Domingo é phoda. Com ph mesmo, porque esse dia tirou doutorado, mestrado, defendeu tese e ganhou: é o dia mais chato da semana.
Se você vai à missa, se arrepende. Trocaram o padre, só tinha lugar na frente, ele te encara o tempo todo, você tá de ressaca exalando cheiro de vômito a quilômetros de distância, ele só te sacando, dá o sermão com o dedo no seu nariz. Se você resolve não ir à missa, os demônios ficam soltos pela casa, aprontando todas. Todo mundo fica receptivo pra presença dos vermelhinhos.
Gabi acordou antes de mim. Levantei com aquele tigre babando na minha boca e ela já estava pronta: Vamos pra banca de jornal? Ei, to com fome!
Nem aí, vou pro banheiro. Afinal, é chegado o momento sagrado do cocô matinal. Sento, ele aponta. A criaturinha doce grita lá da sala: TELEFONE PRA VOCÊ!
O telefone só toca na sua casa quando: finalmente você consegue ir por cima; você está tirando uma assadeira quente do forno com um pano-de-prato fininho; você está escrevendo um texto idiota como este aqui; você está no banheiro; você está dormindo; o filme está na última cena e ele está passando no repeteco da HBO2; você está com as mãos ocupadas pensando no Robert Redford ou, pior, no Alan Dellon.
Já vou, Gabi, to escovando os dentes. Puxo a descarga, saio do banheiro e vejo o doce olhar de criança nada burra tirando uma da minha cara: Escovando os dentes, é?
Pronto! Bom dia, Inferno. Por que não fui à missa?
Gabi, quer um Nescau? Come teu pão de queijo amanhecido, abre o pacote de salgadinho de chulé, enfim: te vira, que ainda tô dormindo.
Nada. Xinguei todo mundo de madrugada e os capetinhas se vingaram comendo todas as guloseimas da menina.
Tem jeito não. Agora o jeito é me trocar e ir à banca, ao mercado, à padaria... Maldito domingo!
Cabrummm!!!
Ave Maria, cheia de Graça...

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