independente do "ENTE" que se encontra contido no "SER". Na poesia, o "Eu" é o personagem falando em nome do autor, numa peça por ele concebida ou, numa situação por ele vivenciada. Abgar diz – Eu hoje estou inabitável. O hoje não é época. É o tempo (Zeit). Não é o hoje em dia, ou seja, nos tempos atuais. Hoje é agora, neste momento. O Eu que se julga inabitável pertence a alguém que habita um Ser em um determinado – Hoje – (O Ser e o Tempo). Na filosofia ocidental, porém, atribuiu-se uma transcendentalidade ao Eu, além da sua função gramatical.
Aristóteles conceitua o "Eu" como a consciência que o individuo tem de si mesmo (o Ser de Heidegger). Este Eu na atuação de hoje é a revelação da inteligência causal que promove uma ação. O Eu de Abgar é inteligente. Ele sabe que o Eu de hoje, não é o Ente que habita o Ser do poeta. Mais do que isso, ele sabe, inteligentemente, as causas deste Eu ter se tornado inabitável. Os jovens de hoje usam, filosoficamente, o termo causar na conceituação Aristotélica. Dizem – só fomos à balada para causar . Em outras palavras, agitam a festa, como se não fossem o Ente que neles habitam. É um Eu, inteligente causal. Na filosofia escolástica (Agostinho, Boécio, Tomás de Aquino), o Eu é a substância intelectual do Ser (humano) e suas duas faces: a dignidade inviolável da pessoa e a responsabilidade moral da sua liberdade. Descartes rompe com a doutrina escolástica e considera o “EU” como alma, a coisa pensante do ser (humano), totalmente distinta do corpo. O Eu é o cogitans, a consciência de si mesmo.O neurologista português Antonio Damásio, radicado nos Estados Unidos, acreditou ter destruído a máxima cartesiana – cogito ergo sum, mal traduzido por – penso, logo existo. Na verdade, cogito é ter consciência de si mesmo, ou seja, do seu corpo como coisa extensa. O Eu de Descartes é o res cogitans e o corpo é a res extensa. Res cogitans é a expressão da consciência de si mesmo. Nada tem a ver com a sensação do corpo. Descartes foi, na realidade, o precursor da redução eidética de Husserl, ou seja, o cogito é a essência da res extensa.É a intuição. O Eu, cogito, não depende dos sentidos, nem da imaginação, mas apenas e tão somente da inteligência. Locke definiu o Eu, como coisa pensante e consciente e que distingue as sensações. Hume vê no Eu, apenas uma ilusão (o meu papel) fruto de permanente semelhança e causalidade decorrente da memória que unifica o fluxo da consciência. Kant germanizou o termo latino apperceptio.
Apperceptio seria a sensação registrada e analisada pelo Eu cognosente. Kant, portanto, não estabelece uma relação temporal de prioridade ou relevância para a sensação. Fechar os olhos ante um flash ou retirar o membro para evitar a dor são sensações, não obrigatoriamente, significativas da existência de um Eu cognosente. Para Hegel, o Eu é a auto manifestação e a auto realização do Espírito, através da cultura e da história. No existencialismo de Heidegger, o Ser é a presença do homem no seu Dasein. O Ser é a revelação da existência do estar ali no Dasein, o espaço físico, cultural, social, histórico. O Ser é, portanto, uma função do tempo. O Ser é que o Eu reconhece como existência e tem os atributos que o Dasein lhe atribui. Dentro do ser habita o Ente. O Ente é o que o ser é, independente da situação ocasionais (tempo) O Ente é a singularidade do ser. O Ser não é estático. E a estrutura da transcendência do Ser é a abertura. O escutar é o estar aberto, existindo com o outro (mitsein). O falar é o existir no mundo, para além do Dasein.O projetar-se do Dasein para o mundo depende do vestehem (compreender). Esta abertura do Dasein pra o mundo é o Wettofgentatf. “Se pudesse, eu me embebedaria e sairia cambaleando”. Não o faz porque perderia o seu Dasein. A abertura do Dasein para o mundo sempre considera o passado do ente no Dasein (Befindechbert). Este ente verdadeiro se compõe do Stimmung (reação emocional em que o Dasein se encontra) – todas as tristezas ocuparam o meu coração. Pode estar em sintonia ou distonia, como no caso do poeta. Compõe-se também de Getimonfsein (estado da vibração afetiva).O ente tem sempre o cuidado (sorge) com o núcleo da preocupação e ocupação (Besorge) e a sua condição de ser para os outros (fürsorge). Neste aspecto , o homem é um ser para a morte, que deve ser enfrentada com coragem e resolução (entschlossenheit ). Sendo um ser para a morte, o ente abre o seu Dasein, para o mundo, sempre com atitudes destrutivas.
P.S. Usamos o conceito de Husserl para eidético, ou seja, a intuição do que pode ser a partir da percepção do fenômeno. Desprezamos o conceito de Platão, para quem o “eidos” era a essência que a priori definia um individuo como cidadão ou escravo. A depressão, filosoficamente, conforme nos ensina Abgar é a ruptura do Ente com o seu Dasein. O Eu que fala sobre essa ruptura, não é o Ente é apenas, um Eu momentâneo, mas inteligente.
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