Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em cultura clássica.

Mito em contexto - Coluna 29
(Próxima: 05/8)


Alexandre Magno, filho dos deuses

Em 356 a.C. Olímpia era rainha da Macedônia e deu à luz seu primeiro filho. Na noite em que o menino foi concebido, um relâmpago atingiu a mãe no ventre. O rei Filipe encontrou a esposa dormindo ao lado de uma serpente. Não sabemos se os fatos são verdadeiros, mas o menino era Alexandre, o homem que, enquanto vivo, já era lendário.

Na época em que Alexandre nasceu, as cidades-estado da Grécia e o Império Persa há muito brigavam. Apesar das vitórias, a Grécia ainda não era uma nação unida. No auge do poder, Filipe fundou a Liga de Corinto e unificou a maioria das cidades gregas, com exceção de Esparta. Seu sonho era unir gregos e macedônios contra o Império Persa, mas não deu tempo de realizá-lo, pois foi apunhalado em uma festa.

O filho de 20 anos subiu ao trono em meio a intrigas. Provou que era um herdeiro à altura e eliminou os adversários do reino. Antes de completar 30 anos, Alexandre era o maior conquistador da época, e um dos maiores até hoje. Foi senhor de um grande império e responsável por uma campanha militar espetacular. Descrições e relatos dizem que era belo e não passava de um metro e meio de altura, o que não impediu que fosse conhecido como Alexandre, o Grande.

Além de militar e governante, o Grande Alexandre era amante das artes e ciências. Educado pelo filósofo Aristóteles, aprendeu sobre política, metafísica, ética, lógica e literatura. Dizem que dormia com sua espada e também com um livro embaixo do travesseiro, provavelmente a Ilíada . Sua mãe contava que a mítica Guerra de Tróia era a origem da rivalidade entre gregos e persas, e até que Alexandre descendia do herói Aquiles.

Alexandre foi heroicamente para a Ásia Menor com seu exército e atacou os persas. Depois da vitória, quis dominar o mundo. No Egito, foi recebido como herdeiro dos faraós. Alguns contam que os sacerdotes do Templo de Amon o saudaram como “filho de Zeus”. Essas palavras ajudaram na lenda de Alexandre como filho dos deuses e não um simples mortal. O fato não era tão extraordinário na época, quando o caráter divino era praticamente um “pré-requisito” dos monarcas orientais. Alexandre viveu em um mundo onde a imagem do herói estava presente. Além do mais, o poder do mito era uma boa estratégia de dominação.

Querendo formar um império universal, Alexandre ganhava o respeito dos novos súditos conciliando a tradição helênica com a cultura local. Muitos historiadores concluíram que o maior motivo da orientalização nessa época era devido ao desejo de não dispersar seus domínios. As conseqüências foram benéficas e deram origem à época “helenística”. Alexandre fundou cidades, estabeleceu rotas comerciais e propagou a cultura clássica. Muitas metrópoles floresceram com a migração dos intelectuais gregos para o Oriente.

Os projetos de Alexandre causaram raiva entre os macedônios e havia tensão na corte. Parece que ele bebia demais e via inimigos em todo lugar. Com vários domínios, ele queria mais. Foi para a Índia, queria a China... Alexandre morreu na Babilônia, em 323 a.C. Para uns, a causa foi a bebida, para outros, foi envenenado, ou vítima de uma doença. Ainda não tinha 33 anos, e não deixou herdeiro. Seus domínios foram divididos entre os oficiais e o que sobrou do império foi subjugado depois pelos romanos. Em meio a lutas e traições, o sonho de um império universal chegou ao fim.

Até hoje Alexandre parece uma figura mitológica e não uma pessoa histórica, de tanto que sua vida está envolta em mistério. Sua história fascinou a imaginação popular e deu origem a um universo de lendas fabulosas. Segundo relatos, até seu cavalo Bucéfalo foi enterrado como rei. O mito é tão forte que chegou até nós, que ainda interpretamos Alexandre no cinema e buscamos fatos reais e imaginários da sua vida espetacular.

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