Mito em contexto - Coluna 30
(Próxima: 20/8)
O desmedido Ícaro (*)
Todas as culturas destacam o céu como um lugar especial. Lá estão representados os heróis e os deuses, as crenças, as esperanças e os temores. O homem sempre buscou um meio de atingir o céu, não somente o céu mítico, com seus paraísos e delícias, mas também o lugar onde ficam as constelações, a lua e os planetas. Um exemplo mítico do desejo de alcançar o céu está na história de Ícaro e seu pai Dédalo - um arquiteto que vivia exilado em Creta por ter sido responsável por uma morte em Atenas.
O rei de Creta, Minos, devia sacrificar um touro ao deus Poseidon, mas ficou com o animal para si. Furioso, Poseidon fez com que a esposa de Minos, Pasífae, ficasse apaixonada pelo touro. A rainha procurou Dédalo, que fabricou uma novilha de bronze para enganar o animal. Pasífae entrou no simulacro e consumou sua paixão, concebendo depois o Minotauro, monstro metade touro, metade homem.
A pedido do rei, Dédalo construiu o Labirinto, um emaranhado de corredores e quartos de onde só ele conseguiria sair. Nesse lugar, Minos colocou o monstro, que era alimentado com carne humana. Minos combinou em se retirar de uma luta contra Atenas se fosse enviado um tributo a Creta: de 9 em 9 anos, 7 moças e 7 rapazes serviriam de alimento ao Minotauro.
Certa vez, Teseu, filho do rei de Atenas, seguiu com as vítimas. Em Creta, Teseu foi ajudado pela filha de Minos, Ariadne. Com um fio condutor dado pela princesa, Teseu soube como sair dos caminhos tortuosos do labirinto após matar o monstro. Depois fugiu e levou Ariadne.
Minos descontou sua raiva em Dédalo e o prendeu junto com o filho Ícaro no labirinto. Dédalo fabricou asas para si e para o filho para que pudessem sair dali voando. Prendeu as asas com cera e recomendou ao filho que não voasse muito alto, senão o sol derreteria a cera. Mas não podia voar muito baixo, pois a umidade tornaria as asas pesadas.
Ícaro não resistiu ao impulso de voar alto no céu e subiu muito mais que deveria. A cera se fundiu e as penas caíram junto com ele no mar Egeu, que passou a ser chamado Mar de Ícaro.
O limite, o centro, o meio-termo são recomendações sensatas de quem sabe as dificuldades do caminho a ser seguido. A recomendação de Hélio ao filho Faetonte, quando guiou o Carro do Sol, foi para voar no meio. “In medio est vistus”, a virtude está no meio, é um provérbio latino que recomenda a prudência, o nada em excesso, em vez do descomedimento. Vários mitos mostram que quem age contra essa virtude é castigado.
Faetonte não ouviu o pai e foi castigado por Zeus, morreu nas chamas que provocara. Ícaro também não foi prudente, ultrapassou a medida, o limite permissível, e foi castigado. Quem sabe foram avisos míticos para a ambição humana não transgredir as leis divinas... Será o céu somente para os deuses?
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(*) Poema da autora sobre Ícaro clique aqui
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