Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em cultura clássica.

Mito em contexto - Coluna 32
(Próxima: 20/9)


O sacrifício de Ifigênia

Ifigênia era descendente de Zeus. Clitemnestra, sua mãe, era filha de Leda com o deus. Clitemnestra ainda era casada com Tântalos II quando Agamêmnon o matou e ao filho do casal, depois a forçou a se casar com ele. Entre os filhos de Agamêmnon e Clitemnestra estavam Ifigênia, Electra, e Orestes. Clitemnestra era irmã de Helena, a bela mulher que foi motivo da Guerra de Tróia.

Helena tinha muitos pretendentes. O pai mortal, Tíndaro, decidiu respeitar a decisão dela na escolha do noivo. E caso ele fosse atacado, todos os outros deveriam socorrê-lo. Quando o troiano Páris raptou Helena, o escolhido Menelau pediu ao irmão e rei de Micenas, Agamêmnon, a formação de um exército para invadir Tróia e recuperar a esposa. Os demais reis ligados ao juramento também foram convocados para o ataque.

Durante uma caçada antes da viagem, Agamêmnon matou uma corça consagrada à Ártemis, ou teria dito que nem ela o faria melhor. A deusa impediu que os ventos soprassem e a frota parou em Áulis. O adivinho Calcas revelou que Ártemis exigia o sacrifício da filha mais velha de Agamêmnon para que conseguissem embarcar.

O rei micênico viveu um dilema entre manter a filha viva e seu dever enquanto governante. Os intérpretes falavam a vontade dos deuses, e os interesses coletivos eram mais importantes que os individuais. O coletivo desejava o sacrifício de Ifigênia. O rei concordou com a situação após ser convencido por Menelau e Ulisses.

Agamêmnon mandou Clitemnestra enviar a filha até Áulis sob o falso pretexto de casamento com o herói Aquiles. Clitemnestra descobriu as intenções do marido ao chegar. Ela tentou desfazer a situação, mas a própria filha se ofereceu ao sacrifício.

Ifigênia foi salva pela deusa Ártemis no último instante e se tornou sua sacerdotisa em Táuris. A deusa colocou uma corça em seu lugar, mas ninguém soube. O fato de oferecer o primogênito em sacrifício era aceito entre os antigos, mas a substituição também era fato comum no sacrifício mítico. Assim foi com o Abraão bíblico e seu filho Isaac.

Acreditando que a filha morreu por culpa do pai, Clitemnestra se vingou ao tomar Egisto como amante, além de ter conspirado contra o marido durante sua longa ausência nos dez anos da Guerra de Tróia. Quando retornou, Agamêmnon foi assassinado por Clitemnestra e Egisto em seu palácio. A irmã de Páris, Cassandra, a quem ele trouxe como escrava, também foi assassinada.

Electra induziu o irmão Orestes a assassinar a mãe para vingar a morte do pai. E ele o fez. Mas após matar a mãe e o amante, Orestes foi perseguido pelas Erínias, vingadoras do sangue parental, e se refugiou no santuário de Apolo. Orestes foi julgado pelo tribunal ateniense, mas não se livrou da Erínias internas. Como expiação da culpa, foi a Táuris pegar a estátua de Ártemis de volta para Atenas.

Em Táuris, Orestes foi preso e condenado a ser sacrificado à deusa, mas Ifigênia, sacerdotisa do templo, reconheceu o irmão e fugiu com ele. Levaram a estátua para Atenas, e Ifigênia se tornou sacerdotisa de Ártemis em outro santuário. A história de Ifigênia foi contada por Eurípides nas tragédias Ifigênia em Áulis e Ifigênia em Táuris.


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