COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Delegada na área Literária (Secretaria Municipal da Cultura).

1ª quinzena de maio - Coluna 88
(Próxima coluna: 18/5)


Na plataforma de embarque


Triste, a música que toca. Toada de saudade de um tempo de felicidade que não existiu. Não seguro. Não quero segurar. Deixo que a lágrima corra solta e pingue sobre meu colo frio. A vista turva anuvia as lembranças pesadas dos últimos anos. Foram momentos intensos: não só alegres; não só tristes. Mesclas, matizes mestiças envoltas em tons ora vibrantes, ora desmaiados. Amei, sim. Amei intensamente, como canto último de cisne. Agora apenas as cinzas. Aguardarei mais um pouco e, quem sabe, outra vez renasça Fênix dessa brasa quase morta, dessa fêmea enterrada, outrora afogueada em cama de paixão e tara.

Chorar é bom: lava a alma, forma um rio imaginário levando, na correnteza desenfreada, desencontros e redemoinhos. Sentimentos misturados: amor, paixão, mágoa. Uma sensação de incapacidade, de derrota, de impotência. Tentativas: quantas, e todas em vão. Por fim, morri. Alma fria, voz calada, tristeza rouca, desencanto enlouquecido, decepção. Mas a vida é mesmo assim: tanta esperança jogada ao chão, tanto amor desperdiçado, tanto cansaço, tanta falta de ar.

Triste, a música que tocou. Triste, mas acabou, como esse amor que agora se finda, mas que deixa a marca no peito, fincada qual adaga enterrada, estaca no coração do vampiro, machucando o âmago, sangrando o amor que jorrou tanto, mas tanto, que secou.

Como dizia a nossa canção: "é sobre-humano amar". Talvez seja desumano desamar...

Triste, a proximidade da partida, o som silencioso do nosso adeus.

Por favor, ao sair, apague a luz e jogue fora a chave do portão. O guarda-chuva é para os dias tristes de chuva fina, de vento morno, de céu cinzento, de solidão; de saudades de dias felizes, de lembranças de dias tristes, de camas quentes no inverno, de lágrimas furtivas no verão. Jogue fora também a mala, que tantas vezes nos guardou em roupas íntimas ou amassadas, em toalhas maculadas, em silêncios cúmplices ou nos gritos de gozo que agasalhou. A tempestade... Se ela surgir, ignore. Apenas não se esqueça, nunca, de tomar muita água e com ela se banhar, de tentar não mais se magoar com essas coisas tolas da vida, como o amor e o bem-querer: como nós em nossas vidas, todas, sem exceção, são efêmeras. Afinal, todos somos passageiros, aguardando as estações da vida. Com licença, bilhete vencido: só valia pra uma viagem.


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