Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 35
(Próxima: 5/11)


Héstia e Vesta, Divindades do Fogo e do Lar

O fogo era considerado sagrado por vários povos na antiguidade. Na mitologia grega há uma história que conta como o titã Prometeu roubou o fogo de Zeus e entregou aos homens. Com esse dom, o homem pôde se aquecer, construir ferramentas, cultivar a terra e cozinhar alimentos. Além disso, o fogo representa a vontade humana por conhecimento.

Devido à importância do fogo, em muitos templos gregos as chamas eram mantidas acesas permanentemente, como no templo de Héstia em Olímpia. Na cidade de Olímpia aconteciam em honra a Zeus os “Jogos Olímpicos”. Durante uma cerimônia, as sacerdotisas de Héstia acendiam o fogo que ficaria aceso durante os jogos. Quem deixasse o fogo se extinguir poderia ser castigado.

Héstia é filha de Crono e Réia, da segunda geração divina. Foi a primeira a ser devorada pelo pai, mas depois foi libertada pelo irmão Zeus. Héstia representa o fogo doméstico da lareira, o centro da casa, que fornece calor, mantém a vida e fortalece a família com o aconchego. O culto ao fogo divino parece ter sido um dos primeiros rituais humanos. Entre estes, o culto do lar marcou a passagem da condição de nômades para sedentários.

Representando o poder purificador do fogo, Héstia não protege apenas o lar individual, mas também a cidade, que é o lar comum, cujo fogo sagrado é conservado com cuidado. Nas vilas gregas, a héstia pública era colocada no pritaneu – palácio da cidade, lugar de reunião dos representantes, das tribos, o centro político da região. Quando um grupo de cidadãos partia para fundar uma nova colônia, levava parte do fogo do pritaneu para acender o lar público da nova cidade.

Em Roma, Héstia identificou-se com Vesta, associada em sua origem a Janus e Tellus, como protetora dos campos semeados. Seu culto foi introduzido por Numa Pompílio, um dos primeiros reis de Roma. As Vestais, suas sacerdotisas virgens, mantinham aceso o fogo sagrado que representava a cidade. Conta a lenda da fundação de Roma que Rea Silvia, uma das Vestais, foi violada pelo deus da guerra e engravidou dos gêmeos Rômulo e Remo, os míticos fundadores da cidade. 

No âmbito da família, todas as casas romanas possuíam um altar de Vesta, que dividia as honras com os Lares e os Penates, também divindades do lar e da pátria. Essas divindades habitavam a casa como espíritos divinizados dos antepassados, cultuados pelos descendentes. Assim, o fogo de Vesta não era um fogo comum, usado para cozinhar e aquecer, mas o fogo sagrado que mantinha os espíritos familiares vivos.

Com o passar do tempo, Héstia e Vesta assumiram a proteção de tudo, como um fogo sagrado místico e espiritual que mantinha a vida de toda a natureza. Recebiam honras e oferendas, mas praticamente não tiveram imagens que as representassem, a não ser como chama viva no lar, na cidade ou no templo.


Arquivos anteriores:
01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34

« Voltar