COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ

Nº 48 - 6/9/2008
(próxima: 21/9)

          
(atenção: novo e-mail)

Duas Vertentes

             A indiferença está tão grande acrescida sempre da violência em todos os setores da vida que nos perguntamos o porquê  de muitas comemorações hipócritas ou palavras doces que rodeiam as pessoas entre si. A verdade dificilmente se apresenta com suas cores naturais e a singeleza com que vemos a dor e os sofrimentos de outras pessoas é simplesmente patética.
             Agora que a tecnologia tomou conta de tudo e deveria ser um ponto positivo e atuante,  sentimos até virtualmente esse cruel egocentrismo, mesmo com as delicadezas e as flores que de instante a instante se jogam em grupos e nos e-mails. Isso é fácil quando não precisamos nos esforçar para dar ao outro o carinho e aconchego que deveria ser tão simples no ser humano.
             Adoro a informática, mas lamento que ela esteja servindo na maioria das vezes para acirrar o egoísmo, a centralização única nos próprios trabalhos, esquecendo que é dando que se recebe e incentivando na criança e no jovem  a insensibilidade quando se trata de seu próximo.
             Ao mesmo tempo sou verdadeiramente fascinada pela tecnologia que em poucos segundos nos leva a países e continentes distantes e nos dá chances incríveis em todos os tipos de assuntos, estudos ou pesquisas. Um texto que preparávamos  numa longa vigília, jogando papéis fora e tendo um trabalho ilimitado atualmente é um passe de mágica, fascínio que nos encanta e economiza horas e horas de trabalho.
             A internet então nem se fala, com toda a sedução de explorar o universo no exato momento que desejamos.  E a fatal indiferença me parece mais evidente principalmente pela assiduidade com que nos deparamos com misérias e dores alheias aumentadas a cada dia que passa, lamentavelmente.
             Sinto que muitas pessoas sentem uma solidão gerada talvez pelo frio contato do computador sem o efusivo aperto de mãos, olhos nos olhos e o aquecimento do abraço confortador. Isso porque a maioria se isola apenas num mundo frio e mesmo assim, sente a distância até das palavras porque o e-mail é em sua maioria algo frio e impessoal.
             Devemos, no entanto, valorizar o que o computador e a internet podem nos trazer de felicidade. Há algum tempo encontrei uma amiga de longos anos. Nós nos distanciamos pela própria vida e porque seguimos caminhos diferentes, ela foi morar e casou na Alemanha. Quando me escreveu depois de me localizar na Usina de letras a alegria transbordou e prometemos que jamais deixaríamos a distância se interpor entre nós e nossa terna amizade fraternal. Vania é minha xará, amiga, confidente, voltamos a nos encontrar várias vezes e estamos até fazendo trabalho juntas. Nossas famílias se conhecem bem. Foi realmente uma alegria.
             A vida tem sempre duas vertentes, por isso nos momentos atuais em que estamos presenciando os acontecimentos brasileiros que nos trazem tristeza e perplexidade, precisamos ter esperanças  acompanhando  cada passo do que está acontecendo em nosso país e sabendo discernir para não errar na hora crucial do voto consciente.
             Duas vertentes também para nós, utilizando a proximidade da tecnologia para não transformá-la em um abismo de impassibilidade, mas aproveitando para nos unir, mesmo porque a vida é infinitamente curta. Procurarei transformar a minha reflexão num conteúdo de verdade para mim mesma.

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