"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO

Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG

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Coluna nº 46, de 15/7/2008
(próxima: 15/8)

1. Um copo de água gasosa. Olho as bolinhas. Pego o "tempo" e leio.

2. INTERVALER
    Escrever é conjugar intervalos.
    Escrevo porque caio.
     - Viviane Mosé, página 21 do livro "toda palavra", Editora Récord. As orelhas são admirável poeta Chacal. Este livro me chegou às mãos através do especial e grande amigo destes caminhos Antonio Fantinato (RJ), com este recado: "Mais uma vez leio com agrado o Zanoto, agora em feliz artigo 'Comunhão com o Passado'. Você provou, pelo bom gosto, competência e atualidade, uma evidência: há muito deixou de existir interior do país, tudo hoje é centro" (Rio, 20/02/2008).

3. Perguntou Marcos Rey: "As ruas têm alma?" Eu respondo que sim. Em Varginha, a rua Presidente Antonio Carlos tem uma alma abarrotada de lembranças. Uma alma cheia de amigos, entupida de festas e de alegria. A alma da rua Alberto Cabre é meio brincalhona. É herdeira de sentimentos, de saudades e pequenos folguedos. A rua Alberto Cabre tem pra mim algum significado. A rua Delfim Moreira também. Registro na rua Domingos Ribeiro de Resende a minha vestimenta de marinheiro, que levei para o bairro Engenho Novo, no Rio de Janeiro. Você, rua Álvaro Costa, foi como alguém que me ouviu quando falei. Sei que você me guarda na lembrança quando formei no ginásio, fiz o Tiro de Guerra e me casei. Trrago você na lembrança e você me leva na lembrança. Não quero falar de uma rua antiga e feia, mas que deixou no meu coração punhados de recordações. Os carros transpassam-me na avenida Rui Barbosa. Recordo encontros, risadas, histórias, tédio, ciúmes, venturas e sonhos na avenida Rio Branco. No entanto, escueci q rua onde nasci.

4. Ainda a propósito das ruas, cito Cora Coralina: "Andei pelos caminhos da Vida / Caminhei pelas ruas do Destino / procurando meu signo. / Bati na porta da Fortuna, / mandou dizer que não estava / (...) Procurei a casa da Felicidade, / a vizinha da frente me informou / que ela tinha se mudado"... Eu, por exemplo, já desisti de bater na porta da Fortuna. Nnca a encontro ou fico sabendo sempre que ela se mudou, ou viajou.

5. Nivaldo hoje falou sobre Kafka. O Simões da CEF comentou Câmara Cascudo. Fernando Prince disse coisas de Nietzsche. P. H. Xavier solicitou a publicação do texto "Uma língua e dois povos", de João Barcellos (SP/SP). Rogério mostrou-me "Lidar com letras", de Benedito Pires Correia - poesia. E o céu está hoje limpinho.

6. “Do horizonte uma luz se veste de ouro / a roda, a mão, o leque enviesado / e o travejo encardido, acostumado / ao sol, à chuva, ao vento, ao tempo, ao choro // da água que aflui em canto azul da fonte / de volta à argila, à cor do massapê”... – Luciano Maia, in Nau Capitânia, apresentação: Geraldo Mello Mourão.

7. Li um ótimo soneto de Rainer Maria Rilke, poeta alemão, autor de "Elegias de Duíno", prferido de Krug Pilard, intitulado "Dançar a laranja", numa tradução de Décio Pignatari (poeta, tradutor e insaísta participante do grupo concretista), com excelente ilustração de Sérgio Romagnolo, artista plástico. "... Danem a laranja. Sempre é lembrado / que em si mesma se funde, de receio / do seu próprio dulçor. Violado o seio, / converte-se em vocês, seio violado..." (Rilke).

8. Hermético
   explodo em teu corpo
   rosáceas de beijo.
   Selo com os lábios
   as fendas e relevos
   Do corpo fechado
   nada resgata outro amor
   ainda que lírico
   ainda que tímido
   ou invisível.
   O dela é por inteiro
  explícito.
       - Vera Macedo (BH) in "Metamorfose de um príncipe"

9. A noite chegou sem estrelas, totalmente escura. A lua apagada.

10. Concordo plenamente com Lúcio Cardoso que disse que é trágico pensar que uma pessoa não existe mais para nós – que conversávamos tanto, fomos a muitos lugares, relembramos várias coisas, questionamos, mencionamos pensadores e saboreamos juntos tantos pratos saborosos. Nesta altura, cito dois nomes de amigos que não existem mais: Alcebíades Viana de Paula e Edson Davi. "A ausência é como nos despojassem de uma parte de nossas possibilidades".

11. Edward Wilson, o "profeta da sociobiologia, da biologia e da biodiversidade", responde a pergunta de John Glassie, da "Salon": – JG: "Como será a vida daqui a cem anos? " – EW: "Se as tendências atuais se mantiverem, o resultado será o empobrecimento irreversível das espécies. No ritmo em que estamos indo hoje, perderemos metade dos animais e dos vegetais da Terra até o final do século.

12 .“Na esquina sumindo / Os homens. Logo outros homens / Sumindo. Na esquina...” - Alexei Bueno

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